

A sexualidade na terceira idade tem passado por mudanças significativas, especialmente entre as mulheres. Embora o envelhecimento traga alterações fisiológicas, o desejo sexual pode persistir ou até aumentar, com o auxílio de adjuvantes. Estudos mostram que, ao longo das décadas, mais mulheres idosas passaram a enxergar o sexo de forma positiva.
Veja mais sobre as mudanças fisiológicas e estratégias para lidar com a sexualidade da mulher na menopausa.
Mudanças Fisiológicas e a Sexualidade na Terceira Idade
A menopausa é um processo biológico natural que marca o fim da fase reprodutiva da mulher, geralmente ocorrendo entre os 45 e 55 anos. As mudanças hormonais dessa fase resultam em diversos sintomas que podem impactar a qualidade de vida das mulheres, incluindo insônia, alterações de humor, secura vaginal e diminuição da libido.
A Insônia é frequente na Menopausa
A insônia é um dos sintomas mais frequentes da menopausa, afetando significativamente a qualidade do sono das mulheres. A redução dos níveis de estrogênio interfere no ciclo do sono, causando dificuldades para adormecer e manter um sono profundo e reparador. Além disso, os fogachos, que ocorrem principalmente à noite, podem interromper o sono repetidamente, resultando em fadiga diurna e dificuldade de concentração.
O estrogênio também faz parte da quimio-organização dos neurotransmissores de serotonina e dopamina. Como consequência, muitas mulheres experimentam sintomas de ansiedade, irritabilidade e episódios depressivos. Estudos apontam que mulheres com histórico de transtornos de humor podem ser mais propensas a experimentar sintomas emocionais intensificados durante essa fase.
A Secura Vaginal afeta cerca de metade das Mulheres na Menopausa
Um dos pontos mais importantes para a saúde sexual da mulher na menopausa é a secura vaginal. A secura vaginal é outro sintoma comum da menopausa, afetando até 50% das mulheres nessa fase.
A redução de estrogênio leva à diminuição da lubrificação natural, atrofia vulvar e afinamento das paredes vaginais. Esses fatores frequentemente causam dispareunia (dor na relação sexual). Muitas mulheres até sofrem de disúria (ardência ao urinar) constantemente, devido ao hipoestrogenismo, merecendo olhar mais delicado ao se levantar a possibilidade de cistite ou outras alterações do aparelho urinário.
O Envelhecimento traz Mudanças na Sexualidade Feminina
De fato, o envelhecimento traz mudanças na sexualidade feminina. Mas, recentemente se tem observado que o desejo sexual da mulher da terceira idade pode persistir ou até aumentar, principalmente com adjuvantes nesse processo.
Estudos indicam que, ao longo das décadas, mais mulheres idosas passaram a considerar o sexo um aspecto positivo da vida. Em 2000, 78% das mulheres de 70 anos relataram essa visão, comparado a apenas 5% em 1970.
A visão tradicional associa uma vida sexual ativa à penetração vaginal e à ereção peniana. Mas as mudanças anatômicas e fisiológicas da vulva não significam o fim da vida sexual. Formas alternativas de prazer, como carícias, beijos, sexo oral, massagens, ganham destaque. O avanço da idade pode trazer vantagens, como mais tempo livre e maior segurança nos relacionamentos.
Com isso, vamos a algumas estratégias para melhorar a vida sexual das nossas idosas.
Estratégias para Melhorar a Saúde Sexual da Mulher na Menopausa
Avaliação de medicamentos e Tratamento de saúde mental: sempre levantar a questão de que as medicações estão influenciando na libido, e sempre reavaliar o uso.
Deve-se lembrar de buscar ativamente doenças, sintomas e medicações que atrapalhem essa qualidade sexual. Doenças crônicas interferem indiretamente, como diabetes e hipertensão.
Muitos antidepressivos podem reduzir o desejo e a excitação. Problemas articulares precisam ser avaliados para diminuir a dor da paciente de forma contínua. O prolapso genital (útero, bexiga e/ou reto) e a incontinência de esforço, causados pelo aumento de pressão abdominal (nas mulheres, claro, o fator de risco principal são o número de gestações) também precisam ser abordados.
- Terapia de reposição hormonal: precisa ser muito bem avaliada se os benefícios superam os riscos.
O fator mais importante a ser considerado é o aumento do risco cardiovascular. Além disso, existe uma janela de oportunidade de 10 anos entre o início da menopausa e o início da TRH.
Cuidado: Reposição de testosterona é um assunto muito controverso. Pode ser indicado para mulheres na menopausa em casos específicos, principalmente para tratar desejo sexual hipoativo persistente e clinicamente significativo, quando outras causas foram excluídas. No entanto, seu uso deve ser bem avaliado e monitorado por um profissional de saúde.
- Tratamento da Síndrome Geniturinária da Menopausa: estrogênios e hidratantes vaginais: restauram lubrificação e elasticidade. Dilatadores vaginais: melhoram a elasticidade em casos extremos. Fisioterapia pélvica para prolapsos, incontinência (alguns casos são cirúrgicos). Vibradores.
- Tratamento de fogachos: os ISRS (Inibidores Seletivos de Recaptação de Serotonina) são uma boa opção para redução de sintomas. Entre eles, a paroxetina tem maior evidência. Isoflavona de soja e chá de amora estão também sendo prescritos em consulta.
Nós, profissionais de saúde, devemos abordar o tema de sexualidade na terceira idade sem tabus.
Devemos conversar sobre a masturbação, uma prática essencial para explorar novas formas de prazer. Podemos abordar sobre maior tempo necessário para estimulação e excitação, combatendo a ideia de que sexo é somente penetração. Proteções impermeáveis no colchão para o gerenciamento da incontinência, posições sexuais adaptadas etc. Nada é óbvio quando o assunto é sexualidade.
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Referências:
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Soares, C. N. (2016). Depression and menopause: An update on current knowledge and clinical management for this critical transition. Medical Clinics of North America, 100(5), 917-934.
KRANZ, Pebble. Mudanças fisiológicas transformam a sexualidade das mulheres na terceira idade. Medscape, 9 jan. 2025. Disponível em: https://portugues.medscape.com/verartigo/6512177?form=fpf.