Como a qualidade da dieta materna influencia na gestação

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A alimentação materna na gestação possui importantes repercussões no desenvolvimento intra e extra útero. Frente a isso, sabe-se que a qualidade da alimentação da mãe, principalmente quanto à gordura alimentar e consequente obesidade, têm grande influência no desenvolvimento da criança.

Obesidade em mulheres e gestantes

Estima-se que, no Brasil, 53.9% das mulheres estejam em sobrepeso, e 20,7% das mulheres com obesidade, segundo fontes de pesquisa da Vigitel.

A obesidade vem alcançando grandes proporções, e nas gestantes, esse distúrbio vem afetando 1 em cada 5 mulheres. Dentre as repercussões para essas crianças nascidas de mães obesas estão:

– Maior tecido adiposo ao nascer;

– Elevado rico de doença cardiovascular e metabólica na vida adulta; incluindo obesidade, diabetes tipo 2, doença coronariana e acidente cardiovascular cerebral (AVC).

– Asma;

Performance cognitiva abaixo da média e baixo QI.

Além disso, há muitas complicações obstétricas, como diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, nascimento pós termo, aumento dos índices de cesariana, hemorragia pós-parto e natimortos.

Mas onde a obesidade começa a interferir no desenvolvimento do bebê? Tudo começa com mudanças funcionais da placenta.

Alterações funcionais da placenta – inflamação local e sistêmica

A reprodução é finamente regulada pelo balanço energético materno, com importante impacto hormonal placentário. Logo no início, as adiponectinas possuem papel fundamental para implantação e desenvolvimento da placenta. Além disso, durante a gestação a placenta secreta citocinas (dentre elas a TNF-alfa, IL6 e IL-1beta), aumentando os valores locais e sistêmicos.

O TNF-alfa possui um aumento de secreção nas gestações normais, e junto com o fator de crescimento endotelial, promovem a angiogênese e crescimento normal da placenta. O TNF-alfa estimula o fator de crescimento placentário, além de ser um regulador chave da função e implantação do trofoblasto.

A IL6 junto como TNF-alfa estimula o sistema A de transporte de aminoácidos para a placenta.

A leptina modula a invasão trofoblástica e aporte de nutrientes. Em estágios mais avançados da gestação, quando ocorre o rápido crescimento fetal, tanto a insulina quanto a leptina fazem um feedback positivo no Sistema A de transporte de aminoácidos para aumentar os nutrientes disponíveis para o feto. O aumento da circulação da leptina em mulheres obesas contribui para o crescimento exagerado fetal.

Enquanto algumas citocinas (TNF-alfa, IL6 e leptina) estimulam o transporte nutricional na placenta, outras como adiponectina e IL-1beta inibem a estimulação da insulina no transporte de nutrientes. A Adiponectina é inversamente correlata com a resistência à insulina, tendo um papel fundamental na regulação de repostas imunes, metabolismo energético e sensibilidade placentária a ela. Mulheres não obesas possuem alto valor de adiponectina comparadas às obesas, e os níveis de adiponectina são inversamente proporcionais ao crescimento fetal.

Na histologia, há ainda um aumento de infiltração de macrófagos na placenta de mulheres obesas, o que sugere um aumento exagerado da inflamação em comparação com gestações normais. Além disso, estudos placentários mostram uma hiperplasia da túnica média muscular e imaturidade vilosa.

Relações entre a dieta e a gestação – além da placenta

Além dos fatores de início da gestação e desenvolvimento placentário, foi visto uma ligação entre o aumento de gordura na dieta materna no segundo trimestre de gestação e aumento da gordura corporal do feto, mais precisamente entre a 14 e 23 semanas. Além disso, foi observado que entre 23 e 29 semanas há um aumento dos lóbulos de gordura e expansão para a rede capilar.

Esses achados sugerem que uma estratégia de intervenção alimentar no segundo trimestre de gestação ofereceria uma diminuição da hipertrofia dos adipócitos, e diminuiria o risco de doenças cardiovasculares no futuro, mas tal estratégia ainda precisa de mais estudos para firmar uma hipótese mais clara.

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Referências:

Johns EC, Denison FC, Reynolds RM. The impact of maternal obesity in pregnancy on placental glucocorticoid and macronutrient transport and metabolism. Biochim Biophys Acta Mol Basis Dis. 2020 Feb 1;1866(2):165374. doi: 10.1016/j.bbadis.2018.12.025.

Lyall K, Munger KL, O’Reilly ÉJ, Santangelo SL, Ascherio A. Maternal dietary fat intake in association with autism spectrum disorders. Am J Epidemiol. 2013 Jul 15;178(2):209-20. doi: 10.1093/aje/kws433.

Kristy R Howell and Theresa L Powell. Effects of maternal obesity on placental function and fetal development. Reproduction. 2017. https://doi.org/10.1530/REP-16-0495

Borge TC, Aase H, Brantsæter AL, et al. The importance of maternal diet quality during pregnancy on cognitive and behavioural outcomes in children: a systematic review and meta-analysis. BMJ Open 2017;7:e016777. doi: 10.1136/bmjopen-2017-016777

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