Trissomias: semelhanças e diferenças entre as síndromes de Patau, Edwards e Down

trissomias cromossômicas

Trissomias cromossômicas podem causar um conjunto de características heterogêneas e malformações congênitas, decorrentes da terceira cópia do cromossomo, seja total ou parcial.

As três trissomias conhecidas são: Síndrome de Patau (trissomia 13), Síndrome de Edwards (trissomia 18) e Síndrome de Down (trissomia 21). Veja mais sobre as características de cada uma delas.

Como ocorrem as trissomias?

As trissomias (13, 18 e 21) pode ocorrer de 3 diferentes formas: trissomia livre, translocação ou mosaicismo.

A trissomia livre é a mais comum, ocorrendo em mais de 80-95% dos casos.  É a presença de um cromossomo extra, resultado da não-disjunção durante a formação dos cromossomos. É uma aneuploidia, com 47 cromossomos. Esta forma está associada à idade materna avançada – pois quanto maior a idade, maior o risco de erro meiótico.

A translocação é a segunda causa mais frequente. Durante a replicação, pode ocorrer de uma porção do cromossomo “se romper” e translocar-se com outro cromossomo. Nesse caso, o cariótipo do indivíduo é resultado de um rearranjo, com 46 cromossomos e uma porção extra do cromossomo afetado.

Os casos de translocação podem ser do tipo recíproca (quando ambos os cromossomos trocam pedaços), não recíproca (quando só um cromossomo “perde” um pedaço para outro) ou Robertsonianas (entre acrocêntricos).

trissomias cromossômicas translocação

Com o cromossomo 18 pode ocorrer translocação recíproca. Já os cromossomos 13 e 21 são do tipo acrocêntrico, então ocorre a translocação Robertsoniana para as duas trissomias – e uma cópia extra do cromossomo 13 ou 21 se liga em outro cromossomo acrocêntrico. Todos os casos resultam em uma trissomia incompleta, e não é associada à idade da mãe.

O mosaicismo ocorre em cerca de 1% dos casos. Após a fertilização, pode ocorrer uma separação irregular das células no óvulo. Ocorre um erro na disjunção mitótica. Assim, algumas células do indivíduo terão 46 cromossomos, outras 47.

 

Diagnóstico

O diagnóstico é usualmente realizado no pré-natal. Quando este não está disponível, é por avaliação clínica no recém-nascido, considerando sinais e sintomas característicos. O cariótipo sempre deve ser realizado para confirmação.

O diagnóstico pré-natal pode ser realizado a partir da 9ª semana. Com achados sugestivos na ultrassonografia, sugere-se coleta de sangue materno para realização do NIPT – teste pré-natal não invasivo que avalia alterações genéticas do bebê a partir do sangue da mãe.

Na identificação de uma trissomia, é necessário coletar amostra de vilosidade coriônica / amniocentese para confirmação do cariótipo do bebê.

gravida coleta de sangue

Síndrome de Patau – trissomia do cromossomo 13

A Síndrome de Patau é decorrente da presença de uma terceira cópia do cromossomo 13. Acontece em 1 a cada 10-15 mil nascimentos, sendo ligeiramente mais comum no sexo feminino.

Na maioria dos casos (~70%), há aborto espontâneo no primeiro trimestre da gestação. Também há uma alta taxa de mortalidade no primeiro ano de vida (90%). Em geral, os pacientes vivem de 7-10 dias. Menos de 5% sobrevivem até os 3 anos. Ainda, pacientes que sobrevivem podem apresentar atraso psicomotor grave, retardo de crescimento, deficiência intelectual e convulsões.

A Síndrome de Patau apresenta múltiplas anomalias congênitas e graves. A tríade clássica microftalmia + fenda labial + polidactilia pós-axial é identificada em cerca de 70% dos casos. Alterações cardiovasculares são vistas em 80% dos pacientes.

Como características intrauterinas, é possível identificar feto com hipotonia (pouco movimento), alteração na quantidade de líquido amniótico, restrição de crescimento e desenvolvimento cerebral incompleto.

Características hematológicas também são comuns, sendo a neutrofilia vista em mais de 80% dos casos, e a trombocitopenia em 75%. Em cerca de metade dos pacientes é possível observar criptorquidia e hipospadia (sexo masculino) ou útero bicorno e hipoplasia de pequenos lábios (sexo feminino).

sindrome de patau

Leia também – Síndrome de Patau: saiba mais sobre a trissomia do cromossomo 13.

 

Síndrome de Edwards – trissomia do cromossomo 18

A Síndrome de Edwards é decorrente da presença de uma terceira cópia do cromossomo 18. Acontece em 1:5500 nascimentos, e é mais comum no sexo feminino (3:1).

Na maioria dos casos, há aborto espontâneo no primeiro trimestre da gestação, e 40% morrem no parto. Metade dos nascidos vivos com a trissomia 18 morrem em até 2 semanas, e apenas 5-10% sobrevivem até 1 ano. Ainda, pacientes que eventualmente atingem a idade escolar apresentam deficiência intelectual grave.

Pacientes com a trissomia do 18 apresentam diversas anormalidades e malformações congênitas, sendo que mais de 130 anomalias já foram relatadas, e não há nenhuma característica patognomônica.

Da mesma forma que na Síndrome de Patau, é possível identificar feto com pouco movimento, alteração na quantidade de líquido amniótico, restrição de crescimento e desenvolvimento cerebral incompleto. Na maioria dos casos, alterações craniofaciais estão presentes, como microcefalia, face triangular e assimétrica, microftalmia, fissuras palpebrais curtas, inclinadas para cima ou para baixo e diversas outras.

Mais de 75% dos pacientes apresentam alterações gastrointestinais e cardiovasculares, e achados hematológicos também são comuns.

trissomia do 18 sindrome de edwards
Imagem original disponível em: https://wellcomecollection.org/works/eaahzt2u

Síndrome de Down – trissomia do cromossomo 21

A Síndrome de Down é a alteração cromossômica mais comum em nascidos vivos, decorrente da presença de uma terceira cópia do cromossomo 21. No Brasil, estima-se que a síndrome ocorra em 1:700 nascimentos.

Os pacientes podem apresentar diversas condições clínicas, e nem todos apresentam a completa variedade de manifestações. Porém, algumas características são universais, sendo a fenda palpebral + pregas epicântricas oblíquas a característica mais marcante. Além disso, os pacientes apresentam pescoço curto, excesso de pele na nuca, orelhas pequenas, arredondadas e de implantação baixa, prega palmar transversa.

Comprometimento intelectual pode ser identificado, sendo as alterações cognitivas as mais comuns. O quociente de inteligência médio é de 50-70, mas há diversos casos de pacientes com pouca / mínima alteração.

Como condições de saúde frequentemente associadas, destacamos: alterações oftalmológicas, alterações cardíacas, problemas cutâneos, auditivos, hematológicos e respiratórios. A maioria dos homens são inférteis. A Doença de Alzheimer também pode ser vista em até 96% dos pacientes que atingem a terceira idade.

Leia também: Fisiopatologia da Síndrome de Down.

síndrome de down trissomia do 21

Como tratar os pacientes com as diferentes síndromes?

Como citamos, nas síndromes de Edwards e de Patau, a taxa de letalidade é alta. Por essa razão, os objetivos terapêuticos são: orientar e preparar os familiares e minimizar o desconforto do bebê.

Terapias agressivas podem ser indicadas para estas duas trissomias. No entanto, os estudos indicam que a sobrevida média se estende apenas em cerca de 700 dias, apesar do manejo agressivo.

O prognóstico para a Síndrome de Down é melhor, e a expectativa de vida tem aumentado. Os objetivos do tratamento são: melhorar a qualidade de vida do paciente e manejar as comorbidades associadas. É essencial envolvimento familiar, bem como equipe multidisciplinar.

Quanto mais cedo o diagnóstico, melhor a resposta terapêutica. O ideal é que seja no pré-natal, visando o preparo da família desde o nascimento.

sindrome de down

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Referências:

Anne BS Giersch, PhD. Congenital cytogenetic abnormalities. UpToDate®. Sep 2023.

Juvet LK, et al. Non-Invasive Prenatal Test (NIPT) for Identification of Trisomy 21, 18 and 13 [Internet]. Oslo, Norway: Knowledge Centre for the Health Services at The Norwegian Institute of Public Health (NIPH); 2016 Dec 16. Report from the Norwegian Institute of Public Health No. 2016-18. PMID: 29553653.

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