Listeria monocytogenes: patogênese, diagnóstico e tratamento da listeriose

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Recentemente a Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos anunciou um recall de alguns alimentos e produtos lácteos, por uma possível contaminação com Listeria monocytogenes.

Entenda mais sobre a bactéria, quais os sinais e sintomas dos possíveis infectados e como tratar os pacientes.

Listeria monocytogenes

A Listeria monocytogenes é a única espécie de Listeria que infecta humanos, sendo um patógeno oportunista – transmitida por alimentos contaminados, via trato gastrointestinal.

São bactérias em forma de bastonete curto, gram positivas, e podem ser aeróbias ou anaeróbias (facultativo).

A bactéria é causadora de Listeriose – uma gastroenterite por ingestão de alimentos contaminados. Casos graves são raros, mas podem ocorrer em imunocomprometidos, gestantes ou idosos. Quando não controlada adequadamente, pode resultar em bacteremia, atingindo a corrente sanguínea (listeriose invasiva).

Listeria monocytogenes

Gastroenterite por Listeria monocytogenes

A bactéria é responsável por menos de 1% dos casos de infecção por ingestão de alimentos contaminados. Ocorre quando há ingestão de um grande número de bactérias.

No intestino, a bactéria atravessa o epitélio e se replica utilizando energia da célula hospedeira. A infecção é fracionada em 4 etapas principais: internalização do patógeno, escape do vacúolo intracelular, nucleação dos filamentos de actina e disseminação célula a célula. Toda a replicação dura cerca de 40 minutos.

Clinicamente, o paciente apresenta condição semelhante à doença infecciosa aguda gastrointestinal – febre, diarreia aquosa, náusea, vômito, dor de cabeça e dores nas articulações e músculos.

Em imunocompetentes, há uma defesa primária contra a infecção, os sintomas são autolimitados e duram cerca de 2 dias.

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Listeriose invasiva

Quando não controlada adequadamente, a infecção por Listeria monocytogenes pode resultar em bacteremia, atingindo a corrente sanguínea. Nesse caso, estamos diante da listeriose invasiva, condição grave e rara. É mais comum em gestantes imunocomprometidas ou mais velhas, mas também pode ocorrer em neonatos, associada a doenças maternas e parto prematuro.

Clinicamente, os pacientes apresentam febre, calafrios e 25% relatam diarreia prévia. Pode haver disseminação para SNC, desenvolvendo um quadro de meningite – especialmente em pacientes > 50 anos, gestantes e imunossuprimidos.

Casos graves progridem para choque séptico. A taxa de mortalidade é de 45% em 3 meses.

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Como diagnosticar?

É necessária realização de exame físico e anamnese completa. Em caso de gastroenterite, pode ser realizado exame de fezes ou hemocultura, mas não é rotina obrigatória. Em geral, na suspeita de gastroenterite, sugere-se aguardar resolução dos sintomas ou tratar empiricamente se julgar necessário.

Em caso de infecção invasiva, o exame neurológico deve ser realizado. Na suspeita de infecção do SNC por Listeria, realizar análise de LCR (pressão de abertura, coloração, contagem de células etc.).

A utilização da hemocultura em casos graves é controversa. Além de apresentar baixa sensibilidade, a bactéria pode ser confundida com difteroides. Em caso de suspeita forte + hemocultura negativa, testes moleculares são indicados.

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Como tratar?

Em geral, a gastroenterite é autolimitada. Na ausência de febre, não se recomenda a antibioticoterapia, assim como em paciente imunocompetentes com menos de 65 anos de idade.

Porém, em caso de gastroenterite febril por Listeria monocytogenes em imunocomprometidos, idosos ou gestantes, sugere-se amoxicilina 500 mg via oral a cada 8 horas, por 5-7 dias.

Em caso de infecções invasivas, o esquema ampicilina (2 g via endovenosa a cada 4 horas) + gentamicina (7,5 mg/kg/dia via endovenosa em doses fracionadas a cada 8 horas) é -preferido, por 7-14 dias.  O tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível.

Em gestantes, não é necessário adicionar gentamicina, mas manter a ampicilina por 14 dias. Embora sulfametoxazol + trimetoprima seja uma alternativa possível para os pacientes (via oral ou endovenosa, a depender da gravidade da situação), gestantes só podem utilizar se estiverem no segundo trimestre de gestação.

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Referências:

UpToDate®. Clinical manifestations and diagnosis of Listeria monocytogenes infection.

UpToDate®. Treatment and prevention of Listeria monocytogenes infection.

U.S. FOOD & DRUG ADMINISTRATION. Outbreak Investigation of Listeria monocytogenes: Queso Fresco and Cotija Cheese (February 2024). Content current as of: 02/14/2024. Disponível em: https://www.fda.gov/food/outbreaks-foodborne-illness/outbreak-investigation-listeria-monocytogenes-queso-fresco-and-cotija-cheese-february-2024

 

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