Metformina pode prolongar a gestação em pré-eclâmpsia pré-termo

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Dentre as diversas doenças gestacionais, a pré-eclâmpsia é uma das que ainda carecem de formas de manejo. Pensando nisso, um estudo recente sugeriu que o uso de uma droga bem comum, a metformina, interferiria nesse quadro, prolongando o tempo de gestação.

Pré-eclâmpsia

A pré-eclâmpsia é um importante agente causador do aumento de morbidade e mortalidade materna e neonatal. É diagnosticada quando, na ausência de história pregressa à gestação, a mulher apresenta níveis aumentados de pressão arterial (>140 x90 mmHg) com mais de 20 semanas de gestação, associada à proteinúria (>300mg em urina de 24h), ou quando mesmo na ausência de proteinúria, houver manifestação de eclampsia iminente, eclampsia ou síndrome HELLP (hemólise, elevação de enzimas hepáticas, plaquetopenia).

Segundo a International Society for the Study of Hypertension in Pregnancy (ISSHP), também é definição de pré-eclâmpsia o aparecimento de níveis elevados de pressão arterial após a 20ª semanas da gestação em associação com outras disfunções de órgão maternos (complicações neurológicas ou hematológicas, disfunção uteroplacentária, restrição de crescimento fetal, insuficiência renal ou comprometimento hepático).

A pré-eclâmpsia pode ser subdividida ainda em a termo (>37 semanas de gestação) ou pré-termo (<37 semanas de gestação). Ainda, 13% dos casos totais de pré-eclâmpsia ocorrem antes de 34 semanas de gestação e 34% se desenvolvem entre 34 e 37 semanas.

O que causa a pré-eclâmpsia ainda não é bem esclarecido, mas alguns fatores podem contribuir para o desenvolvimento da doença, como: anormalidade placentárias (por exemplo baixo fluxo sanguíneo), fatores genéticos, exposições ambientais, fatores nutricionais, desordens imunológicas maternas, mudanças cardiovasculares, desbalanços hormonais.

Metformina

A metfomina é um antidiabético oral do grupo das biguanidas. Seu mecanismo de ação consiste em ativar a enzima AMPK e reduzir a produção hepática de glicose. Os seus efeitos incluem um aumento da utilização da glicose, oxidação e glicogênese pelos músculos, aumento do metabolismo da glicose a lactato em nível intestinal, reduzindo a gliconeogênese hepática e, possivelmente, a taxa de absorção intestinal de glicose.

Ainda, pode haver perda de peso, já que diminui a hiperglicemia pós-prandial por aumento da captura de glicose pelo músculo esquelético e adipócitos, e isto possivelmente diminui o apetite. Incrementa a captura da glicose em pacientes obesos e diminui levemente ou não modifica em pacientes não obesos.

O uso de metformina é contraindicado a pacientes com história de hipersensibilidade à droga, coma hiperosmolar, cetoacidose diabética, insuficiência renal e insuficiência hepática.

As reações adversas mais comuns são perturbações do trato gastrointestinal, como anorexia, náuseas, diarreia e desconforto abdominal. Esses efeitos ocorrem em aproximadamente 10 a 30% dos pacientes e geralmente perduram apenas nos primeiros dias de tratamento.

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Uso de metformina para prolongar a gestação em pré-eclampsia

Pensando-se em evitar as consequências maternas e fetais decorrentes da pré-eclâmpsia, foi realizado um estudo hospitalar na África do Sul, randomizado, duplo cego, controlado por placebo, em que se usou a metformina para mudar o desfecho destas pacientes. Neste estudo foram selecionadas 180 mulheres, com pré-eclâmpsia pré-termo, entre 26+0 a 31+6 semanas de gestação – 90 gestantes usaram placebo e 90 gestantes usaram a metformina.

Todas as mulheres elegidas eram candidatas a manejo expectante e nenhuma indicação de interrupção imediata do parto. Essas pacientes não usavam metformina e tinham fetos sem anormalidade estruturais. Além disso, não eram diabéticas ou pré-diabéticas, sem contraindicações ao uso de metformina, sem uso de drogas que interfiram nesta ou gestações múltiplas. Foram incluídas no estudo apenas as que possuíam proteinúria >300mg em urina de 24h.

Foi administrado inicialmente 1 comprimido de metformina (500mg) 3 vezes ao dia, que poderia ser aumentado até a dose full de 3g ao dia conforme fosse tolerado. Em caso de efeitos colaterais, a dose poderia ser diminuída.

Comparando ao grupo placebo, as pacientes que usaram a metformina em qualquer dose tiveram um aumento de em média 9,6 dias no tempo gestacional. Já para as pacientes em uso de metformina dose full, o tempo médio de aumento da gestação foi de 11,5 dias.

Além disso, foi observado que no grupo em uso de metformina, o acréscimo de peso ao nascimento não foi significativo e que não foram relatados eventos adversos sérios, apesar de que diarreia foi mais comum no grupo em uso de metformina.

A conclusão alcançada é de que esta triagem sugere que o uso de metformina pode ser uma opção para prolongar a gestação em mulheres com pré-eclâmpsia pré-termo, e que há provas que pode existir um tratamento, apesar de mais estudos erem necessários para corroborar a hipótese.

Referências:

Cluver C A, Hiscock R, Decloedt E H, Hall D R, Schell S, Mol B W et al. Use of metformin to prolong gestation in preterm pre-eclampsia: randomised, double blind, placebo controlled trial BMJ 2021; 374 :n2103 doi:10.1136/bmj.n2103

José Paulo de Siqueira Guida, Fernanda Garanhani Surita, Mary Angela Parpinelli, Maria Laura Costa. Preterm Preeclampsia and Timing of Delivery: A Systematic Literature Review. Systematic Review. Rev. Bras. Ginecol. Obstet. 39 (11). Nov 2017. https://doi.org/10.1055/s-0037-1604103

Phillips JK, Janowiak M, Badger GJ, Bernstein IM. Evidence for distinct preterm and term phenotypes of preeclampsia. J Matern Fetal Neonatal Med. 2010;23(7):622-626. doi:10.3109/14767050903258746

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