Considerações clínicas sobre a Fusariose

fusariose

A Fusariose é uma infecção fúngica causada por patógenos oportunistas do gênero Fusarium. São diversas as apresentações clínicas, que variam de acordo com o estado imunológico do paciente.

Veja mais sobre a condição, e como diagnosticar e tratar um paciente com fusariose.

No Brasil, a Fusariose apresenta maior incidência do que a média populacional

A incidência da Fusariose muda de acordo com localização geográfica e com a condição clínica associada. No Brasil, é a principal causa de infecção fúngica invasiva em pacientes pós-transplante de células tronco, e a segunda causa mais comum em pacientes com leucemia mieloide aguda.

Por ser causada por um patógeno oportunista, a incidência é maior em imunocomprometidos (principal fator de risco). Além disso, cerca de 70% dos casos em pacientes imunocomprometidos são disseminados – diferente da infecção em imunocompetentes, que tende a ser localizada e/ou leve.

Considerações clínicas sobre a Fusariose

Como ocorre a Fusariose?

Como citamos, a condição é causada por fungos do gênero Fusarium, patógenos oportunistas que estão amplamente presentes na água e no solo.

Podem ser transmitidos pelo ar (inalação de conídios) ou contato com água ou solo contaminados. Além disso, podem aderir em materiais protéticos, o que facilita sua invasão em procedimentos.

Uma vez em contato com o patógeno, há destruição direta do tecido e angioinvasão. Os fatores de virulência do patógeno auxiliam, como expressão de micotoxinas que suprimem o sistema imunológico (resposta humoral e celular).

O patógeno também pode ser encontrado em plantações (grãos, especialmente milho). Se ingerido em altas quantidades, a presença de micotoxinas pode causar infecção sintomática.

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Indivíduos imunocompetentes conseguem driblar a infecção, e respondem com ativação de neutrófilos e macrófagos, destruindo as hifas. No entanto, em pacientes imunocomprometidos, a resposta é ineficiente.

Mais de 300 espécies de Fusarium já foram identificadas, sendo o Fusarium solani o mais virulento e com maior prevalência no Brasil – corresponde a 50% dos casos de fusariose. Em segundo lugar, o Fusarium oxysporum é responsável por 20% dos casos, sendo o principal causador de onicomicose fusarial.

 

Como identificar um paciente com Fusariose?

A apresentação clínica depende de diversos fatores, como a via de transmissão e o estado imunológico do paciente. O diagnóstico é clínico, e associado à confirmação laboratorial.

Em indivíduos imunocompetentes, a onicomicose e a ceratite são as apresentações clínicas mais comuns – ambas com sintomas clássicos. Outras formas de infecção podem ocorrer, mas são mais raras, incluindo infecções cutâneas leves, sinusite, infecção de queimaduras e feridas.

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Em indivíduos imunocomprometidos, há maior de infecção disseminada ou invasiva. Nesse caso, os sintomas iniciam de forma inespecífica, como febre refratária, e evoluem conforme a condição clínica associada. Pneumonia ocorre em 50% dos casos.

Após a suspeita, é coletada amostra e realizada cultura para identificação do patógeno e confirmação do diagnóstico. Sugere-se que, além da amostra específica (raspagem de unha, córnea, biópsia de pele etc.), a hemocultura seja realizada.

A histopatologia também pode ser realizada, e a presença de leveduras e hifas na mesma amostra é muito sugestivo de fusariose.

hemocultura

Tratamento

O tratamento depende da condição clínica associada e do estado imunológico do paciente. As drogas de escolha são Anfotericina B e Voriconazol. Evitar equinocandinas – não há comprovação terapêutica.

Para indivíduos imunocompetentes, o regime é monoterápico. Como citamos, as apresentações clínicas mais comuns são a onicomicose e a ceratite.

Para ceratite, a melhor opção é Pimaricina oftalmológico (Natacyn®) – 1 gota no olho afetado a cada 1-2 horas por 3-4 dias. Em seguida, aumentar para intervalos maiores, a cada 4 horas, até melhora.

Em caso de onicomicose, esmalte antifúngico pode ajudar, mas não deve ser a primeira opção. Como primeira linha, sugere-se Voriconazol sistêmico – 200 via oral a cada 12 horas, até melhora. Posaconazol e Anfotericina B são alternativas.

Em outras condições clínicas em pacientes imunocompetentes, a primeira opção é anfotericina B complexo lipídico (Abelcet®), na dose de 5 mg/kg via infusão endovenosa contínua até melhora.

Em imunocomprometidos, a associação de drogas é necessária, por no mínimo 14 dias. Como primeira linha, a combinação anfotericina B complexo lipídico + voriconazol é sugerida.

Em pacientes imunocomprometidos, a profilaxia é essencial, pelo risco associado à infecção por Fusarium. Além das medidas gerais (como evitar contato com água contaminada, cautela em uso de lentes de contato etc.), sugere-se o uso de antifúngico sistêmico diante de qualquer suspeita de infecção fúngica. Realizar cultura e manter por pelo menos mais 2 semanas até resultado negativo, por garantia.

Todos os pacientes devem ser reavaliados inicialmente em 2 semanas para avaliar a eficácia terapêutica. Após isso, o intervalo deverá ser baseado na resposta ao tratamento até a melhora completa.

Considerações clínicas sobre a Fusariose

O prognóstico depende do estado imunológico do paciente.

Pacientes imunocompetentes tendem a apresentar doença localizada e prognóstico bom. No entanto, pacientes imunocomprometidos apresentam alta taxa de mortalidade – 60-80%. Na presença de condições subjacentes e/ou imunocomprometimento persistente, a taxa de mortalidade pode chegar a 100%.

A neutropenia persistente e o uso de corticoides impactam negativamente – probabilidade de sobrevivência em 90 dias de zero na presença dos dois fatores e 67% na ausência deles.

paciente hospital fusariose

 

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Referências:

BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Fusariose. https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/fusariose

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