De olho no cafezinho: o uso excessivo de cafeína e os riscos de desenvolver glaucoma

glaucoma

O primeiro hábito da manhã costuma ser, para a maioria das pessoas, o café da manhã. Logo após o almoço, um cafezinho. No meio do dia, um café da tarde.  Para os não adeptos do café, o chá pode ser uma opção. Mas o denominador comum é o mesmo: a cafeína.

Diversos estudos investigam o potencial da cafeína na saúde humana, praticamente em todas as especialidades. E com a oftalmologia não poderia ser diferente.

Um estudo recente investigou se o consumo da cafeína poderia estar envolvido com um aumento da pressão intraocular e à predisposição ao desenvolvimento de glaucoma.

 

Glaucoma

O glaucoma é caracterizado pelo dano ao nervo óptico, pela degeneração dos axônios locais. Na maioria dos casos, o dano é resultado de um acúmulo de fluido, resultando em aumento da pressão intraocular (PIO).  Essa condição, quando não tratada, pode levar à cegueira.

Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento, podemos citar: idade maior que 40 anos, diabetes, sexo feminino (proporção 3:1), traumas físicos, medicamentos, e parentes de primeiro grau acometidos. Ainda, a ancestralidade asiática está associada a maior incidência da doença.

Por ser a segunda maior causa de cegueira no mundo, todos os indivíduos com mais de 40 anos devem ser encorajados a realizar exames oftalmológicos de forma rotineira. Prevenir acidentes ou traumas locais também pode ser uma forma de prevenção. Mas será que reduzir o uso de cafeína vai entrar para essa lista?

 

Cafeína ou genética: de quem é a culpa?

Um estudo recente avaliou a relação entre o consumo de cafeína, o aumento da pressão intraocular e o desenvolvimento de glaucoma. Nesse trabalho, os pesquisadores estavam motivados por trabalhos anteriores, nos quais pessoas que ingeriam grandes doses de cafeína apresentavam aumentos temporários na pressão ocular.

Foram avaliadas mais de 500 mil pessoas entre 39 e 73 anos. Além dos dados laboratoriais, um questionário quanto ao consumo de café e chá foi aplicado a todos, com perguntas como: “quantos copos de café/chá você consome ao dia?” e “qual o tipo de café/chá consumido?”. Até as bebidas descafeinadas e achocolatadas entraram na história.

O que os pesquisadores observaram é que há um aumento do risco do desenvolvimento da doença em pessoas que fazem o uso excessivo da cafeína, mas apenas naquelas geneticamente suscetíveis!

Inclusive, não é novidade que o glaucoma é a doença mais comum em pessoas cujos parentes próximos manifestam a doença – o que chama bastante atenção para a parte genética.

Avaliando todos os pacientes juntos, como um grande grupo, parece não haver nenhum risco aumentado de glaucoma por cafeína. Mas quando os pacientes são subdivididos em grupos com base na predisposição genética, o cenário é bem diferente. A cafeína parece estar associada a uma pressão média ocular mais alta e um maior risco de glaucoma nesses pacientes.

Isso foi particularmente verdadeiro quando eles analisaram 25% das pessoas que ingeriram mais de 321 miligramas de cafeína – o equivalente a três xícaras de café – por dia. Quando essas pessoas também estavam entre os 25% com maior risco genético de aumento da pressão ocular, elas apresentavam um risco muito maior de glaucoma.

Esses pacientes tinham quase quatro vezes mais probabilidade de ter a doença do que pessoas que não consumiam cafeína e tinham o risco genético mais baixo. Ou seja, a combinação de cafeína + genes aumentava o risco de glaucoma mais do que os genes isoladamente.

 

Conclusão

Embora o consumo de bebidas com cafeína possa não estar associado ao aumento da pressão intraocular da população em geral, esse pode não ser o caso para aqueles com maior suscetibilidade genética ao desenvolvimento de glaucoma.

“Pessoas com pais ou irmãos com diagnóstico de glaucoma devem considerar limitar a quantidade de cafeína em até duas xícaras de café por dia”, sugere o pesquisador chefe do trabalho.

 

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Referências:

Kim, J. et al. Intraocular Pressure, Glaucoma, and Dietary Caffeine Consumption: A Gene—Diet Interaction Study from the UK Biobank. 2021.

Laird Harrison. Caffeine May Raise Risk of Inherited Glaucoma

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