4ª Edição do Relatório Mundial de Estado Mental: perspectivas pós-pandemia

Relatório Mundial de Estado Mental

Publicado em março de 2024, o Relatório Mundial de Estado Mental é uma exposição anual que informa o estado de bem-estar da população mundial com acesso à internet. Na sua 4ª edição, o Relatório conta com dados de 500 mil indivíduos localizados em 71 países, inclusive o Brasil. O objetivo é que esses dados sejam usados para uma assistência mental mais eficaz, através de políticas e intervenções sociais baseadas em evidências.

Como medir o bem-estar?

O Relatório Mundial de Estado Mental segue a definição de bem-estar mental apresentada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que seria a habilidade que um indivíduo apresenta de lidar com situações de estresse e adversidades da vida, e de contribuir de maneira produtiva com a sociedade. O projeto avalia as capacidades emocionais, sociais e cognitivas.

Relatório Mundial de Estado Mental

O relatório utiliza o Quociente de Saúde Mental, ou MHQ, que captura percepções de 47 aspectos da capacidade mental e funcionamento do indivíduo no seu contexto diário. Além disso, a avaliação captura informações sobre dados demográficos, fatores de estilo de vida, dinâmicas de amigos e familiares, traumas e adversidades, fornecendo informações abrangentes para entender os principais impulsionadores e desmotivadores.

A avaliação é oferecida como uma pesquisa online anônima que leva aproximadamente 15 minutos para ser concluída, e fornece uma pontuação (o MHQ) que posiciona os indivíduos em um espectro que vai de angustiado (-100) a próspero (200), passando pelos seguintes aspectos: com dificuldades, estável, gerenciando e obtendo sucesso. Esta pontuação relaciona-se com a produtividade no trabalho e na vida, bem como com a avaliação clínica.

Relatório Mundial de Estado Mental MHQ

Relatório Mundial de Estado Mental: quais foram os principais resultados?

O Relatório Mundial de Estado Mental da quarta edição apontou os seguintes resultados:

  1. A pontuação média do MHQ nos 71 países medidos em 2023 foi de 65 na escala MHQ de 300 pontos.

Em todo o espectro do bem-estar mental, 27% dos entrevistados estavam angustiados ou com dificuldades (MHQ abaixo de 0), enquanto 38% foram bem-sucedidos ou prósperos (pontuações MHQ acima de 100).

Analisando os últimos anos, os pesquisadores observaram que: embora os declínios no bem-estar mental observados durante a pandemia de COVID-19 tenham sido interrompidos, desde então não houve recuperação aos níveis anteriores à pandemia.

quarentena covid 19

  1. Os indivíduos jovens estão apresentando dificuldades.

Os declínios mais significativos no bem-estar entre 2019 e 2021 foram na população jovem.

Aqueles com idades entre 18-24 e 25-34 diminuíram entre 42 e 50 pontos do MHQ ou 14-17% da escala, enquanto as idades de 35 a 54 anos diminuíram em 30-35 pontos do MHQ e idades entre 55 e 64 anos em 15 pontos MHQ. Em contraste, aqueles com mais de 65 anos não registraram um declínio significativo durante este período.

Leia também: De olho na saúde mental de crianças pós-pandemia.

depressao

  1. Há muita diferença entre os países.

Enquanto República Dominicana, Sri Lanka e Tanzânia lideram o ranking com MHQ de 88 ou mais, o Brasil, África do Sul, Reino Unido e Uzbequistão estão na parte inferior do ranking, com pontuações no MHQ variando de 48 a 53.

 

Níveis de bem-estar mental pioram na era pós-pandemia

Em 2023, o bem-estar mental permaneceu no nível mais baixo pós-pandemia, sem apresentar nenhum sinal de movimento em direção aos níveis pré-pandêmicos.

O declínio substancial de 25 pontos MHQ (~12,5% abaixo da escala MHQ) observado em 8 países, principalmente entre 2019 e 2020, e em menor medida entre 2020 e 2021, foi mais pronunciado para cada geração mais jovem, amplificando uma tendência pré-existente de menor bem-estar mental nas gerações mais jovens.

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De acordo com o relatório de estado mental, a falta de recuperação em todas as faixas etárias desde 2020 mostra um quadro desanimador das perspectivas pós-pandemia, além de levantar algumas questões importantes sobre o impacto residual da pandemia.

Será que os impactos psicológicos, causados ​​em parte pelo distanciamento e isolamento social, são permanentes?

Ou será que as mudanças na forma como vivemos, trabalhamos e a amplificação de hábitos existentes (como trabalho remoto, comunicação, consumo de alimentos ultraprocessados, uso de plásticos descartáveis) têm cumulativamente nos empurrado para um espaço de pior bem-estar mental, o que significa que não podemos recuperar coletivamente aqueles níveis pré-pandêmicos?

Confira também: Taxas de suicídio são maiores pós-pandemia.

 

O que nos espera no futuro?

É importante que trabalhemos para compreender por que não tem havido recuperação nos níveis de bem-estar, para que não corramos o risco de normalizar um estado substancialmente diminuído de bem-estar mental que pode ter consequências desastrosas para as perspectivas a longo prazo da sociedade.

As pontuações de bem-estar mental que foram relatadas refletem a capacidade humana de lidar com os estresses normais da vida e de funcionar de forma produtiva. Dessa maneira, precisamos considerar as consequências de uma sociedade que não possua essas habilidades.

Os autores afirmam que “é necessário entender os impulsionadores do nosso bem-estar mental coletivo, de forma que possamos alinhar nossas ambições e objetivos com a capacidade funcional e a verdadeira prosperidade dos seres humanos”.

Relatório Mundial de Estado Mental

Referências:

MEDSCAPE. Yasgur, B. S. Relatório global mostra ‘quadro preocupante’ da saúde mental pós-pandemia. 2024.

SAPIEN LABS. The Mental State of the World in 2023. 2024. https://sapienlabs.org/wp-content/uploads/2024/03/4th-Annual-Mental-State-of-the-World-Report.pdf.

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