EBV como causa principal para o desenvolvimento da Esclerose Múltipla

EBV

Um estudo recente identificou o vírus Epstein-Barr (EBV) como a causa provável da esclerose múltipla (EM). Os investigadores descobriram que o risco de EM aumentou 32 vezes após a infecção viral. Este estudo é o primeiro a fornecer evidências convincentes de uma ligação causal entre EBV e EM, e foi publicado em 13 de janeiro na Science, uma das revistas líderes em ciência e pesquisa (fator de impacto 47.728).

Esclerose Múltipla (EM)

A esclerose múltipla (EM) é uma doença neurológica crônica progressiva, na qual há um processo inflamatório autoimune, com desmielinização da substância branca do SNC. Acomete mais frequentemente mulheres, entre os 20-40 anos de idade, e possui uma prevalência variável (nos EUA, 100/100.000 pessoas, enquanto no Brasil, 15/100.000).

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Assim como diversas doenças multifatoriais, é de etiologia desconhecida, associando fatores ambientais e genéticos (alô, HLA). No entanto, algumas hipóteses sugerem o envolvimento de infecções predispondo o aparecimento da EM, especialmente associadas ao EBV. E com esse novo estudo, temos a confirmação! Segundo os autores, a EM é uma complicação de uma infeção viral.

Epstein-Barr vírus (EBV)

Vamos revisar um pouco sobre o Epstein-Barr vírus

O EBV é um herpes vírus humano que tem predileção por células mononucleares, em especial os linfócitos – logo, pode causar mononucleose infecciosa. Cerca de 95% dos adultos são infectados por EBV, a maioria adquirindo aos 15-20 anos. Quando sintomáticos, os pacientes apresentam febre, faringite e linfadenopatia cervical.

O EBV só infecta humanos, e, embora haja algumas descrições por transmissão sexual, aleitamento ou transfusão, a principal forma de transmissão se dá por secreção salivar (daí o nome “Doença do beijo”). Após a infecção, o vírus permanece latente nos linfócitos.

EBV

EBV e sua relação com a EM

No estudo em questão, os pesquisadores avaliaram uma coorte de mais de 10 milhões de jovens adultos que atuavam nas forças armadas dos EUA. Destes, 955 foram diagnosticados com EM durante o período de serviço. Foi visto que o risco de EM aumentou 32 vezes após a infecção por EBV.

Apenas 1 dos casos de EM não apresentou evidência sorológica de EBV. Inclusive, esse indivíduo pode ter sido infectado com o vírus após a última coleta de sangue, e não conseguiu soroconverter em resposta à infecção, ou foi diagnosticado erroneamente. Mas se o vírus acomete grande parte da população, como relacionar ao desenvolvimento de EM?

Os pesquisadores mediram as concentrações séricas da cadeia leve do neurofilamento (sNflL), um biomarcador de degeneração neuroaxonal, em amostras de indivíduos EBV-negativos no início do estudo. Os níveis séricos aumentaram apenas após a soroconversão do EBV.

Ainda, esses achados não foram semelhantes após infecção por outros vírus (como citomegalovírus), ou por outros fatores de risco conhecidos para EM.

 

O estudo fornece dados convincentes que implicam no EBV como o gatilho para o desenvolvimento de EM. E quais os mecanismos que explicam essa associação?

Segundo os pesquisadores, a real explicação permanece indefinida.

Uma hipótese seria o mimetismo molecular. As sequências de proteína viral do EBV poderiam imitar as proteínas de mielina humana, ou outras proteínas do SNC, induzindo autoimunidade contra essas moléculas.

Também é preciso considerar as influências genéticas e ambientais. Como comentamos, virtualmente toda a população após os 30 anos é portadora do vírus EBV, mas nem todo mundo desenvolve EM. Ainda, falamos sobre a prevalência por localização. Sem mencionar tabagismo, obesidade e deficiência de vitamina D que alteram a predisposição ao desenvolvimento da doença.

Ao menos podemos dizer o que não ocorre: a associação reversa. Os pesquisadores comentam que a desregulação imunológica durante a fase pré-clínica da EM aumenta a suscetibilidade à infecção por EBV é improvável. A soroconversão do EBV ocorre antes da elevação dos níveis de sNfL, um marcador precoce de EM pré-clínica.

 

Uma vacina seria a solução?

Como a maioria dos casos de EM parece ser causada pelo EBV, é de se questionar se uma vacina adequada pode prevenir a doença. Em teoria, sim. Inclusive, parece que os pesquisadores responsáveis pelo estudo estão nesse caminho, vamos aguardar. Outra perspectiva poderia ser direcionada ao desenvolvimento de antiviraishttps://portal.wemeds.com.br/category/mais-conteudos/farmacologia/ no tratamento da EM.

Independente da abordagem, não faltam ideias, e temos mais um dia de sucesso para a ciência e a medicina!

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Referências:

KJETIL BJORNEVIK et al. Longitudinal analysis reveals high prevalence of Epstein-Barr virus associated with multiple sclerosis. Science. 2022.

Epstein-Barr virus may be leading cause of multiple sclerosis. Science News. Science Daily. Jan 2022.

Pauline Anderson. Epstein-Barr Virus a Likely Leading Cause of Multiple Sclerosis. Medscape Medical News. Jan 2022.

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