Vacinas e a variante Ômicron: a importância da dose de reforço

vacina da gripe

Este ano estamos vivenciando mais uma onda da pandemia de COVID-19, mas dessa vez causado pela variante Ômicron do coronavírus. Felizmente, até recentemente, a vacinação tem trazido uma merecida sensação de segurança especialmente pela proteção contra hospitalização.

No entanto, estudos têm mostrado que a efetividade das duas doses da vacina está significativamente reduzida contra a Ômicron, e a dose de reforço é a melhor aposta para se proteger contra a essa variante.

Nesse post, vamos falar um pouco da eficácia das vacinas contra a Ômicron, de dados mais atualizados, e do que muda com a dose de reforço.

As vacinas atuais são eficazes contra a variante Ômicron?

A resposta mais curta é: parcialmente.

Os estudos têm mostrado que a proteção contra a infeção por coronavírus se torna verdadeiramente efetiva apenas após a terceira dose da vacina. Note que a efetividade ainda é menor do que contra as variantes prévias, mas continua sendo a melhor chance de proteção. Vamos aos detalhes.

Um dos primeiros estudos da Universidade de Oxford mostrou que duas doses da vacina Pfizer-BioNTech e AstraZeneca conferem pouca ou nenhuma proteção contra infecção pela variante Ômicron. Outro estudo da agência Discovery Health na Africa do Sul mostrou que duas doses de vacina Pfizer–BioNTech confere uma proteção contra infecção de 33% e 70% contra hospitalização pela variante Ômicron. Esses dados mostram uma queda significativa quando comparado com a proteção de 80% contra infecção e 93% contra hospitalização pela variante Delta.

Parte do problema é o fato de que a imunidade produzida pelas vacinas contra o SARS-CoV-2 diminui com o passar do tempo. Um estudo recente do UK mostrou que a proteção contra a variante Delta diminui após 20 semanas da segunda dose. No caso da vacina da AstraZeneca a efetividade cai para 44.3% e a da Pfizer-BioNTech diminui para 66.3%. Essa diminuição é mais notável em pessoas acima dos 65 anos de idade, comparada com pessoas entre 40-64 anos.

coronav vacinas

Em contrapartida, depois de 20 semanas ambas as vacinas ainda conferem proteção alta contra hospitalização e morte, sendo respectivamente 80% e 84.8% para AstraZeneca e 91.7% e 91.9% para Pfizer-BioNTech.

Estes dados são corroborados por um interessante estudo da Universidade Harvard, nos EUA, publicado na revista Cell. Este estudo comparou o nível de produção de anticorpos neutralizantes após 2 doses ou 3 doses das vacinas Pfizer–BioNTech, Moderna e Johnson & Johnson/Janssen. O principal resultado foi a confirmação da redução significativa na imunidade contra a Ômicron mediante 2 doses de qualquer uma das vacinas.

A boa notícia é de que a terceira dose das vacinas de mRNA Pfizer–BioNTech e Moderna, elevou a produção de anticorpos neutralizantes em 27x e 19x, respectivamente, comparado com indivíduos que tomaram apenas 2 doses das vacinas. Este estudo também mostrou que indivíduos que tomaram uma dose da vacina da Johnson & Johnson/Janssen seguida por uma segunda dose da Moderna mostraram aumento de anticorpos de 4x.

Esse aumento de imunidade causado pela terceira dose das vacinas de mRNA é corroborado em outro estudo publicado na revista Science. Neste estudo observou-se elevação de 23x de anticorpos neutralizantes contra a variante Ômicron em pacientes que tomaram a terceira dose da vacina comparados com aqueles que tomaram apenas 2 doses.

E quanto a CoronaVac, que teoricamente seria mais eficaz contra a variante Ômicron?

Com relação a vacina CoronaVac, estudos tem mostrado que duas doses da vacina ainda não são efetivas contra a variante Ômicron. No entanto, uma terceira dose com a vacina de mRNA Pfizer-BioNTech elevou o nível de anticorpos em 1.4x comparado com duas doses da CoronaVac. Embora esse aumento tenha sido notado, o nível de anticorpos ainda permanece 7.1x menor do que contra a variante ancestral e 3.6 x menor do que contra a variante Delta.

Resumindo: a terceira dose é essencial para promover proteção parcial contra a infeção pela Ômicron, independente da fabricante.

 

Por que as vacinas são menos efetivas contra a variante Ômicron?

Nós já cobrimos em um post anterior qual a diferença da variante Ômicron e porque isso importa. Mas a resposta mais curta é de que essa variante possui mais de 30 mutações na proteína Spike, que é utilizada para a fabricação das vacinas.

Felizmente, os estudos populacionais têm mostrado que sim, os sintomas causados pela variante Ômicron são mais leves do que os causados pela variante Delta. Porém, já existe uma segunda sub-linhagem da Ômicron.

Essa segunda sub-linhagem é chamada BA.2. A primeira variante identificada é chamada de BA.1, e é a responsável pela maioria das infecções causadas pela Ômicron no mundo. Embora essa segunda sub-linhagem tenha sido identificada em janeiro desse ano, estudos preliminares têm mostrado que a efetividade das vacinas é similar para ambas as sub-linhagens da ômicron.

 

Se quiser saber mais, todas as referências dos estudos estão listadas abaixo. No nosso Portal, temos falado bastante dessa variante e do andamento da pandemia de COVID-19.

_________________________________________________________________

Referências:

Dejnirattisai W, et al; Com-COV2 study group. Reduced neutralisation of SARS-CoV-2 omicron B.1.1.529 variant by post-immunisation serum. Lancet. 2022 Jan 15;399(10321):234-236. doi: 10.1016/S0140-6736(21)02844-0

Discovery Health releases at-scale real-world analysis of Omicron outbreak; including collaboration with the SA Medical Research Council (SAMRC) to analyse vaccine effectiveness. Dec 2021.

Effectiveness of BNT162b2 Vaccine against Omicron Variant in South Africa. Dec 2021. doi: 10.1056/NEJMc2119270

Nick Andrews et al. Duration of Protection against Mild and Severe Disease by Covid-19 Vaccines. Jan 2022. The New England Journal of Medicine. doi: 10.1056/NEJMoa2115481

Garcia-Beltran et al. mRNA-based COVID-19 vaccine boosters induce neutralizing immunity against SARS-CoV-2 Omicron variant. Cell. Dec 2021. https://doi.org/10.1016/j.cell.2021.12.033

ALEXANDER MUIK et al. Neutralization of SARS-CoV-2 Omicron by BNT162b2 mRNA vaccine–elicited human sera. Jan 2022. DOI: 10.1126/science.abn7591.

Pérez-Then, E., Lucas, C., Monteiro, V.S. et al. Neutralizing antibodies against the SARS-CoV-2 Delta and Omicron variants following heterologous CoronaVac plus BNT162b2 booster vaccination. Nat Med (2022). https://doi.org/10.1038/s41591-022-01705-6

UK Health Security Agency. COVID-19 vaccine surveillance report. Week 8. Jan 2022.

Google search engine

1 COMENTÁRIO

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui