“Dr, posso tomar café?”. Veja 5 benefícios para discutir com seus pacientes em uma consulta

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Hoje, 14 de abril, é o Dia Mundial do Café, uma das bebidas mais populares ao redor do mundo. A plantação teve início na África, no século 10, espalhando-se pelos trópicos e, em seguida, mundialmente. Atualmente, o Brasil é responsável por aproximadamente 1/3 de toda a produção, seguido pelo Vietnã, Indonésia e Colômbia.

Muitos pacientes nos questionam nas consultas quanto ao consumo diário, e, embora ainda controverso na literatura, em doses moderadas parece ser benéfico.

Para nos mantermos alinhados com a medicina baseada em evidências, trouxemos um pouco mais sobre os estudos que apontam os benefícios à saúde, sem deixar de lado os riscos associados ao consumo excessivo.

Efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes

Diversos componentes do café contribuem na prevenção de doenças inflamatórias e relacionadas ao estresse oxidativo, como obesidade, síndrome metabólica e diabetes tipo 2. Essa prevenção ocorre principalmente através da cafeína e CGAs, que aumentam as defesas antioxidantes.

Os receptores de adenosina, principal alvo da cafeína, estão envolvidos na regulação de espécies reativas de oxigênio (ROS). A cafeína também reduz citocinas pró-inflamatórias (como TNF-a) e aumenta o nível de citocinas anti-inflamatórias como IL-10. CGAs reduzem a produção de mediadores inflamatórios, enquanto cafestol e kahweol protegem as células do estresse oxidativo induzido por H202.

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Mortalidade

Muitos trabalhos buscam identificar uma relação entre o consumo e mortalidade: um estudo realizado na Europa verificou que o consumo de mais de 3 xícaras/dia está inversamente associado ao risco de mortalidade por todas as causas.

Essa associação também foi observada em outro estudo, que indicou uma redução no risco de mortalidade independentemente da quantidade de cafeína presente; mostrando que os efeitos benéficos da bebida se devem também aos outros componentes bioativos presentes nela.

Lembrando que estamos falando apenas de uma variável, e de pacientes sem riscos adicionais relacionados. Cada caso deve ser avaliado individualmente!

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Doenças degenerativas e neuropsiquiátricas

A ingestão da bebida parece influenciar o risco de desenvolvimento de doenças psiquiátricas e neurológicas. O consumo, mais especificamente de cafeína, tem uma associação inversa com o risco de desenvolver doenças neurodegenerativas como Doença de Alzheimer, Doença de Parkinson e esclerose lateral amiotrófica.

Entretanto, destacamos que esses dados não são conclusivos, visto que também foram realizados estudos em que nenhum efeito foi observado no risco. Com relação à depressão, já foi observado que o risco de desenvolvimento desse transtorno diminuiu em 8% a cada xícara/dia.

Quais os riscos?

Já foi observado que o café pode piorar os sintomas em pacientes com desordens psiquiátricas, como ansiedade, transtorno bipolar, psicoses e desordens alimentares.

Ainda, é fundamental considerar as interações medicamentosas, visto que 80% da população começa e termina seu dia com uma xícara de café. Os componentes bioativos da bebida podem alterar a absorção, distribuição, excreção e/ou alterar o metabolismo enzimático de outros compostos químicos.

Outros potenciais riscos do consumo são: mudanças de comportamento, estresse, alteração na atenção e sintomas gástricos (úlceras e doença do refluxo gastroesofágico).

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Câncer

O consumo da bebida também pode influenciar no desenvolvimento de diversos tipos de câncer. Estudos já observaram uma relação negativa entre o consumo e o risco de carcinoma hepatocelular, câncer de mama, melanoma, câncer de fígado, câncer de ovário e câncer de tireoide.

