Riscos associados ao uso indiscriminado de melatonina

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Atuação muito além do sono

A melatonina é um dos principais hormônios que governam o ritmo circadiano, regulado pela exposição à luz. Sua secreção tipicamente atinge o pico 3 a 5 horas após o início do sono quando está escuro, com quase nenhuma produção ocorrendo durante o dia.

A suplementação exógena é amplamente utilizada como um auxiliar nos distúrbios de sono. Ainda, as evidências de propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias levaram à investigação de seu valor terapêutico em várias doenças – inclusive na COVID-19.

Os receptores de melatonina foram encontrados em todo o corpo em muitos tecidos, incluindo células das ilhotas pancreáticas, refletindo os efeitos generalizados em funções fisiológicas, como metabolismo energético e regulação do peso corporal.

Embora a melatonina seja considerada segura, efeitos adversos já foram relatados. Mutações de perda de função no receptor da melatonina estão associadas à resistência à insulina e diabetes tipo 2.

Porém, os dados sobre uso a longo prazo e em altas doses são escassos. Além disso, a heterogeneidade nas formulações de venda livre reforça a necessidade de uma compreensão mais ampla do consumo de melatonina exógena na população.

Aumento do uso da melatonina

Uma boa noite de sono é essencial para uma boa saúde física, desempenho cognitivo e funcionamento emocional, e diversos estudos já documentaram esses fatos ao longo do tempo. Com as dificuldades diárias (especialmente com o surgimento da COVID-19), mais adultos têm tomado preparações de melatonina de venda livre buscando uma melhora na qualidade do sono.

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Um trabalho recente apontou a prevalência e as tendências relatadas no uso de suplementos de melatonina entre adultos a partir de 1999 até 2018. O estudo foi publicado na JAMA Network e incluiu dados de mais de 50 mil pacientes, de dez centros de saúde diferentes.

Foi observado um aumento do uso autorrelatado de melatonina. Do total de participantes, 0,4% utilizavam o medicamento até os anos 2000; esse número subiu para 2,1% até 2018. Quanto ao uso em doses >5mg/d, não houve dados identificados antes de 2005-2006. Embora tenha permanecido baixa, a prevalência de uso autorrelatado doses mais altas também aumentou ao longo do tempo – 0,28% dos avaliados até 2018.

E qual o problema?

Esse aumento do uso da melatonina pode não parecer prejudicial, mas a longo prazo, pode trazer consequências. Como já mencionamos, a melatonina já foi associada à diabetes tipo 2 e resistência insulínica.

Além disso, ao utilizar de forma indiscriminada (e não prescrita) para insônia, alguns pacientes podem atrasar ou renunciar a avaliação médica e identificação de causas subjacentes, como a apneia obstrutiva do sono por exemplo.

Os autores do trabalho relatam outra preocupação importante quanto a segurança do uso do medicamento. É necessário considerar que o conteúdo real de melatonina em suplementos comercializados pode ser até 478% maior do que o conteúdo rotulado. Além disso, os produtos de venda livre também podem conter níveis variados de outras substâncias.

Como um medicamento categorizado pela Food and Drug Administration (FDA) e pela ANVISA como suplemento alimentar, os riscos de efeitos colaterais indesejados ou fabricação não supervisionada são maiores. Somado a isso, as evidências que apoiam o uso de melatonina para distúrbios do sono não são tão robustas.

Embora tenha sido feito nos Estados Unidos, o consumo da melatonina no Brasil também é bastante difundido. O uso crescente da suplementação exógena na população em geral e seu potencial terapêutico em expansão impulsionam a aquisição de evidências robustas de segurança a longo prazo da suplementação de melatonina.

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Referências:

Li J, Somers VK, Xu H, Lopez-Jimenez F, Covassin N. Trends in Use of Melatonin Supplements Among US Adults, 1999-2018. JAMA. 2022;327(5):483–485. doi:10.1001/jama.2021.23652

McMullan CJ, Schernhammer ES, Rimm EB, Hu FB, Forman JP. Melatonin Secretion and the Incidence of Type 2 Diabetes. JAMA. 2013;309(13):1388–1396. doi:10.1001/jama.2013.2710

Marybeth Gallagher, RN. Potential dangers of increased melatonin use for sleep. Feb 2022.

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