Cerca de 8-10% dos atendimentos por queixas oculares envolvem a abrasão da córnea – uma estrutura transparente situada anteriormente no globo ocular, que tem como função focar a luz na retina. Quando há uma lesão superficial nessa região (como um arranhão), há perda de células epiteliais locais e sintomas de irritação, dor e desconforto local.
São três os principais mecanismos causadores da lesão corneana: trauma mecânico direto (unhas, produtos de maquiagem, gravetos), presença de corpo estranho (como vidro, plástico) ou uso de lentes de contato de forma inadequada.
Veja como identificar os sinais de uma abrasão corneana, bem como a melhor opção terapêutica para os pacientes.
Entendendo uma lesão na córnea
A córnea é uma estrutura transparente localizada anteriormente na região do globo ocular. Microscopicamente, possui cinco camadas, sendo o epitélio a mais superficial – responsável pela barreira de proteção ocular.
A abrasão corneana ocorre quando há uma lesão na camada epitelial da córnea, fazendo com que haja perda de células epiteliais. É uma região muito bem inervada, daí a presença de sintomas irritativos serem uma regra.
Por ser uma camada superficial, a camada epitelial tem uma recuperação quase sempre eficaz. No entanto, por poder levar a uma cascata inflamatória de defesa local pela presença de microrganismos invasores, pode evoluir com infecção, necrose e cicatrizes locais permanentes, o que pode comprometer definitivamente a visão.
Como diagnosticar um paciente com abrasão da córnea?
Na presença de lesão na córnea, há intensa dor e desconforto ocular, lacrimejamento, hiperemia, bem como visão borrada. Pode haver contração involuntária da pálpebra e a visualização de corpo estranho na pálpebra, conjuntiva ou córnea.
O diagnóstico é feito através do exame de Lâmpada de Fenda (ou biomicroscópio, para avaliação do olho ampliado com lente de aumento), com uso de fluoresceína que revela de forma plena as abrasões corneanas presentes. As lesões se tornam amareladas quando expostas à luz branca, ou verde se expostas à luz “azul de cobalto”.
Importante ressaltar que a avaliação oftalmoscópia da retina, assim como uma avaliação da acuidade visual (tabela de Snellen) se torna obrigatória no exame inicial. Após o exame, o médico sempre deverá everter a pálpebra em busca de corpo estranho.
Como tratar a abrasão corneana?
Embora o prognóstico esteja diretamente relacionado à extensão e gravidade da lesão, na maioria das vezes, com um tratamento adequado precoce o prognóstico é muito bom – afinal, a camada epitelial da córnea apresenta elevada capacidade de regeneração.
E qual seria o tratamento adequado?
Para todos os pacientes com abrasão de córnea é necessária a prescrição de antibióticos tópicos profiláticos por 3-5 dias, uma vez que há um grande risco de infecção bacteriana secundária, o que pode levar à ceratite bacteriana. As principais opções incluem Tobramicina ou Cloranfenicol colírio.
Pacientes com quadro moderado-grave, ou mesmo com resistência a outros antibióticos, uso de lentes de contato ou imunocomprometidos, devem receber colírios tópicos da classe de fluoroquinolonas (ciprofloxacino, levofloxacino).
É necessário fazer um curativo?
Antigamente orientava-se manter um curativo oclusivo na região. Atualmente muitos autores consideram tal conduta proscrita. Para o controle de eventual dor, prescreve-se analgésicos simples associados ou não a colírios cicloplégicos (esses usados em dores mais graves).
De forma geral, o paciente deverá ser reavaliado 2-3 dias após o início do tratamento para ver a resposta e a evolução do quadro. As abrasões não complicadas apresentam melhora após cerca de 24-72 horas.
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Referências:
Gardiner, MF. – Overview of eye injuries in the emergency department. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
Jacobs, DS. – Corneal abrasions and corneal foreign bodies: Management. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
Jacobs, DS. – Corneal abrasions and corneal foreign bodies: Clinical manifestations and diagnosis. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