Além disso, a ingestão também diminui a mortalidade relacionada a todos os tipos de câncer, sendo que resultados semelhantes foram observados para o descafeinado e aditivos de café. Com relação à quantidade  ingerida, um estudo observou redução na mortalidade apenas no consumo de 1 a 5 xícaras por dia, não mais do que isso.

Quais os riscos?

Novamente, estamos falando apenas de uma variável, e cada caso deve ser avaliado individualmente! Em geral, 2 a 3 xícaras por dia são consideradas seguras. Doses maiores podem possuir compostos tóxicos gerados pelas reações para processar o produto.

Dentre esses componentes estão os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAHs, que podem ser genotóxicos e carcinogênicos) e a acrilamida (também carcinogênica). Chumbo e Cádmio também podem ser encontrados como contaminantes, embora em baixas quantidades.

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Doenças cardiometabólicas

O café pode exercer uma influência na perda de peso através da ação anti-inflamatória e antioxidante que cafeína e CGAs possuem, visto que essa ação também exerce um efeito lipolítico.

De forma geral, é visto que pode influenciar diversos componentes relacionados à síndrome metabólica, melhorando o perfil glicêmico e lipídico. Cafeína, CGAs, cafestol e kahweol parecem melhorar a secreção e a sensibilidade à insulina, promovendo lipólise e inibindo a lipogênese. A ingestão também pode reduzir o risco de diabetes tipo 2.

Porém, a relação do café com a obesidade observada nos estudos tem sido a mais contraditória, tendo como possíveis motivos: o desenho dos estudos, as diversas medidas antropométricas utilizadas para mostrar os efeitos (contínuas ou binárias), a população estudada, e o fato de que algumas pesquisam analisam o café (com cafeína e CGAs) e outras utilizam apenas a cafeína pura.

E com relação à hipertensão?

Por muito tempo, sugeriu-se que o café causava aumento de pressão arterial. Entretanto, a ingestão de cafeína provoca um aumento AGUDO na pressão sanguínea. Alguns estudos demonstram que o consumo habitual está associado a uma redução do risco de hipertensão a longo prazo. Entretanto, ainda não se descobriu a quantidade de ingestão diária necessária para um efeito protetivo.

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O consumo não possui apenas benefícios, especialmente em doses excessivas. Não podemos generalizar!

Em resumo, comentamos que a bebida possui propriedades anti-inflamatórias, anti-diabéticas, antioxidante, anti-obesidade e anti-dislipidêmicas. Há trabalhos que também indicam potencial probiótico / nutracêutico.

O café tem uma composição química complexa, sendo composto por mais de 1000 compostos biológicos ativos! Entre essas substâncias, estão a cafeína, a trigonelina, os compostos fenólicos, os diterpenos, as fibras solúveis e os metabólitos secundários.

A cafeína, o composto mais estudado, é conhecida por promover estado de alerta, melhora das atividades psicomotoras e da performance mental, além de redução do cansaço e da sonolência. Também parece aumentar a consolidação da memória de longo prazo.

Entretanto, altas doses podem levar a efeitos adversos como ansiedade, insônia, inquietação, nervosismo, disforia, agitação psicomotora e cefaleia.

O consumo habitual de cafeína também pode levar à tolerância, ou seja, uma dessensibilização aos efeitos da cafeína. Também pode gerar dependência física, e sintomas de abstinência (dores de cabeça, cansaço, humor depressivo) podem ocorrer na falta ou redução do consumo dessa substância.

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Vale lembrar que a maioria dos estudos demonstra associações, mas não causa-consequência; ou seja, não são estudos controlados e randomizados. Mais estudos são necessário para que possamos “bater o martelo” e chegar a conclusões definitivas.

Referências:

BARREA, L. et al. Coffee consumption, health benefits and side effects: a narrative review and update for dietitians and nutritionists. Critical Reviews in Food Science and Nutrition, v. 63, n. 9, p. 1238–1261, 2023. https://doi.org/10.1080/10408398.2021.1963207.

 

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