Pesquisadores descobrem como a infecção por SARS-CoV-2 altera a estrutura cerebral

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A infecção por SARS-CoV-2 pode resultar em anormalidades cerebrais

Desde o início da pandemia de COVID-19 foram relatadas anormalidades cerebrais em pacientes infectados por SARS-CoV-2, especialmente hospitalizados. No entanto, ainda não está claro se a infecção por coronavírus pode impactar nos casos mais leves, além dos possíveis mecanismos que contribuem para a patologia cerebral.

Além disso, muitos fatores de confusão podem estar envolvidos nos trabalhos que estudam apenas os indivíduos pós-infecção. Esses efeitos podem estar associados a uma vulnerabilidade cerebral aumentada pré-existente aos efeitos deletérios da COVID-19, ou a uma maior probabilidade de apresentar sintomas mais pronunciados, e não necessariamente uma consequência do processo da doença.

Em fevereiro desse ano, um estudo publicado na Nature respondeu algumas dessas questões, avaliando exames de imagens cerebrais de pacientes antes e depois da infecção por SARS-CoV-2.

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Estudo com pacientes antes/depois da infecção por SARS-CoV-2

Um grupo de pesquisadores investigou alterações cerebrais em quase 800 participantes em dois momentos, com cerca de 140 dias de distanciamento entre as imagens.

O diferencial desse trabalho foi que metade dos pacientes testou positivo para SARS-CoV-2, permitindo uma avaliação antes e depois da infecção. A outra metade serviu de grupo controle, utilizado para comparação.

Comparando os grupos, os pesquisadores identificaram no grupo de pacientes:

  • maior redução na espessura da substância cinzenta e maior contraste tecidual no córtex orbitofrontal e giro parahipocampal;
  • maiores mudanças nos marcadores de dano tecidual em regiões funcionalmente conectadas ao córtex olfativo primário;
  • maior redução no tamanho global do cérebro;
  • maior declínio cognitivo médio entre os dois pontos de tempo.

Ainda, os pesquisadores ressaltam que os efeitos longitudinais cognitivos foram observados em pacientes com sintomas leves a moderados, pois foram excluídos 15 casos hospitalizados.

O que pode estar acontecendo?

Os autores propõem formas complexas de discussão, dentro do próprio artigo e no material suplementar. Aqui, vamos resumir:

Os resultados de imagens cerebrais (principalmente límbicas) podem ser as marcas de uma disseminação degenerativa da doença por vias olfativas ou da perda de entrada sensorial devido à anosmia. E de fato, os primeiros sinais neurológicos na COVID-19 incluem hiposmia e hipogeusia, que parecem preceder o início dos sintomas respiratórios na maioria dos pacientes afetados.

Assim, o coronavírus não precisaria necessariamente entrar no sistema nervoso central (SNC); a degeneração anterógrada dos neurônios olfativos pode ser suficiente para gerar o padrão de anormalidades revelado nas análises longitudinais dos pesquisadores.

Porém, os resultados observados incluem alterações de SNC. E particularmente em vírus neurotrópicos, é visto que que eles se espalham para o sistema nervoso central através da infecção dos neurônios olfatórios. Então a hipótese mais relevante dos pesquisadores vai por outro caminho.

A infecção por coronavírus leva à neuroinflamação, que pode iniciar a disfunção neuronal crônica. Em particular, a ativação do sistema imune inato periférico pode induzir a produção de citocinas inflamatórias no cérebro, levando não apenas a graves prejuízos na memória, cognição e comportamento emocional, mas também a anormalidades microgliais no hipocampo, que é particularmente vulnerável à neuroinflamação.

No final do ano passado publicados um artigo: Transtornos mentais e COVID-19: atualização das condições de risco. Nesse post, mencionamos sobre a influência dos mediadores inflamatórios. Vale a pena a leitura.

 

O artigo ainda estuda mais a fundo algumas ideias. Se você tiver interesse, pode acessar clicando aqui.

O que podemos concluir até então é que os achados desse trabalho são pioneiros em identificar as alterações cerebrais em pacientes com COVID-19, avaliando amostras pareadas antes/depois da infecção. Agora, ainda é necessário investigar se esse impacto deletério pode ser parcialmente revertido, ou se esses efeitos persistirão a longo prazo.

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Referências:

Douaud, G., Lee, S., Alfaro-Almagro, F. et al. SARS-CoV-2 is associated with changes in brain structure in UK Biobank. Nature (2022). https://doi.org/10.1038/s41586-022-04569-5

Brain changes after COVID revealed by imaging. News and Views. Nature. March 2022. https://doi.org/10.1038/d41586-022-00503-x

First ‘Before-and-After’ COVID Brain Imaging Study Shows Structural Changes – Medscape – Mar 08, 2022.

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