Você sabia que quadros de candidíase podem ser, na verdade, Vaginose Citolítica?

HPV

Você sabe identificar os sinais de sintomas da vaginose citolítica, além de como fazer o diagnóstico e o tratamento? Vamos lá!

Vaginose Citolítica: quadro clínico e diagnóstico

As vulvovaginites e vaginoses representam aproximadamente 40% dos motivos das consultas em Ginecologia. Dentre elas, a vaginose citolítica (VC) muitas vezes é mal diagnosticada e confundida com candidíase – evidente quando há falta de resposta à terapia antifúngica. Ela ocorre por uma superpopulação dos lactobacilos endógenos ao meio vaginal, causando dano ao epitélio vaginal.

Há ainda o termo “lactobacilose”, caracterizado por um número excessivo de lactobacilos sem citólise associada. Em termos microbiológicos, a VC caracteriza-se por uma baixa diversidade de lactobacilos e dominância de Lactobacillus crispatus, uma vez que esse subtipo demonstrou maior capacidade de produção de ácido lático.

Você sabia que quadros de candidíase podem ser, na verdade, Vaginose Citolítica?

Os sintomas são corrimento esbranquiçado e prurido de intensidades variáveis, queimação, disúria e dispareunia. Ao exame clínico, observa-se o conteúdo vaginal geralmente aumentado, de aspecto  flocular, em grumos ou fluido, aderente ou não às paredes vaginais.

Para o diagnóstico, é possível usar a fita de pH, o qual está igual ou menor que 4. O diagnóstico definitivo passa por bacterioscopia do conteúdo vaginal (Gram), que revela aumento excessivo de Lactobacillus, raros leucócitos ou ausência deles, núcleos desnudos e restos celulares devido à lise das células epiteliais (que pode ser o causador da disúria em algumas mulheres). Não são encontrados elementos fúngicos.

vaginose citolítica
Legenda: D e E: Microbiota Vaginal com predominância e abundância de Lactobacillus sp., lise celular intensa, núcleos nus (seta vermelha em D e sem processo inflamatório. Diagnóstico: Vaginose Citolítica.
F: Número normal de lactobacilos, sem inflamação e predominância de células epiteliais vaginais intermediárias. Lâmina de aspecto normal. Imagem disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgo/a/w8gFJ4KGpYXgcDpxhSd8tTG/?lang=en# 

 

E ainda, pasmem: o local em que você coleta o material vaginal pode interferir no diagnóstico!

Segundo Azevedo et al., a análise do conteúdo vaginal na região do fórnice anterior teve melhor sensibilidade para VC quando comparado a coleta do material vaginal em outras regiões. Sugere-se, inclusive, que ao se suspeitar de vaginose citolítica, é interessante coletar uma amostra também do terço inferior da vagina, para diagnóstico diferencial com candidíase.

Diagnósticos Diferenciais

Um dos grandes desafios é o diagnóstico da vaginose citolítica, uma vez que sua clínica é muito semelhante a outras patologias ginecológicas, principalmente da candidíase. A vaginose descamativa inflamatória e a vaginose aeróbica também devem ser consideradas, além de alergias, dermatites vulvares e outras afecções dermatológicas que também podem estar presentes.

vaginose citolítica

Tratamento

Não existe um tratamento específico para a afecção. Recomenda-se a utilização de medidas que alcalinizem o meio vaginal de forma intermitente, principalmente durante o período pré-menstrual,  como o uso de banhos de assento com bicarbonato de sódio.

Também é recomendado a regulação da microbiota vaginal  e intestinal com ingesta hídrica adequada, dieta balanceada, prática de exercícios físicos e uso de repositores de microbiota intestinal após quadros agudos de diarreia.

Você sabia que quadros de candidíase podem ser, na verdade, Vaginose Citolítica?

Considerações finais

As vaginites e vulvovaginites representam uma queixa recorrente nos consultórios em ginecologia. Como recomendação para prescritores, sugere-se que diante da suspeita de candidíase, deve-se confirmar, quando possível, a presença de fungos na amostra, já que a vaginose citolítica mimetiza muito frequentemente o quadro de candidíase.

Referências:

Linhares IM, et al. Vaginites e vaginoses. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), 2018. (Protocolo Febrasgo – Ginecologia, nº 24/ Comissão Nacional Especializada em Doenças Infectocontagiosas)

Yang, S, et al. Variation of the Vaginal Lactobacillus Microbiome in Cytolytic Vaginosis. Journal of Lower Genital Tract Disease, 24(4), 417–420. 2020. doi:10.1097/lgt.0000000000000565

Lev-Sagie A, et al. Diagnostic performance of an automated microscopy and pH test for diagnosis of vaginitis. NPJ Digit Med. 2023 Apr 13;6(1):66. doi: 10.1038/s41746-023-00815-w.

Sanches, J. M., et al. Laboratorial Aspects of Cytolytic Vaginosis and Vulvovaginal Candidiasis as a Key for Accurate Diagnosis: A Pilot Study. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia / RBGO Gynecology and Obstetrics, 42(10), 634–641. 2020. doi:10.1055/s-0040-1715139

Hacısalihoğlu UP, Acet F. Uma abordagem diagnóstica e terapêutica clinicopatológica para vaginose citolítica: uma entidade extremamente rara que pode imitar a candidíase vulvovaginal. J Cytol. 2021 abr-jun;38(2):88-93. doi: 10.4103/JOC.JOC_169_20.

Kraut R, et al. Scoping review of cytolytic vaginosis literature. PLoS One. 2023 Jan 26;18(1):e0280954. doi: 10.1371/journal.pone.0280954.

Azevedo, S., et al. Impact of the Sampling Site in the Result of Wet Mount Microscopy. Journal of Lower Genital Tract Disease, 23(2), 176–181. 2019. doi:10.1097/lgt.0000000000000467

 

Google search engine

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui