Alteração da microbiota vaginal afeta a saúde do neonato

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Um novo estudo da publicado na revista Nature Communications mostrou a importância da saúde vaginal em gestantes. Ao usar modelos animais, foi visto que a combinação de uma dieta pouco saudável e alterações da microbiota vaginal contribui para a alteração no desenvolvimento dos bebês após o parto.

A importância do parto vaginal para o bebê

Quando os bebês passam pelo canal vaginal, eles são expostos a microbiota local da mãe, e a composição desse microbioma apresenta características individuais. Estudos indicam que essa exposição parece ser específica e não aleatória, auxiliando no desenvolvimento e saúde nos bebês, e indicando associações entre exposição microbiana materna e recrutamento de células imunes inatas, tolerância a endotoxinas e resistência a infecções bacterianas sistêmicas.

Ainda, já foi evidenciado que atrasos ou interrupções na transmissão microbiana materna (como é comum entre recém-nascidos por cesariana e neonatos expostos a antibióticos) estão associados ao aumento do risco de sepse, hipersensibilidade do sistema imunológico, alergia, asma, trajetórias de crescimento alteradas e obesidade.

Tendo em vista a importância da microbiota vaginal para o bebê, um grupo de pesquisadores desenvolveu um protocolo experimental para determinar os efeitos específicos dessa exposição. Além disso, buscaram identificar se fatores de risco pré-natais induzidos (como a obesidade) podem afetar o desfecho e a resposta pós-natal à microbiota colonizadora.

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A transferência de microbioma vaginal afeta a saúde do recém-nascido

Em novembro de 2021, um estudo foi publicado na Nature Communications descrevendo a validação realizada em modelo animal associando microbiota vaginal e efeitos duradouros na prole. O modelo replica o que ocorre durante o parto vaginal e revela os efeitos no metabolismo, na imunidade e no cérebro dos recém-nascidos.

Não é a primeira vez que esse grupo de pesquisadores estuda esse tema. A chefe de pesquisa Tracy L. Bale tem diversas publicações na área. Em um de seus trabalhos, foram estudados filhotes de camundongos nascidos por cesariana, comparando o tratamento com microbioma vaginal de mães estressadas vs de mães não estressadas.

Foi visto que aqueles que receberam microbiomas vaginais de mães estressadas tinham diferenças em como seus cérebros se desenvolveram, e como responderam ao estresse posterior em seu ambiente em comparação aos filhotes que receberam microbiomas de mães não estressadas.

Nesse trabalho mais recente, os pesquisadores focaram em avaliar a presença de dois grupos de microrganismos: Lactobacillus crispatus, que representam as colônias mais comuns encontradas; e G. vaginalis e A. vaginae, microrganismos anaeróbicos que exibem efeitos metabólicos e imunológicos específicos.

Os filhotes que foram expostos ao grupo 2 (G. vaginalis e A. vaginae) apresentaram aumento de peso, mudanças na composição imune circulante e alterações nos padrões de expressão gênica no núcleo paraventricular do hipotálamo. Essas alterações, segundo os autores, refletem padrões de alimentação e regulação metabólica alterados, que podem se manifestar em mudanças nas trajetórias de crescimento e peso corporal observados no pós-natal.

O impacto da dieta

Recentemente, falamos sobre como a dieta materna pode impactar na gestação. Agora, foi possível identificar se o padrão da dieta materna influenciou na microbiota intestinal e, consequentemente, na saúde do recém-nascido.

O consumo de uma dieta rica em gordura e pobre em fibras aumentou o peso corporal materno, atrasou a depuração da glicose e alterou a composição da microbiota intestinal dos animais. Ao examinar os efeitos pré-natais de exposição a essa dieta, análises de expressão gênica da placenta e íleo fetal identificaram diferenças nas vias gênicas envolvidas na maturação tecidual. Os resultados também foram verdadeiros para infecção por G. vaginalis.

Essas alterações específicas do tecido nos padrões de expressão gênica foram associadas a um influxo excessivo de neutrófilos após a colonização intestinal pela microbiota vaginal humana ao nascimento. Essa resposta imune aumentada pode estar associada a um risco diferencial na morbidade dos neonatos.

 

Os achados desse grupo de pesquisa destacam que a combinação de fatores de risco, como o consumo crônico de uma dieta rica em gordura e a presença de uma microbiota vaginal não ideal, pode impactar negativamente os principais aspectos do desenvolvimento do bebê.

Dessa forma, é evidente a importância da inclusão do histórico de exposição materna, padrões alimentares e saúde vaginal. Ainda, é possível avaliar a utilidade da exposição de bebês nascidos por cesariana com microbiota cervicovaginal materna.

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Referências:

Eldin Jašarević, Elizabeth M. Hill, Patrick J. Kane, et al. The composition of human vaginal microbiota transferred at birth affects offspring health in a mouse model. Nature communications. Nov 2021. https://doi.org/10.1038/s41467-021-26634-9

University of Maryland School of Medicine. Microbiome of mother’s vagina may affect infant mortality risk and baby’s development. MedicalXPress. Jan 2022.

 

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