Metabólitos vaginais como biomarcadores precoces de parto prematuro

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Um estudo publicado em janeiro na Nature Microbiology identificou alguns metabólitos vaginais como biomarcadores precoces de parto prematuro, além de que exposições exógenas à metabólitos possam ser potenciais fatores de risco para prematuridade.

Muitos dos metabólitos encontrados podem ser identificados em produtos de higiene pessoal e cosméticos, o que levanta um questionamento quanto ao uso destes produtos em gestantes.

Nascimentos prematuros ainda são um grande problema de saúde sem marcadores preditores

Os nascimentos prematuros (ou seja, abaixo de 37 semanas), são a principal causa de morte neonatal e podem ainda levar a uma grande variedade de problemas de saúde no decorrer da vida. Dentre estes nascimentos, 2/3 ocorrem espontaneamente.

Apesar do grande número de prematuridade conhecido, não há métodos preditores ou mecanismos para prevenir estes nascimentos pré-termos espontâneos.

Uma gama de estudos sugere que desbalanços no microbioma vaginal podem desencadear um nascimento pré-termo, além de outros problemas durante a gestação e doenças no decorrer da vida. No entanto, não há um consenso claro na relação de microbioma vaginal e parto prematuro, e o conhecimento sobre mecanismos específicos dessa interação ainda é muito pobre.

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Identificação de possíveis metabólitos exógenos associados à prematuridade

De acordo com o relatado em um novo estudo do Columbia University Vagelos College of Physicians and Surgeons, publicado em janeiro deste ano na Nature Microbiology, a análise do conteúdo vaginal pode ser um preditor de partos prematuros no futuro.

Neste estudo foi analisada a amostragem de 232 mulheres gestantes no segundo trimestre de gestação e o metaboloma vaginal usando o método “16S ribosomal RNA gene amplicon sequencing”. Destas, 80 entraram em trabalho de parto espontâneo prematuro.

O metaboloma é o conjunto de pequenas moléculas encontradas em um particular nicho biológico, o qual inclui metabólitos fabricados por células locais e microrganismos e moléculas provenientes de fontes externas.

Na análise, dessas substâncias, foram identificados 635 metabólitos de diferentes classes, como aminoácidos, lipídeos, nucleotídeos, carboidratos e xenobióticos. Dentre estes, a análise mostrou múltiplos metabólitos que eram significativamente mais expressos nas gestantes com parto prematuro, dos que nas gestantes com parto a termo.

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Vários dos metabólitos químicos encontrados não são produzidos por microorganismos humanos – o que chamamos de xenobióticos. Dentre os achados, incluem 4 metabólitos, potencialmente de origem exógena:

  1. dietanolamina (DEA), utilizado em perfurações e fluídos em trabalhos metalúrgicos – o qual as mulheres em idade reprodutiva são altamente expostas
  2. etil-beta-glucopiranosídeo, presente em produtos que contêm álcool
  3. tartarato, utilizado em aditivos alimentares e em cosméticos e
  4. EDTA, também utilizado em cosméticos.

Além disso, foram encontrados baixos níveis de colina (um metabólito essencial) em mulheres com parto prematuro subsequente às análises, assim como no sangue do cordão umbilical de bebês prematuros evidenciado em outros estudos.

Embora a fonte não seja identificada no trabalho, os achados da pesquisa sugerem que os altos índices desses produtos achados no metaboloma são provavelmente originados do uso de produtos de higiene pessoal e cosméticos e que podem aumentar o risco de partos prematuros.

Mais estudos são necessários para confirmar, mas a parte boa da notícia e que se eles forem relacionados aos casos de prematuridade, pode ser possível limitar a exposição potencialmente danosa das gestantes com recomendações nos produtos.

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Sobre os dados de microbioma, as relações encontradas foram fracas, e sem muita novidade com relação ao que já se sabe da literatura. Foram identificadas espécies de Dialister ou Enterococcus faecalis nas amostras, bem como correlações com metabólitos de Gardnerella vaginalis.

Segundo os autores, esse achado reforça a maior importância dos metabólitos exógenos. “O perfil do microbioma pode nos dizer quem são os microrganismos, mas o metaboloma nos coloca mais próximo de compreender o que esses microrganismos estão fazendo”.

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Com a análise dos dados, ainda foi possível desenvolver um algoritmo baseado nos níveis de certos metabólitos encontrados que podem predizer com grande acurácia o parto prematuro com até 3 meses de antecedência (tempo validado por 3 coortes), possivelmente pavimentando o caminho para diagnósticos precoces.

O estudo possui limitações, destacadas pelos próprios autores, e não devemos tirar conclusões precipitadas. Os pesquisadores ressaltam que, apesar do potencial de metabólitos como biomarcadores precoces, este modelo algoritmo ainda precisa de maior desenvolvimento e validação antes de poder ser usado na prática clínica.

 

Referências:

Kindschuh, W.F., Baldini, F., Liu, M.C. et al. Preterm birth is associated with xenobiotics and predicted by the vaginal metabolome. Nat Microbiol 8, 246–259 (2023). https://doi.org/10.1038/s41564-022-01293-8

 

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