Alterações estruturais no cérebro de pacientes com Fibromialgia Juvenil

fibromialgia juvenil retrospectiva

A fibromialgia é uma síndrome musculoesquelética difusa crônica, não inflamatória, que leva ao aumento da sensibilidade dolorosa. Acomete cerca de 3% da população mundial, frequentemente mulheres entre 35-60 anos. No entanto, a doença pode manifestar-se excepcionalmente em crianças, com uma prevalência estimada entre 1-2%, especialmente entre adolescentes.

Da mesma forma que na condição adulta, é caracterizada por dor crônica e, por vezes, incapacitante, mas sua fisiopatologia é pouco caracterizada. Um estudo publicado no fim de janeiro deste ano caracterizou pela primeira vez alterações do volume de substância cinzenta em pacientes com fibromialgia juvenil.

Síndrome da Fibromialgia juvenil (SFJ)

A Síndrome da fibromialgia juvenil (SFJ) é uma síndrome de dor crônica musculoesquelética não inflamatória, tipicamente diagnosticada na adolescência. É caracterizada por dor difusa generalizada, dificuldade para dormir, fadiga e outros sintomas associados, e pode ser incapacitante em diversos domínios da vida do paciente.

O tratamento ideal para a SFJ é multidisciplinar, com foco na educação sobre doença, juntamente com fisioterapia, terapia cognitivo-comportamental, higiene do sono, hábitos de vida saudáveis e medicamentos para controle de sintomas, conforme apropriado.

Atualmente, não há exames específicos ou marcadores de doença para diagnosticar a condição, e a classificação é baseada no relato de dor e outros sintomas do paciente, e após descartar outras causas médicas subjacentes. Além disso, nenhum estudo publicado havia abordado a fisiopatologia da SFJ – até agora.

Esse ano, pesquisadores caracterizaram as alterações de volume de substância cinzenta em pacientes com SJF pela primeira vez, além de investigar sua relevância funcional e clínica.

O cérebro de pacientes com fibromialgia

Alguns estudos já haviam observado uma hiperexcitabilidade central em crianças com dor crônica, sugerindo que o processamento nociceptivo cortical estava alterado na SFJ. Além disso, um estudo de ressonância magnética funcional mostrou que adolescentes com dor idiopática tiveram ativação diminuída nas regiões do tálamo e giros frontais pré-central e médio durante o processamento da dor.

Em adultos, os sintomas de dor crônica parecem estar associados a alterações cerebrais envolvendo múltiplos circuitos e domínios funcionais. Ainda, já foi visto consistentes reduções no volume de substância cinzenta em regiões envolvidas nas dimensões afetivas e cognitivas da dor, como o córtex cingulado anterior-médio e o córtex pré-frontal medial. Em crianças, tais achados ainda não eram bem estabelecidos.

Um grupo de pesquisadores avaliou as diferenças do volume de massa cinzenta de 34 adolescentes com SFJ e 38 adolescentes saudáveis – todas mulheres. Além disso, o grupo estudou se os padrões cerebrais validados que predizem dor, controle cognitivo ou emoção negativa foram amplificados/atenuados nas pacientes, e se as alterações estruturais relatadas na fibromialgia adulta seriam replicadas nas SFJ.

fibromialgia juvenil

Alterações encontradas na SFJ

Comparadas às meninas do grupo controle, as pacientes apresentaram reduções de volume de massa cinzenta na região do córtex cingulado anterior associada à dor. Dentro do grupo SFJ, as pacientes que relataram maior incapacidade funcional apresentaram maior redução de volume nas regiões frontais inferiores ligadas ao processamento afetivo, autorreferencial e relacionado à linguagem.

Além disso, os pesquisadores observaram que as reduções do volume de massa cinzenta no grupo de pacientes mostraram sobreposição parcial com os achados na fibromialgia do adulto, especificamente para os córtices cingulados anterior/posterior.

Com isso, eles comentam que tais achados relacionadas à dor podem ser uma característica estrutural da fibromialgia, enquanto alterações em regiões envolvidas em processos emocionais, autorreferenciais e relacionados à linguagem podem predizer o impacto da doença no bem-estar dos pacientes.

 

Os achados fisiopatológicos em um estágio inicial da doença podem direcionar intervenções mais eficazes para a redução dos sintomas multidimensionais da fibromialgia. Já foi evidenciado, por exemplo, que as alterações na via descendente de inibição da dor melhoraram com o exercício físico regular.

A sobreposição parcial entre os achados da fibromialgia juvenil e adulta reforça a importância da identificação precoce dos sintomas e da intervenção para prevenir a transição para as formas adultas da doença. Ainda, tais alterações também poderiam ser moduladas com estratégias de tratamento semelhantes as dos adultos.

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Referências:

Suñol M, Payne MF, Tong H, Maloney TC, Ting TV, Kashikar-Zuck S, Coghill RC, López-Solà M. Brain Structural Changes during Juvenile Fibromyalgia: Relationships with Pain, Fatigue and Functional Disability. Arthritis Rheumatol. 2022 Jan 25. doi: 10.1002/art.42073. Epub ahead of print. PMID: 35076177.

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