Pesadelos frequentes podem indicar Doença de Parkinson 5 anos antes do diagnóstico

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A Doença de Parkinson é um distúrbio neurodegenerativo no qual há perda progressiva de neurônios na substância negra, resultando na queda da dopamina e sintomas motores, cognitivos e psiquiátricos.

O diagnóstico da doença é essencialmente clínico, com a identificação de bradicinesia, tremor de repouso e/ou rigidez. A terapia baseia-se em medidas farmacológicas e não farmacológicas, e os resultados são mais evidentes quanto antes iniciado o tratamento.

Identificar os sinais e sintomas que precedem a doença podem permitir um direcionamento mais personalizado. Nesse sentido, um estudo recente buscou investigar se há associação entre pesadelos frequentes e a incidência de Doença de Parkinson.

Você tem pesadelos frequentes?

Foram analisados quase 4 mil homens, mais 67 anos ou mais, em um estudo de coorte nos Estados Unidos. No início do estudo, nenhum dos participantes apresentava diagnóstico de Doença de Parkinson, e todos foram submetidos ao questionário de qualidade de sono (Pittsburgh Sleep Quality Index).

De todos os homens avaliados, quase 10% relatam ter sonhos angustiantes com frequência.

O estudo teve segmento de 12 anos, e nesse período foram diagnosticados 91 casos de Doença de Parkinson (2,4%). Nesse grupo, foram identificados indivíduos com maior propensão à depressão e insônia. De forma concordante, os participantes que relataram pesadelos frequentes no início do estudo também foram os mais frequentes no grupo de pacientes.

Ao estratificar o tempo de acompanhamento, participantes que relatam sonhos angustiantes com frequência nos 5 anos anteriores ao diagnóstico apresentaram um risco três vezes maior para Doença de Parkinson (OR, 3,38; IC 95%, 1,3-8,7; p=0,01).

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Como interpretar os achados desse estudo?

Outros estudos já haviam descrito alterações de sono em pacientes com Parkinson, e os achados na literatura apontam para apresentação dos sintomas em cerca de 3 a 5 anos antes do diagnóstico.

Nesse estudo, foi observado uma frequência maior de indivíduos que desenvolveram a doença e apresentavam pesadelos nos últimos 5 anos anteriores ao diagnóstico. Ao avaliar um período maior (7 anos), essa associação foi perdida, podendo indicar que sonhos angustiantes de início tardio, em vez de pesadelos ao longo de toda a vida, podem estar associados ao aumento do risco.

Além disso, há trabalhos que mostram que na fase adulta, a frequência de pesadelos é mais frequente em mulheres. Porém, após os 65 anos, essa diferença entre homens e mulheres não é mais significativa. Dessa forma, talvez a presença de sonhos disfóricos em idades mais avançadas possa representar sinais de alteração neural, independente do sexo.

Nesse sentido, é preciso aprofundar um pouco melhor os conhecimentos de sono/vigília, e quais as alterações neurais que podem estar ocorrendo durante o sono. Durante o sono REM (estágio no qual sonhos e pesadelos ocorrem), a atividade e o fluxo sanguíneo nas áreas límbicas e paralímbicas aumentam, podendo explicar a regulação de emoções associadas aos sonhos.

De forma concordante, sonhos angustiantes já demonstraram estar correlacionados com gravidade da depressão e ansiedade. Ainda, o autor do artigo comenta sobre um estudo que identificou alterações estruturais no lobo frontal direito correlacionadas com um aumento da frequência de sonhos angustiantes.

Dado que o comprometimento cognitivo e a depressão podem ocorrer de forma simultânea ou estar associados a um aumento da Doença de Parkinson, é plausível que sonhos angustiantes e sintomas depressivos no estágio prodrômico da doença sejam ambos causados ​​pela neurodegeneração das regiões frontais direitas do cérebro, que estão envolvidas na regulação negativa de emoções em estados conscientes.

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E quanto as limitações?

Esse estudo tem pontos fortes, incluindo o desenho prospectivo e longo período de acompanhamento, o uso de um questionário bem validado para avaliar os distúrbios habituais do sono e a inclusão de uma ampla gama de possíveis fatores de confusão. Porém, precisamos mencionar as limitações.

Estudos de coorte apresentam evidências robustas e confiáveis, mas alguns cuidados são necessários na sua interpretação. Embora uma associação seja identificada, não há determinação causal.

Inicialmente, este estudo baseou-se no diagnóstico médico autorrelatado para determinar a Doença de Parkinson, o que pode reduzir o número de casos classificar de forma incorreta alguns pacientes. Além disso, o número de casos diagnosticados ao fim do estudo é relativamente pequeno, o que pode impactar nos achados.

Ainda, o questionário não distingue claramente entre pesadelos frequentes sem despertar e sonhos angustiantes com despertar. Logo, não é possível determinar se as associações podem variar de acordo com o subtipo de sonho angustiante, bem como a quantidade de vezes que o paciente despertou durante a noite.

E por fim, o estudo avaliou apenas homens mais velhos. Embora a frequência da Doença de Parkinson seja maior nessa população, não é possível extrapolar os achados para mulheres, ou adultos com acometimento precoce.

 

Como aplicar esses achados na prática?

Como destacamos, a identificação de pesadelos no indivíduo idoso não é determinada como causa da doença, nem necessária ao seu desenvolvimento. No entanto, a grande contribuição desse trabalho é quanto a possível identificação de um pródromo, 5 anos antes do diagnóstico.

Identificar a presença de distúrbios de sono em indivíduos já predispostos a Doença de Parkinson, ou estar atento as alterações do padrão de sono após os 65 anos podem ser direcionamentos interessantes, permitindo o diagnóstico precoce e intervenções mais eficazes.

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Referências:

Dr Abidemi I. Otaiku. Distressing dreams and risk of Parkinson’s disease: A population-based cohort study. eClinicalMedicine. 2022. https://doi.org/10.1016/j.eclinm.2022.101474

 

 

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