Coração artificial é a solução para os pacientes na fila do transplante cardíaco?

coração

O coração é um dos órgãos do corpo humano que mais chamam a atenção, seja na ciência ou na cultura popular (quem nunca desenhou um coraçãozinho para a pessoa amada?).

Na medicina, há muito tempo sabemos da importância de se manter o coração saudável e funcional para a existência da vida. Ao ponto de este órgão ter sido muitas vezes desenhado e descrito por anatomistas e naturalistas, na tentativa de desvendar os mistérios do coração.

Um desses mistérios, sem dúvida, foi a falha cardíaca que muitas vezes pode levar ao óbito, o que atraiu muitos olhares na busca de solucionar ou minimizar os impactos dessa falha na saúde do ser humano.

Soluções para um coração “partido”

Levando em conta o nosso estilo de vida moderno e o envelhecimento da população global, a quantidade de pessoas vivendo com algum tipo de falha cardíaca só tende a aumentar, estimulando ainda mais a busca por soluções.

Na década de 30 do século XX, foi desenvolvido o primeiro protótipo de um marca-passo cardíaco artificial. Apesar de não ter sido um experimento super bem-sucedido, representou um grande avanço na área.

O primeiro marca-passo cardíaco era bastante rudimentar, grande e externo, muito diferente do que conhecemos hoje.

Porém, seu pior problema não foi a não portabilidade, e sim sua eficiência. Esse marca-passo funcionava a partir da movimentação de uma manivela, e foi capaz de alimentar os batimentos cardíacos por longos… 6 minutos! Nem macarrão é feito em tão pouco tempo.

Obviamente, os conhecimentos sobre patologias e tratamentos cardíacos melhoraram muito ao longo dos anos, com dispositivos muito mais eficientes e tecnológicos. E para os casos mais sérios, a partir do final da década de 60, o transplante de coração se tornou uma opção importante.

Porém, o transplante de órgãos traz uma série de obstáculos e dificuldades, como a longa lista de espera, a logística de transporte do órgão entre doador e receptor, sem contar na grande possibilidade de rejeição.

E assim, como tudo no mundo médico-científico, os processos dos transplantes também vêm sendo alvo de melhorias ao longo dos anos e neste ano, um passo muito importante foi dado.

Falamos um pouco sobre xenotransplante em um post anterior, vale a pena conferir!

Transplante cardíaco de nova geração

Em julho, a Universidade de Duke anunciou ter sido a primeira instituição a realizar o transplante de uma nova geração de corações totalmente artificiais em um homem de 39 anos com falha cardíaca.

O propósito dessa metodologia não é substituir completamente a necessidade de um transplante tradicional de coração, mas garantir que o paciente possa ter uma melhora significativa em sua qualidade de vida, enquanto aguarda aquele momento tão esperado: receber a notícia de que há um coração compatível e disponível.

O coração artificial transplantado pelo hospital da Universidade de Duke foi desenvolvido pela empresa francesa CARMAT, fundada em 2008, que tem como principal missão a busca por soluções tecnológicas para doenças cardiovasculares.

 

Coração artificial – Aeson®

Uma dessas soluções é o coração totalmente artificial batizado de Aeson®.

Em 2021, a agência regulatória dos Estados Unidos (FDA – Food and Drug Administration) autorizou a realização de um estudo clínico utilizando esse biodispositivo, que contará com a participação de 10 pacientes pertencentes à lista de espera por um transplante cardíaco. A cirurgia realizada em julho no hospital da Universidade de Duke faz parte desse estudo.

De maneira geral, o Aeson® é composto por três grandes estruturas: a prótese cardíaca, um equipamento externo portátil, e a unidade de cuidado hospitalar.

A prótese cardíaca inclui quatro valvas biológicas (derivadas de tecido bovino), duas câmaras ventriculares, circuitos eletrônicos, microprocessadores e sensores integrados, que permitem a autorregulação dessa prótese implantada de acordo com as necessidades fisiológicas do paciente. Também conta com uma espécie de saco externo flexível, contendo o líquido responsável por garantir o funcionamento do coração artificial (alguém aqui lembrou do pericárdio?).

O equipamento externo é o que permite a mobilidade e autonomia dos pacientes, pesando aproximadamente 4 kg. Essa estrutura inclui o controlador e baterias.

Por fim, a unidade de cuidados hospitalares é o dispositivo utilizado pela equipe médica durante o transplante, que também permite a monitoração do funcionamento do dispositivo.

Se quiser saber mais sobre essa tecnologia, basta clicar aqui.

 

Esse estudo multicêntrico, conta com a participação de três hospitais norte-americanos, incluindo o hospital da Universidade de Duke. A equipe médica desse hospital conta com o professor de cirurgia e seu assistente, Carmelo Milano e Jacob Schroder, respectivamente.

A cirurgia não foi simples, uma vez que houve a remoção dos ventrículos direito e esquerdo do paciente, e consequente substituição dessas estruturas pelo coração artificial. Mas no final do dia, o que realmente importa é: a cirurgia foi um sucesso!

De acordo com o pesquisador responsável pela pesquisa, Carmelo Milano, essa metodologia será fundamental por preencher uma lacuna assustadora. Dos pacientes com falha cardíaca terminal que estão na fila por transplante cardíaco, apenas 3 a 4% deles conseguem realizar o procedimento dentro de 1 ano. O que nos faz pensar, o que acontece com os outros 96% dos pacientes?

Claramente o estudo ainda está em sua fase inicial, mas por ora está envolto por grandes expectativas, afinal traz a possibilidade de melhora na qualidade de vida e sobrevida dos pacientes terminais que aguardam ansiosamente um coração na fila do transplante.

Provavelmente, nos próximos anos, os resultados detalhados desse estudo clínico estarão disponíveis. Portanto, aguardemos as cenas dos próximos capítulos.

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Referências:

Duke Surgical Team Successfully Implants New Generation Artificial Heart in Patient, First in U.S 2021

Duke surgical team successfully implants new generation artificial heart in patient, first in U.S. The Chronicle. 2021

AESON®, THE CARMAT TOTAL ARTIFICIAL HEART

 

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