Cólera: caso autóctone é identificado no Brasil; OMS aprova vacina simplificada

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Na última sexta-feira foi divulgada uma nota técnica sobre a detecção de um caso autóctone de cólera no Brasil. O patógeno Vibrio cholerae O1 foi identificado em um paciente de 60 anos na Bahia.

Segundo o Ministério da Saúde, trata-se de um caso isolado, e considerando o tempo de transmissão da cólera, o paciente não transmite mais o agente etiológico.

Além disso, em vista do aumento do número de casos em nível mundial, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou uma versão simplificada da vacina contra a cólera – a Euvichol-S®.

Brasil estava sem casos autóctones desde 2006

A Cólera é uma doença infecciosa causada pela enterotoxina da bactéria Vibrio Cholerae, transmitida pelo contato com água e alimentos contaminados.

É uma condição prevalente em regiões mais pobres, com deficiência em saneamento básico. Atualmente, na Europa e em regiões dos Estados Unidos é virtualmente inexistente, e 90% dos casos são restritos a África.

No Brasil, o último caso autóctone havia sido relatado em 2005, e desde 2006 apenas 4 outros casos foram relatados, todos de origem internacional (Angola, República Dominicana, Moçambique e Índia).

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Como ocorre a infecção por V. cholerae?

O Vibrio cholerae é bastonete gram-negativo em formato de vírgula (vibrião) de aproximadamente 1-2 micrômetros, com um flagelo locomotor terminal. Existem mais de 200 sorogrupos, mas poucos são capazes de produzir a enterotoxina. Os principais são V. cholerae O1 (biotipos “clássico” e “El Tor”) e o V. cholerae O139.

Após a ingestão da bactéria, o patógeno se adere na região do intestino proximal (duodeno e jejuno), se multiplicando e liberando a enterotoxina.

Há duas porções da toxina: A (interna) e B(externa). A subunidade “B” se liga a receptores no enterócito; após essa ligação, ocorre rompimento da toxina, com a subunidade “A” penetrando através da parede celular, atingindo o interior do enterócito (célula intestinal) ativando uma enzima chamada “Adenilciclase”. Essa enzima vai levar ao aumento dos níveis de AMPc intracelular (AMP cíclico), o que se traduz em uma forte diarreia.

Alguns fatores são relatados como potencializadores de infecção pela cólera, como hipocloridria, esvaziamento gástrico acelerado, grupo sanguíneo O. A ingestão de grande quantidade de bactéria também é um potencializador, pois acaba neutralizando o pH ácido do estômago – principal mecanismo de defesa contra o patógeno.

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Como identificar um paciente com Cólera?

Após o contato com o patógeno, a incubação varia de cerca de algumas horas até 5 dias. A transmissibilidade (eliminação de novas bactérias pelas fezes) ocorre até 20 dias após a cura.

O paciente pode permanecer assintomático, mas a maioria apresenta uma diarreia aguda de forte intensidade com grande volume (500-1000 mL por hora), seguida de vômitos. A diarreia não tem presença de sangue nem pus, e tem uma coloração acinzentada descrita na literatura como “água de arroz”.

Além disso, grande parte dos pacientes relatam cólicas abdominais, e podem apresentar hipotensão e taquicardia.

O diagnóstico geralmente é clínico-epidemiológico. Em caso de dúvida diagnóstica ou casos muito graves, deve ser realizada identificação do patógeno em amostras de fezes ou swab retal.

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Tratamento

O ponto mais importante do tratamento é através da prevenção. Medidas de saneamento básico, assim como a higiene no preparo de alimentos e ingestão de água filtrada/fervida são fundamentais para o combate a essa patologia.

Na presença da condição, o tratamento clínico é baseado na tétrade: reposição volêmica + correção de distúrbios hidroeletrolíticos + correção de acidose metabólica + Antibióticos (se necessário).

O direcionamento do tratamento depende se o paciente apresenta a doença de forma leve, moderada ou grave. Casos leves e moderados se beneficiam (em grande parte das vezes) com suporte ambulatorial com soro de reposição oral.

Já para casos graves, inicia-se com a internação para adequada hidratação endovenosa e controle hidroeletrolítico. Caso necessário, deve ser realizada correção de acidose metabólica. A antibioticoterapia também é indicada, sendo as primeiras opções: doxiciclina, azitromicina, tetraciclina ou eritromicina.

Na ausência de tratamento adequado, a taxa de letalidade nos casos graves pode chegar a 50%.

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Vacina contra Cólera

Como citamos, a prevenção é essencial no combate à doença. Nesse sentido, vacinas vem sendo desenvolvidas, e atualmente existem três versões de imunizantes orais contra o Vibrio cholerae: Dukoral®, Shanchol™ e Euvichol-Plus®.

Nessa última semana, em vista do aumento do número de casos de cólera no mundo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou o uso de uma nova vacina simplificada. A Euvichol-S® é uma versão simplificada da Euvichol-Plus®, mas com eficácia semelhante.

Cólera: caso autóctone é identificado no Brasil; OMS aprova vacina simplificada

 

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Referências:

MINISTÉRIO DA SAÚDE. NOTA TÉCNICA Nº 23/2024-CGZV/DEDT/SVSA/MS. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/notas-tecnicas/2024/nota-tecnica-no-23-2024-svsa-ms

LaRocque, R. et al. – Overview of cholera. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.

OMS aprova vacina simplificada contra a cólera para superar escassez. Disponível em: https://www.saudemais.tv/noticia/50059-oms-aprova-vacina-simplificada-contra-a-colera-para-superar-escassez

 

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