Corantes artificiais e o aumento do risco de câncer colorretal

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Não é novidade que dietas ricas em alimentos ultra processados como doces, refrigerantes e carnes processadas estão associadas a um maior risco no desenvolvimento de câncer colorretal. Porém, estudos recentes apresentam algumas evidências de que os corantes artificiais usados ​​nesses alimentos possam estar contribuindo para o aumento desse risco.

Câncer colorretal

O câncer colorretal é a segunda neoplasia mais comum no Brasil e a terceira no ranking de mortalidade conforme a localização primária. Mundialmente, estima-se que até 2040 quase 2 milhões de pessoas sejam diagnosticadas.

Uma das razões por trás dessa tendência é o aumento do consumo global de uma dieta incluindo carnes vermelhas e processadas, grãos refinados, doces industriados e refrigerantes. Uma alimentação inadequada a longo prazo pode manter um estado inflamatório crônico, sem produzir sintomas perceptíveis – mas o dano celular está acontecendo.

Com a persistência da inflamação e a maior produção de citocinas, o crescimento desordenado de células é estimulado. Além disso, há uma redução da imunidade local, reduzindo a capacidade do indivíduo de reconhecer células anormais. Ainda, há a liberação de radicais livres, resultando em danos ao DNA – maior fator de desenvolvimento do câncer colorretal.

Nem tudo são cores

A indústria de alimentos usa corantes sintéticos porque eles tornam os alimentos mais bonitos. No final do século XIX, os corantes alimentares derivavam de três fontes: vegetais comestíveis, extratos de origem animal e transformação de substâncias naturais. Desde então, os corantes artificiais têm sido cada vez mais utilizados, por serem mais baratos, mais brilhantes e mais duradouros.

Embora diversos corantes tenham sido desenvolvidos, a maioria deles apresentou algum grau de toxicidade e não pode ser comercializado. Atualmente, apenas nove corantes artificiais são aprovados para uso em alimentos de acordo com a política da Food and Drug Administration (FDA).

Dos corantes aprovados, nenhum é classificado como cancerígeno. No entanto, algumas pesquisas sugerem que as bactérias intestinais podem metabolizar os corantes em moléculas com potencial mutagênico. Estudos também mostram que os corantes sintéticos podem aumentar a inflamação, que quando prolongada pode danificar células saudáveis.

cancer colorretal

O corante vermelho 40 é um composto azoderivado e quando metabolizado pelas bactérias gastrointestinais, tem efeitos pró-inflamatórios. Alguns poucos estudos já avaliaram seus possíveis efeitos carcinogênicos, e a dose máxima diária recomendada é de 7mg/kg.

Para adultos, dificilmente a dose tóxica será atingida, mas algumas bebidas podem conter mais de 50mg do corante – o que para crianças pode ser prejudicial.

Recentemente foi descoberto que corantes alimentares sintéticos podem o DNA de roedores. Uma equipe de pesquisadores observou que vermelho 40 e amarelo 5 (dois corantes atualmente aprovados) podem causar danos ao DNA em células de câncer colorretal. Quando maior o tempo de exposição ao corante, maior o dano.

 

Os estudos ainda precisam ser replicados em modelos animais e humanos, mas já servem como alerta. O responsável pela pesquisa e diretor do Centro de Pesquisa do Câncer do Cólon da Universidade da Carolina do Sul finaliza com um alerta:

“Embora a pesquisa sobre o risco potencial de câncer de corantes alimentares sintéticos esteja apenas começando, eu acredito que você pode querer pensar duas vezes antes de pegar aquela guloseima colorida neste Natal.”

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Referências:

Hofseth LJ, Hebert JR, Chanda A, Chen H, Love BL, Pena MM, Murphy EA, Sajish M, Sheth A, Buckhaults PJ, Berger FG. Early-onset colorectal cancer: initial clues and current views. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2020 Jun;17(6):352-364. doi: 10.1038/s41575-019-0253-4. Epub 2020 Feb 21.

Synthetic Food Dyes and Colorectal Cancer: Is There a Link? – Medscape. 2021

Lorne J. Hofseth. Colorful sweets may look tasty, but some researchers question whether synthetic dyes may pose health risks to your colon and rectum. 2021.

INCA. Estatísticas de Câncer. 2021.

Rosilane Moreth de Souza. CORANTES NATURAIS ALIMENTÍCIOS E SEUS BENEFÍCIOS À SAÚDE. Rio de Janeiro. 2012.

 

 

 

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