Nova diretriz para avaliação e manejo da Síndrome dos Ovários Policísticos

consulta com ginecologista SOP

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é uma das doenças mais prevalentes dentro da endocrinologia, sendo considerada a principal causa de hiperandrogenismo na idade fértil. Suas manifestações clínicas são variáveis, vão desde hirsutismo, alopecia, oleosidade de pele e cabelos, acne, até alterações do ciclo menstrual (oligo ou amenorreia) e infertilidade.

Em agosto de 2023, foi publicado na European Journal of Endocrinology um novo guideline contendo atualizações a respeito do tema.

Como fazer o diagnóstico da Síndrome dos Ovários Policísticos?

Primeiro, vamos relembrar como era definido até então: pelos Critérios de Roterdam.

  1. Oligo ou anovulação.
  2. Sinais clínicos e/ou bioquímicos de hiperandrogenismo.
  3. Identificação de 12 ou mais folículos com 2 a 9 mm de diâmetro, ou volume ovariano maior que 10 cm³ (avaliado em Ultrassom Pélvica ou Transvaginal– USTV).

Na presença de 2 ou mais critérios, o diagnóstico de SOP pode ser estabelecido (somente após exclusão de outras causas).

sindrome dos ovarios policisticos

Agora, segundo a nova diretriz, a presença de ciclos irregulares associados ao hiperandrogenismo clínico já pode estabelecer o diagnóstico de SOP.

Caso o hiperandrogenismo clínico não esteja presente, deve-se realizar exames que comprovem hiperandrogenismo laboratorial. Caso esteja presente somente a irregularidade menstrual ou o hiperandrogenismo, deve-se realizar USG ou a dosagem do hormônio antimulleriano (AMH).

 

Veja o algoritmo diagnóstico:

  1. Irregularidade menstrual + hiperandrogenismo clínico = SOP (após exclusão de outras causas).
  2. Se não há hiperandrogenismo clínico, solicitar testes que comprovem hiperandrogenismo laboratorial; em caso positivo = SOP (após exclusão de outras causas).
  3. Apenas irregularidade menstrual OU apenas hiperandrogenismo, realizar USG ou AMH; em caso de ovários policísticos ou AMH aumentado = SOP (após exclusão de outras causas).

ciclo menstrual sindrome dos ovarios policisticos

Principais causas a serem excluídas:

  • Alterações da tireoide.
  • Hiperprolactinemia.
  • Hiperplasia adrenal congênita forma não-clássica.
  • Insuficiência ovariana prematura.
  • Se indicativos clínicos, excluir também hipercortisolismo e tumores adrenais.

 

Observações importantes

A dosagem do AMH pode ser usada como alternativa à realização da USG, devendo-se optar entre um ou outro (não há recomendação da realização de ambas). Porém, os autores do novo guideline não estabeleceram ponto de corte, apenas orientaram que os laboratórios devem usar pontos específicos para a população e o ensaio usado.

Sobre a USG, um novo critério foi definido: contagem de 10 ou mais folículos de 2 a 9 mm por corte transversal do ovário (em pelo menos um ovário). Adicionalmente, a USG transvaginal continua sendo preferível à pélvica, e, caso seja realizada em aparelhos antigos, o ideal é avaliar o volume ovariano ou o número de folículos por corte transversal.

Importante lembrar que tudo isso diz respeito ao diagnóstico de SOP em mulheres adultas. O diagnóstico em adolescentes possui outras particularidades.

Nova diretriz para avaliação e manejo da Síndrome dos Ovários Policísticos

Tratamento

A nova recomendação reforça algumas informações que já sabíamos previamente sobre o uso de contraceptivos hormonais: para mulheres que não desejam engravidar, deve-se preferir uso de anticoncepcionais com doses mais baixas de etinilestradiol (< 30 mcg) ou preparações com estrogênio natural.

Caso seja necessária a associação com medicação antiandrogênica para tratamento do hirsutismo, algumas novidades: espironolactona deve ser preferida em detrimento das outras medicações devido ao menor risco de efeitos adversos; além disso, ciproterona deve ser evitada em doses maiores que 10 mg pelo risco de meningioma; finasterida, assim como ciproterona, tem aumentado risco de hepatotoxicidade.

Para mulheres que estão realizando depilação a laser, a introdução de contraceptivo hormonal combinado ao tratamento (associado ou não a medicações antiandrogênicas) melhora a resposta, diminuindo ainda mais o crescimento dos pelos.

sindrome dos ovarios policisticos

Em relação a metformina, em mulheres com SOP sem indicação de usar anticoncepcional hormonal e/ou antiandrogênico, o uso isolado da biguanida deve ser considerado em pacientes com sobrepeso/obesidade, objetivando melhora metabólica. Em pacientes com IMC < 30, o uso pode ser considerado, levando-se em conta benefício clínico pequeno.

O uso de Inositol pode ser considerado para melhora dos parâmetros metabólicos, porém não deve substituir a metformina. Devido à falta de evidências robustas e disparidade dos estudos, os autores da diretriz não recomendam o tipo de preparação e nem as doses a serem utilizadas pois ainda não há consenso.

Para o tratamento farmacológico da obesidade associada a SOP, deve-se dar preferência aos análogos de GLP-1 (liraglutida ou semaglutida), podendo-se associar o orlistate.

Em mulheres que desejam gestar, o tratamento de primeira linha da infertilidade deve ser realizado com indutores de ovulação – letrozol continua sendo a medicação de escolha. Como segunda opção, deve-se utilizar clomifeno associado a metformina. Metformina de forma isolada é utilizada como última opção.

Nova diretriz para avaliação e manejo da Síndrome dos Ovários Policísticos

Referências:

Helena J Teede, Chau Thien Tay, Joop J E Laven, Anuja Dokras, Lisa J Moran, Terhi T Piltonen, Michael F Costello, Jacky Boivin, Leanne M Redman, Jacqueline A Boyle, Robert J Norman, Aya Mousa, Anju E Joham, the International PCOS Network, Recommendations from the 2023 international evidence-based guideline for the assessment and management of polycystic ovary syndrome, European Journal of Endocrinology, Volume 189, Issue 2, August 2023, Pages G43–G64, https://doi.org/10.1093/ejendo/lvad096

Rotterdam ESHRE/ASRM-Sponsored PCOS consensus workshop group. Revised 2003 consensus on diagnostic criteria and long-term health risks related to polycystic ovary syndrome (PCOS). Hum Reprod. 2004;19(1):41-47. doi:10.1093/humrep/deh098

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