Altos níveis de HDL podem estar associados a um risco maior de fraturas

HDL fratura

Isso mesmo, o HDL, o “colesterol bom”!

Seu papel na aterosclerose e seu potencial terapêutico em doenças cardiovasculares é bem claro. Mas os estudos mais recentes têm questionado os resultados benéficos dos altos níveis de HDL para outras doenças, como degeneração macular relacionada à idade, diabetes tipo II, infecções.

Um novo estudo indicou que altos níveis de HDL podem estar associados com um maior risco de fraturas em idosos.

O HDL pode não ser tão bom assim?

Um grande estudo de coorte, publicado na revista JAMA Cardiology na semana passada, buscou identificar se os níveis de HDL-C (lipoproteína de alta densidade) estão associados a um maior risco de fraturas em idosos saudáveis.

Os pesquisadores avaliaram mais de 15 mil participantes com 70 anos ou mais. Destes, 1659 sofreram pelo menos uma fratura em um acompanhamento médio de 4 anos – tanto fraturas traumáticas grandes, quanto de trauma mínimo.

Cada aumento de 1 desvio padrão do nível de HDL foi associado a um risco 14% maior de fraturas nessa população.

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Ao estratificar os dados em quintis, os indivíduos com maiores níveis (quintil mais alto – Q5) foram identificados com um aumento de 33% do risco de fratura em comparação àqueles com níveis mais baixos (Q1).

Os autores comentam que fizeram as devidas correções para os fatores de confusão comuns para fraturas (como atividade física, uso de álcool e tabaco, IMC, e uso de medicamentos para hipercolesterolemia e osteoporose), e que a associação permanece verdadeira.

Então compensa pararmos de focar no aumento do HDL?

Vamos com calma…

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O papel do colesterol na fisiopatologia óssea

Não podemos deixar de lado a correlação positiva entre doença cardiovascular e risco de osteoporose – o que sugere a relação entre hipercolesterolemia e o metabolismo ósseo. Os estudos mostram que uma disfunção dos níveis de HDL afetam a massa óssea de diferentes formas.

Níveis baixos podem estar associados a um microambiente inflamatório, afetando a diferenciação e a função dos osteoblastos – há uma alteração de quimiocinas específicas relacionadas ao osso e das cascatas de sinalização. Dessa forma, baixos níveis de HDL, assim como densidade mineral óssea reduzida, são fatores de risco para o paciente.

Por outro lado, alguns estudos pré-clínicos relataram que HDL em em excesso pode reduzir a densidade mineral óssea ao reduzir o número e a função dos osteoblastos. Logo, sua redução seria benéfica no tratamento da osteoporose.

As terapias disponíveis para hipercolesterolemia acabam por manter os níveis de HDL acima do estabelecido, logo, a associação com o metabolismo ósseo também será afetada. Porém, o significado clínico disso ainda é incerto.

A inconsistência dos achados entre os estudos pode ser explicada, em partes, por questões individuais – genética, idade, hábitos de vida, metabolismo individual. Nesse sentido, ainda há muito o que se estudar para que uma conclusão definitiva seja tomada.

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Nem mocinho nem vilão

Outra questão a ser comentada: nesse trabalho específico publicado na JAMA (embora os fatores de confusão tenham sido ajustados) o grupo avaliou uma população saudável, com idade média de 75 anos.

Esses dados provavelmente seriam diferentes ao avaliar indivíduos idosos ou de meia-idade com doenças crônicas. Esses indivíduos apresentam um desbalanço que precisa ser corrigido, e o aumento do HDL pode ter benefícios nessa população doente – maior que o risco de fraturas.

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Porém, como citamos: há diversos estudos que focam no papel do HDL em outras condições, que não apenas os benefícios cardiovasculares. Sem condutas radicais, o importante é nos mantermos sempre atualizados, avaliando a individualidade de cada paciente, e nos questionando: será que o risco supera mesmo os benefícios para o meu paciente?

 

Referências:

Hussain SM, Ebeling PR, Barker AL, Beilin LJ, Tonkin AM, McNeil JJ. Association of Plasma High-Density Lipoprotein Cholesterol Level With Risk of Fractures in Healthy Older Adults. JAMA Cardiol. Published online January 18, 2023. doi:10.1001/jamacardio.2022.5124

Kjeldsen EW, Nordestgaard LT, Frikke-Schmidt R. HDL Cholesterol and Non-Cardiovascular Disease: A Narrative Review. Int J Mol Sci. 2021 Apr 27;22(9):4547. doi: 10.3390/ijms22094547. PMID: 33925284; PMCID: PMC8123633.

High HDL-C Levels Linked to Increased Fracture Risk – Medscape – Jan 20, 2023.

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