Vacina intranasal da AstraZeneca não apresentou eficácia esperada em ensaio clínico

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Os últimos resultados do ensaio clínico da vacina intranasal da AstraZeneca contra a COVID-19 foram relatados na semana passada por pesquisadores da Universidade de Oxford. Segundo os autores, as respostas imunes observadas não geraram anticorpos da forma como era esperada, ou mesmo uma forte resposta imune sistêmica.

Vacina intranasal contra a COVID-19 em estudo de fase I

No dia 11 de outubro, uma nota foi emitida quanto as novas descobertas do um ensaio clínico de fase 1 da vacina via intranasal contra o SARS-CoV-2 da AstraZeneca. O estudo avaliou a administração intranasal da mesma vacina já utilizada por injeção intramuscular (baseada no vetor de adenovírus ChAdOx1).

As descobertas foram publicadas na revista eBioMedicine no último dia 10, na qual os pesquisadores comentam sobre a segurança e a resposta imune da vacina proposta. O trabalho apresenta os bons resultados de tolerabilidade para a formulação, mas a resposta imune não parece ter sido como o esperado.

O grupo avaliou primariamente 30 pacientes que não haviam recebido nenhuma vacina contra SARS-CoV-2. Em uma parcela de participantes, foram utilizadas duas doses da vacina intranasal com intervalos de 28 dias. Um outro grupo de participantes (n=12) também foi selecionado para avaliar a viabilidade do uso intranasal como dose de reforço, após as duas doses da vacina via intramuscular.

No artigo, o grupo comenta que “as respostas de anticorpos da mucosa foram observadas em uma minoria de participantes, raramente excedendo os níveis observados após a infecção por SARS-CoV-2”. Além disso, os pesquisadores relatam que após a infecção, as respostas sistêmicas foram mais fracas em comparação à vacinação intramuscular – o que não apresentaria uma vantagem.

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O que pode estar reduzindo a eficácia?

A via nasal possui excelentes vantagens, mas é importante destacar que sua relação com a via sistêmica não é tão simples.

Ao entrar na mucosa nasal, o SARS-CoV-2 encontra a primeira barreira imunológica. Na mucosa, há um grande envolvimento de IgA, que atuam por exclusão imunológica, excreção de antígeno e neutralização intracelular.

Porém, sabe-se que os níveis de IgA variam consideravelmente conforme a idade, e isso sempre deve ser considerado na elaboração de vacinas que atuam por essa via. Além disso, as células T de memória devem ser ativadas, o que normalmente é mais bem observado com reforços sistêmicos.

Isso somado ao fato de que o antígeno na mucosa precisa ser resistente o suficiente para suportar a degradação enzimática no revestimento local. Nesse caso, é essencial a abordagem de métodos de entrega para prolongar a ação e aumentar a estabilidade.

Outra questão de destaque é quanto do produto, de fato, fica na via nasal. O uso de spray nasal de jato contínuo pode levar a um desperdício de produto, além de direcionar parte para a cavidade oral. Dessa forma, deve-se considerar qual a porção da droga que, de fato, atua na cavidade nasal e realizar o ajuste proporcional da dose.

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Propostas alternativas podem incentivar a vacinação

Até fevereiro desse ano, cerca de 12 vacinas candidatas via intranasal estavam em ensaios clínicos mais robustos, e a China e a Índia já tiveram vacinas por via nasal aprovadas.

O estudo de vacinas via intranasal pode ser uma forma simples e prática de uso das vacinas, além de menos invasiva, incentivando o uso e aumentando a cobertura vacinal. Outro ponto relevante é a facilidade da aplicação, permitindo a autoaplicação e não necessitando de ambientes estéreis, o que reduz custos socioeconômicos.

 

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Referências:

University of Oxford. Intranasal COVID-19 vaccine candidate’s clinical data highlights need for further development of nasal spray vaccines. 11 October 2022. https://www.ox.ac.uk/news/2022-10-11-intranasal-covid-19-vaccine-candidate-s-clinical-data-highlights-need-further

Madhavan Meera et al. Tolerability and immunogenicity of an intranasally-administered adenovirus-vectored COVID-19 vaccine: An open-label partially-randomised ascending dose phase I trial. eBioMedicine, part of THE LANCET discovery science. October 10, 2022.

Alu A, Chen L, Lei H, Wei Y, Tian X, Wei X. Intranasal COVID-19 vaccines: From bench to bed. EBioMedicine. 2022 Feb;76:103841. doi: 10.1016/j.ebiom.2022.103841. Epub 2022 Jan 24. PMID: 35085851; PMCID: PMC8785603.

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