Pacientes com câncer de reto atingem resposta completa com bloqueio de PD-1

cancer de reto PD-1

Um estudo publicado essa semana na The New England Journal of Medicine mostrou excelentes resultados com o uso do Dostarlimabe (um bloqueador de PD-1) como agente único no tratamento de câncer de reto localmente avançado com deficiência de MMR (mismatch repair).

Inibidores de PD-1 e seu uso em câncer

A proteína de morte celular programada (PD-1) está presente em células T. A inibição dessa molécula regula negativamente o sistema imune, revertendo a supressão das células T e resultando em resposta antitumoral.

Alguns medicamentos que têm como alvo a PD-1 são o pembrolizumabe e o nivolumabe, já utilizados no tratamento de diversos tipos de câncer, como de pulmão de não pequenas células, rim, bexiga, cabeça e pescoço, melanoma e linfoma de Hodgkin.

O Dostarlimabe, de nome comercial Jemperli®, é um anticorpo monoclonal contra PD-1. Já falamos sobre esse medicamento em um post anterior, visto que foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para uso em câncer de endométrio em março desse ano. Se você não viu esse artigo, clique aqui.

Esse mês, foi publicado um trabalho na The New England Journal of Medicine que propõe o uso de dostarlimabe em pacientes com câncer de reto localmente avançado e deficiente em proteínas de reparo.

cancer de reto PD-1

Bloqueio de PD-1 em câncer de reto com MMR+

O objetivo do estudo clínico de fase 2 foi avaliar se o uso de dostarlimabe seria eficaz no tratamento de câncer de reto na presença de mutações em genes de reparo / instabilidade de microssatélites.

O medicamento foi administrado a cada 3 semanas por 6 meses em pacientes com adenocarcinoma retal de estágio II ou III e deficiência de proteínas de reparo. O tratamento foi seguido por quimio e radioterapia padrão, e cirurgia. Aqueles pacientes que tiveram uma resposta clínica completa após a conclusão da terapia com dostarlimabe prosseguiriam sem quimiorradioterapia e cirurgia.

Os desfechos primários avaliados foram resposta clínica completa sustentada 12 meses após a conclusão da terapia, resposta patológica completa e resposta global à terapia neoadjuvante com dostarlimabe.

O estudo iniciou em novembro de 2019 e 12 pacientes completaram o tratamento e foram acompanhados por pelo menos 6 meses. Os pacientes (todos) tiveram resposta clínica completa, sem evidência de tumor nos exames de imagem, avaliação endoscópica, toque retal ou biópsia.

Os autores relatam que até o momento da descrição dos dados, nenhum paciente havia recebido os tratamentos posteriores (quimio + radioterapia ou cirurgia), e nenhum caso de progressão ou recorrência havia sido relatado durante o seguimento (intervalo de 6 a 25 meses). Ainda, nenhum evento adverso de grau 3 ou superior havia sido relatado.

Algumas limitações ainda precisam ser pontuadas.

Um editorial foi publicado na mesma revista sobre este artigo, e levanta questionamentos importantes.

O desfecho primário avaliado foi resposta clínica completa, um argumento pouco robusto para avaliar o controle do câncer a longo prazo. É evidente que os pacientes que têm uma resposta clínica completa após quimioterapia e radioterapia têm um prognóstico melhor do que aqueles que não têm, mas a progressão ocorre em 20 a 30% desses pacientes quando o câncer é tratado de forma não cirúrgica.

Além disso, por ser um estudo pequeno (n=12), ainda não é possível determinar se os dados são generalizáveis para outras populações de pacientes, com maior heterogeneidade amostral.

O estudo segue em andamento, com previsão para recrutar cerca de 30 pacientes. Por ser um estudo de fase 2 não randomizado, o objetivo primário é a investigação da eficácia do tratamento. Um acompanhamento mais longo, bem como uma análise mais aprofundada, ainda se tornam necessárias.

 

Para saber mais sobre o estudo clínico, acesse o identificador NCT04165772 na plataforma Clinical Trials, o link disponível nas referências ao fim desse artigo, ou clique aqui.

 

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Referências:

Andrea Cercek, M.D., Melissa Lumish, M.D., Jenna Sinopoli, N.P., Jill Weiss, B.A., Jinru Shia, M.D., Michelle Lamendola-Essel, D.H.Sc., Imane H. El Dika, M.D., Neil Segal, M.D., Marina Shcherba, M.D., Ryan Sugarman, M.D., Ph.D., Zsofia Stadler, M.D., Rona Yaeger, M.D., et al. PD-1 Blockade in Mismatch Repair–Deficient, Locally Advanced Rectal Cancer. N Engl J Med 2022; 386:2363-2376. June 23, 2022. DOI: 10.1056/NEJMoa2201445

Hanna K. Sanoff, M.D., M.P.H. Improving Treatment Approaches for Rectal Cancer. N Engl J Med 2022; 386:2425-2426. June 23, 2022. DOI: 10.1056/NEJMe2204282

ClinicalTrials.gov Identifier NCT04165772. Study of Induction PD-1 Blockade in Subjects With Locally Advanced Mismatch Repair Deficient Solid Tumors.

 

 

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