O distanciamento social durante a COVID-19 afetou o padrão de consumo de álcool?

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O contexto da pandemia COVID-19 evidentemente afetou a vida diária das pessoas, e ao nos depararmos com situações de estresse, ansiedade, medo, tédio, cada um de nós responde de uma maneira individual. As medidas de distanciamento social e lockdown tiveram impactos significativos no comportamento de cada um, e o consumo de bebidas alcoólicas teve destaque.

Com isso em mente, alguns pesquisadores buscaram compreender como essas medidas de isolamento modificaram os mecanismos de consumo de álcool e interação social.

A cultura do consumo do álcool

A maioria das culturas onde o álcool é consumido pode ser dividida em três grandes categorias: culturas do vinho, como na região do Mediterrâneo; culturas de cerveja, como em grande parte da Europa e África; e culturas de destilados, incluindo a Europa Oriental e os países escandinavos.

As bebidas alcoólicas são marcadores de identidade social e expressão e estão fortemente enraizados nas culturas. A cerveja se tornou popular especialmente entre os jovens, sendo um símbolo da vida casual e moderna, uma bebida principalmente consumida em bares, feriados e eventos de lazer.

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Diferentes contextos sociais, diferentes hábitos

Um estudo recente avaliou 179 participantes do Reino Unido e da Espanha em meio a pandemia COVID-19 – de 28 de abril até 7 de maio de 2020. Foi realizado um questionário buscando identificar padrões de consumo de bebidas alcoólicas em cada um dos grupos. Os participantes dos dois grupos precisavam ingerir bebidas alcoólicas pelo menos uma vez por mês e ter morado no país pelo menos nos últimos 10 anos.

A Espanha é considerada um país tradicional do vinho com uma diversidade de regiões vinícolas. Curiosamente, as bebidas alcoólicas têm sido incorporadas nos hábitos sociais e alimentares dos espanhóis, onde beber durante as refeições e misturar-se com os hábitos de trabalho e sociais são muito comuns e permanecem muito importantes.

Já o Reino Unido é considerado um país cervejeiro com uma longa história de cervejarias e uma grande variedade de cervejas, produzidas principalmente para consumo doméstico. Seu consumo per capita por ano (11.6L) é um dos mais elevados entre os países europeus e os pubs são uma parte importante da cultura.

Os pesquisadores observaram que, de forma geral, os espanhóis consumiram menos bebidas alcoólicas durante o lockdown do que antes. Já os britânicos não relataram nenhuma mudança na quantidade de bebida alcoólica ingerida, mas o consumo uísque aumentou nesse grupo.

Tá mas e aí?

Parece que a socialização foi, de fato, a principal razão que impulsionou as alterações nos padrões de consumo durante a pandemia, especialmente no grupo espanhol. Enquanto a cerveja é mais consumida em pubs, restaurantes e bares com amigos, vinho (e até mesmo uísque) são mais relacionados ao consumo individual.

Outra conclusão importante do trabalho foi em relação as diferenças culturais. A diminuição do consumo de álcool pelos espanhóis está relacionada à ausência de contextos sociais, enquanto os britânicos parecem ter adaptado seu consumo ao contexto modificado. O consumo de álcool é um núcleo central da cultura britânica, enquanto para os espanhóis a socialização é mais uma característica cultural do que o próprio álcool.

No Brasil o bar foi para dentro de casa!

O álcool ocupa um lugar de destaque na nossa cultura – positivamente associado a festas, futebol, carnaval. O consumo de bebidas alcoólicas per capita no Brasil ultrapassa a média mundial (8,7L vs. 6L mundialmente, segundo a OMS).

Durante o ano de 2020, os brasileiros – assim como a grande maioria da população – reduziram as atividades físicas, aumentaram o tempo dedicado às telas, reduziram o consumo de alimentos saudáveis ​​e aumentaram a ingestão de alimentos ultraprocessados.

Quanto ao consumo de álcool, os estudos sugerem um aumento considerável na frequência em decorrência das restrições sociais impostas pela pandemia. Se avaliarmos apenas o primeiro mês da COVID-19 (março 2020), foram mais de 240 mil bebidas compradas online. E esse número só aumenta!

Dentre os principais problemas relacionados ao álcool e que podem agravar pelo aumento do consumo durante a pandemia, podemos citar: transtornos mentais e comportamentais, acidentes de trânsito, quedas e lesões, cirrose e doenças cardíacas. Ainda, casos de violência interpessoal e doméstica podem ser agravados pelo uso nocivo do álcool. Outro dado preocupante é o acesso a bebidas alcoólicas por crianças e adolescentes dentro de casa, situação mais controlada em ambientes nos quais a idade é fator limitante para entrada.

O aumento no consumo de álcool pode ser prejudicial em diversos aspectos da vida do paciente. Fique atento aos sinais! Uma intervenção pode ser necessária.

 

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Referências

RODRIGUES, H. How has COVID-19, lockdown and social distancing changed alcohol drinking patterns? A cross-cultural perspective between Britons and spaniards. 

MALTA, D.C. et al. The COVID-19 Pandemic and changes in adult Brazilian lifestyles: a cross-sectional study, 2020.

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