Critérios de Berlim para SDRA: saiba como utilizar e interpretar

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Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA)

A Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA) representa uma condição, de instalação súbita (< 7 dias), em que há um acúmulo de fluidos nos pulmões, com consequente dificuldade na troca gasosa – o que se reflete em uma hipoxemia.

Decorre de uma resposta inflamatória a um insulto local (pulmonar) ou distante (sistêmico) resultando, invariavelmente, em uma insuficiência respiratória grave, de início agudo, caracterizada por edema pulmonar inflamatório (não cardiogênico portanto), cursando com hipoxemia.

O diagnóstico da doença é realizado por meio do quadro clínico, achados de exames laboratoriais e de imagem, exclusão de edema cardiogênico e outras causas alternativas de insuficiência respiratória hipoxêmica aguda e da presença de infiltrados bilaterais.

Para facilitar o diagnóstico, em 2012 criou-se os Critérios de Berlim. Nele, o paciente é considerado portador de SDRA se apresentar todos os critérios. De forma mnemônica, podemos lembrar dos critérios, com as iniciais da SDRA.

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Critérios de Berlim – indicação de uso, pontuações e interpretação

Os Critérios de Berlim para SDRA foram desenvolvidos para definir e classificar a doença. Além de diagnosticar a condição, o critério é capaz de classificar o quadro em leve, moderada ou grave.

A classificação de Berlim para SDRA é composta por 5 critérios. Destes, 4 são necessários simultaneamente, e 1 classificatório. Veja cada um deles:

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Para o diagnóstico da Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo todos os critérios devem ser preenchidos.

Para a classificação da gravidade do caso, utilizamos o grau de hipoxemia:

  1. PaO₂/FiO₂ > 300 mmHg: normal – exclui o diagnóstico
  2. PaO₂/FiO₂ > 200 ≤ 300 mmHg: leve
  3. PaO₂/FiO₂ > 100 ≤ 200 mmHg: moderada
  4. PaO₂/FiO₂ ≤ 100 mmHg: grave

E por que usar?

Os Critérios de Berlim para SDRA são de fácil utilização na rotina clínica (e fácil de lembrar!). Além disso, o estudo foi validado em uma coorte grande e heterogênea, permitindo reprodutibilidade em diferentes populações de pacientes. O trabalhou abordou e melhorou algumas das limitações da classificação inicialmente proposta pela AECC em 1994.

Saiba das limitações e armadilhas

Primeiramente, é importante lembrar que a avaliação de imagem é subjetiva, o que pode limitar a definição e classificação. Além disso, para que o critério seja utilizado de forma correta, a avaliação da PaO2/FiO2 deve, necessariamente, ser realizada com pressão positiva de ao menos 5 cmH20.

Por fim, vale lembrar que a definição de SDRA é um critério diagnóstico e classificatório, mas é limitada em predizer prognóstico.

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Quais os próximos passos?

Exames complementares podem ser necessários para auxiliar no diagnóstico, excluir diagnósticos diferenciais e identificar condições associadas.

O tratamento da SDRA é baseado nos seguintes pontos:

  1. Eliminação do fator causal.
  2. Suporte e na proteção da ventilação pulmonar com o uso de baixos volumes correntes de oxigênio, limitando a pressão inspiratória final.
  3. O balanço hídrico deve ser mantido em leve déficit ou neutro, desde que mantenha a pressão venosa central (PVC) < 4 cm H2O.
  4. Em casos de infecção associada, recomenda-se imediatamente o início de antibioticoterapia empírica, direcionando para os patógenos mais suspeitos.
  5. O acompanhamento multidisciplinar com fisioterapeutas respiratórios é fundamental para um desfecho favorável

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Lembre-se: a SDRA leva ao óbito entre 30-50% dos seus portadores, sendo que, normalmente, ele é decorrente de falência múltipla de órgãos. Os pacientes que sobrevivem, em sua maioria, tem perda da função pulmonar, a qual pode cursar de forma assintomática ou sintomática.

Estudo de desenvolvimento e validação dos Critérios

Os Critérios de Berlim para SDRA foram desenvolvidos com o objetivo de avaliar e validar as classificações da doença propostas em 1994 pela AECC. O estudo incluiu informações clínicas de 4188 pacientes de 4 centros médicos diferentes, e informações fisiológicas de outros 269 pacientes de uma outra coorte.

Pela definição de Berlim, foi possível associar as categorias de SDRA leve, moderada e baixa ao aumento da mortalidade e duração de ventilação mecânica. Quando comparada a proposta classificatória de 1994, os critérios de Berlim apresentaram melhores dados preditivos de mortalidade.

Os critérios foram desenvolvidos pelo grupo corporativo da ARDS Definition Task Force. O primeiro autor do artigo é o Dr. Marco Ranieri, médico e professor do Departamento de Ciências médicas e cirúrgicas da Università di Bologna (Itália). Atualmente, o Dr. Ranieri trabalha com pesquisas focadas na terapia para SDRA.

Para saber mais sobre este e outros escores acesse o nosso app WeMEDS®. Disponível na versão web ou para download para iOS ou Android.   

Referências:

ARDS Definition Task Force, Ranieri VM, Rubenfeld GD, Thompson BT, Ferguson ND, Caldwell E, Fan E, Camporota L, Slutsky AS. Acute respiratory distress syndrome: the Berlin Definition. JAMA. 2012 Jun 20;307(23):2526-33. doi: 10.1001/jama.2012.5669. PMID: 22797452.

Bernard GR, Artigas A, Brigham KL, Carlet J, Falke K, Hudson L, Lamy M, Legall JR, Morris A, Spragg R. The American-European Consensus Conference on ARDS. Definitions, mechanisms, relevant outcomes, and clinical trial coordination. Am J Respir Crit Care Med. 1994 Mar;149(3 Pt 1):818-24. doi: 10.1164/ajrccm.149.3.7509706. PMID: 7509706.

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