O sucesso da vacinação contra HPV: redução do número de casos de câncer de colo de útero

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Dados recentes indicam uma redução substancial no câncer de colo de útero e incidência de lesões NIC3 em mulheres jovens após o início do programa de imunização contra o papilomavírus humano (HPV). Mas o papel da vacinação contra este vírus pode ir além! Estima-se que 5% de todas as neoplasias tenham alguma relação com o HPV. Logo, acredita-se que a incidência desses tumores também será afetada ao longo dos anos.

 

Infecção por papilomavírus humano (HPV)

As infecções por HPV são restritas às células epiteliais basais, que muitas vezes são protegidas das células imunes circulantes durante a vigilância. Assim, como a infecção pelo vírus geralmente não gera uma resposta imune do hospedeiro, o DNA viral não é detectado, permitindo que o vírus continue a se amplificar, eventualmente se espalhando e infectando células vizinhas.

O HPV também é um vírus não lítico e não gera uma resposta inflamatória, o que significa que os indivíduos infectados podem não conhecer seu estado de doença. E talvez por isso, a infecção por HPV seja a infecção sexualmente transmissível mais comum no mundo.

Somente após a célula tumoral associada ao vírus ter sido suficientemente amplificada a um nível em que possa ser detectada por células de vigilância imunológica, ela monta uma resposta imune ativa. Infelizmente, isso geralmente ocorre durante os estágios posteriores da transformação do vírus, às vezes anos após a infecção inicial.

Aqui, uma observação: mais uma vez, evidenciamos a importância da colpocitologia oncótica cervical em mulheres após o início da vida sexual.

Mais de 200 subtipos virais já foram identificados, classificados de acordo com o risco associado ao desenvolvimento de tumores. Os subtipos de baixo risco, como HPV6 e HPV11, não são causadores de câncer, mas podem resultar em tumores benignos no trato respiratório ou verrugas genitais (condiloma acuminado).

Já os subtipos classificados como de alto risco são associados a transformações oncogênicas. Dentre esses, os subtipos 16 e o 18 são os relacionados ao maior número de neoplasias de colo de útero e anogenital, razão pela qual são os alvos das vacinas.

O HPV é reconhecido como o fator etiológico para vários tipos de câncer, incluindo cervical, vulvar, vaginal, peniano, anal e um subconjunto de cânceres de orofaringe. É estimado que 5% de todas as neoplasias tenham algum envolvimento desse vírus. Entre 2011 e 2015, havia uma estimativa de 42.700 novos casos de câncer associados ao HPV a cada ano apenas nos Estados Unidos.

Nos últimos anos, três vacinas preventivas contra o HPV foram licenciadas e lançadas no mercado, como um meio de prevenir a propagação da infecção viral. Essas vacinas profiláticas demonstraram ser seguras e eficazes na prevenção da infecção pelo vírus.

HPV

HPV e o câncer de colo de útero

Um estudo publicado em novembro de 2021 avaliou casos de câncer de colo de útero em mulheres residentes na Inglaterra, de 2006 a 2021. No total, foram extraídos mais de 13 milhões de informações do banco de dados avaliado.

Entre as mulheres jovens que receberam a vacina contra o HPV quando tinham 16-18 anos, houve uma redução de cerca de 35% dos casos de câncer de colo de útero em comparação às gerações anteriores não vacinadas.

As vacinas profiláticas são incapazes de fornecer proteção a indivíduos com infecções por HPV existentes ou doenças associadas ao vírus. Por essa razão, o objetivo principal é vacinar crianças antes do início das atividades sexuais. Quando avaliadas as meninas com 12 ou 13 anos de idade (antes do início das atividades sexuais), as taxas de câncer do colo do útero são 87% mais baixas.

Vacinação universal

Não há dúvidas quanto a importância e a eficácia da vacinação contra o HPV na prevenção contra o câncer de colo de útero, especialmente em pacientes jovens que ainda não iniciaram as atividades sexuais. No entanto, também é necessário reforçar a necessidade da vacinação em pacientes do sexo masculino. Até o fim de 2019, menos da metade de todos os programas de vacinação mundiais eram “gênero neutro”, e com a COVID-19, todos os esforços foram direcionados a vacina para essa doença.

No Brasil, há duas vacinas aprovadas contra o HPV: a bivalente (subtipos 16 e 18) e a quadrivalente (subtipos 6, 11, 16 e 18). Desde 2014, o SUS disponibiliza a vacinação gratuita para meninas de 9-13 anos. Em 2017 foi ampliada a vacinação contra o vírus para meninos de 11 a 14 anos, e de 9-26 HIV-positivos. A vacina não é disponível no SUS para indivíduos imunocompetentes acima de 14 anos.

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Referências:

Milena Falcaro, et al. The effects of the national HPV vaccination programme in England, UK, on cervical cancer and grade 3 cervical intraepithelial neoplasia incidence: a register-based observational study. The Lancet. Nov 2021.

Pam Harrison. Success of HPV Vaccination: ‘Dramatic’ Reduction in Cervical Cancer. Medscape Medical News. Nov 2021.

Farmer E, Cheng MA, Hung CF, Wu TC. Vaccination Strategies for the Control and Treatment of HPV Infection and HPV-Associated Cancer. Recent Results Cancer Res. 2021;217:157-195. doi: 10.1007/978-3-030-57362-1_8. PMID: 33200366; PMCID: PMC8564785.

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