A infertilidade é um problema que atinge 8-12% de casais em idade reprodutiva ao redor do mundo. Como resultado, mais de 8 milhões de bebês já nasceram através de técnicas de reprodução assistida, como fertilização in vitro (FIV) e injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI).
Dada a importância desse tópico e o aspecto multifatorial da infertilidade, muitos estudos foram realizados para avaliar o papel de micronutrientes na fertilização. Nesse cenário, destaca-se a vitamina D, com diversos estudos avaliando o papel dessa substância no sistema reprodutor.
Apesar dessas pesquisas, algumas questões continuam controversas, como por exemplo a eficácia da suplementação de vitamina D nos resultados da fertilização in vitro. Portanto, recentemente foi realizada uma metanálise para verificar o efeito dessa suplementação no sucesso da técnica.
Saiba mais.
Como a vitamina D pode influenciar na fertilidade?
A vitamina D possui um impacto na fisiologia e patologia humana através do seu receptor (VDR). O VDR é um receptor nuclear que se liga a elementos de DNA e regula a expressão de diversos genes, entre eles, genes relacionados à resposta hormonal. Dessa maneira, sugere-se que a vitamina D tem um papel crítico na biossíntese dos hormônios sexuais, além de atuar no processo e produção de hCG após a fertilização.
Além disso, há produção de vit.D na placenta e decídua, e o VDR está presente no eixo hipotálamo-ovário-útero-placenta (também conhecido como eixo reprodutivo).
Entretanto, enfrentamos um problema: atualmente, a deficiência de vitamina D é prevalente ao redor do mundo; e já foi associada a pré-eclâmpsia, síndrome dos ovários policísticos, endometriose e aborto.
Quais foram as evidências já observadas com a fertilidade?
Alguns estudos realizados com animais observaram que a deficiência vitamínica está relacionada a uma redução nas chances de gestação, aumento de complicações na gravidez, hipoplasia uterina e infertilidade.
Em estudos clínicos realizados com mulheres, foi observado que uma reserva apropriada de vit. D estava associada a uma taxa de sucesso maior na FIV. Além disso, muitas revisões sistemáticas demonstraram que mulheres com deficiência ou insuficiência da vitamina possuem taxas menores de sucesso na técnica.
Já foram realizados muitos estudos que correlacionaram baixos níveis séricos de vit. D com uma redução da fertilidade natural e também do sucesso na FIV. Entretanto, esses estudos não tiveram força suficiente para gerar conclusões definitivas, em grande parte devido ao pequeno número amostral.
Além disso, diversos estudos encontraram resultados contraditórios. Um dos motivos para essa discrepância pode ser a quantidade de suplementação de vitamina D (2000 IU ou 50000 IU) que varia entre os estudos. Ainda, o tempo em que a suplementação é realizada (durante todo o ciclo de fertilização, 6 semanas antes da ICSI, após FIV/ICSI), bem como o método de fertilização podem ser diferentes entre os estudos.
Esses fatores demonstram a importância de uma metanálise confiável.
Como a metanálise de ZHOU e colaboradores foi realizada?
A deficiência de vit. D foi indicada por um nível sérico menor de 30 ng/mL, e foram considerados os resultados primários (gestação) e secundários da FIV.
Foram analisados 5 estudos nessa metanálise, e as mulheres foram divididas em 2 grupos:
- Grupo de estudo: recebeu suplementação de vit. D.
- Grupo controle: não recebeu suplementação de vit. D.
A suplementação vitamínica influenciou na taxa de gestação?
O estudo verificou que a suplementação com vit. D gerou um aumento significativo na taxa de gestação química, em comparação com os pacientes do grupo controle. Entretanto, essa diferença não foi observada com relação à gestação clínica.
Dessa maneira, não se pode afirmar que a suplementação com vitamina D pode aumentar a taxa de gestação, devido à presença de falso positivo.
Com relação aos resultados secundários, a suplementação não promoveu diferença em nenhum deles – embrião de boa qualidade, taxa de fertilização, gestação em desenvolvimento, taxa de aborto.
Quais as conclusões?
A suplementação de vitamina D parece poder aumentar as chances de sucesso na fertilização in vitro em mulheres com deficiência vitamínica, conforme vimos no aumento da gestação química. Entretanto, são necessários mais estudos devido à ocorrência de falso positivo.
Com relação aos efeitos secundários, a pequena quantidade de estudos analisados pode ter influenciado no resultado observado. É de extrema importância que seja determinada qual a melhor forma de administração da vitamina D durante o ciclo, pois muitas diferenças foram encontradas.
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Referências:
ZHOU, X. et al. Effect of Vitamin D Supplementation on In Vitro Fertilization Outcomes: A Trial Sequential Meta-Analysis of 5 Randomized Controlled Trials. Front. Endocrinol., v. 13, 852428. 2022. doi: 10.3389/fendo.2022.852428.
