A Creatinofosfoquinase Fração MB (CK-MB) é uma enzima presente nos músculos (esquelético e cardíaco), envolvida com a reserva de energia tecidual. O exame que avalia essa enzima na corrente sanguínea tem grande importância na identificação e seguimento da Síndrome Coronariana Aguda.
Entendendo o exame que avalia CK-MB
A creatinofosfoquinase (CPK) é uma enzima presente principalmente nos músculos (esquelético, cardíaco), cérebro e pulmão, envolvida com a reserva de energia tecidual. Para isso, ela catalisa a conversão de Fosfocreatina (PCr) em Creatina (Cr), o que gera ATP (energia) a partir de ADP.
A CPK é uma enzima que se apresenta como um dímero, composto pela combinação de dois monômero “M” ou “B”, resultando nas isoenzimas: CK-MM (CK3), CK-MB (CK2), CK-BB (CK1). Na circulação sanguínea, cerca de 96% do CPK total circulante é formado por CK-MM e 4% por CK-MB. A CK-BB está praticamente ausente na circulação.
– Músculo esquelético: 97-99% de CK-MM e o restante de CK-MB.
– Músculo cardíaco: 75-80% de CK-MM e 15-20% de CK-MB.
– Cérebro: exclusivamente de CK-BB.
– Pulmão: exclusivamente de CK-BB.
O exame avalia a isoenzima CK-MB pode ser feito por dois métodos: massa ou atividade.
O método de massa detecta a concentração da CK-MB, independentemente de sua atividade (incluindo enzimas ativas e inativas). Já o método atividade detecta apenas as enzimas ativas. Além disso, o método atividade também tem maior interferência com macro CPK. Assim, o teste CK-MB massa é mais sensível e confiável.
De toda forma, valores elevados refletem danos na musculatura esquelética ou cardíaca, locais onde a enzima se encontra. Isso porque uma vez lesado o músculo, a enzima “escapa” para a corrente sanguínea, aumentando assim a sua concentração sérica/atividade.
Quando solicitar o exame?
Na prática, a principal utilização de CK-MB é na avaliação de síndrome coronariana aguda – infarto agudo do miocárdio. A enzima se eleva entre 4-6 horas após o dano cardíaco. Caso o dano não seja persistente, há um pico após 18 horas, voltando aos níveis séricos normais em 2-3 dias.
Uma outra utilização muito comum é na avaliação da eficácia da terapia de reperfusão cardíaca, após a realização de procedimentos trombolíticos.
A CK-MB não aumenta com dor torácica causada por angina, embolia pulmonar ou insuficiência cardíaca congestiva. Em angina instável poderá ocorrer elevação leve, porém usualmente fica abaixo dos valores de referência. Por outro lado, pode-se esperar aumentos maiores em miocardite.
Pode-se ainda esperar o aumento (geralmente menor) em lesões do músculo esquelético, e aumento maior em miopatias, hipertermia maligna, lesões elétricas e choques.
Leia também: Como utilizar o escore HEART diante de um quadro agudo de dor torácica e Escore TIMI no IAM com Supra.
Quais são os valores de referência?
Como citamos, há duas formas de avaliar CK-MB; logo, diferentes valores de referência. No método massa, a referência é < 5 ng/mL; no método atividade, < 14 unidades/L.
Lembrando que o início de elevação ocorre entre 4-6 horas da lesão miocárdica, com pico em 24 horas, e normalização em 35-48 horas.
Quais as possíveis interferências no exame?
Injeções intramusculares e exercícios físicos extenuantes podem interferir no resultado do exame. A hemólise da amostra também pode refletir valores alterados.
Outra limitação importante é quanto a macro CPK, que pode elevar falsamente o resultado da CK-MB. Vamos entender:
Como citamos, CK-MB contribui com apenas 4% do total de CPK na corrente sanguínea. O problema é que pode existir outras duas forma de CPK que eventualmente podem ser detectadas no sangue:
- Macro CPK tipo 1: é um complexo formado pela CK-BB ou CK-MM com uma imunoglobulina IgA ou IgG. Pode estar presente em indivíduos normais, mas é vista principalmente naqueles com doenças autoimunes, mulheres de idade avançada e portadores de HIV.
- Macro CPK tipo 2: é um complexo oligomérico de origem mitocondrial que está associado à presença de neoplasias – principalmente de cólon e hepática.
Como essas moléculas são maiores, podem refletir um valor elevado de CPK total, ou mesmo de CK-MB. Na prática, isso pode ser um problema na investigação de um Infarto agudo do miocárdio, em que ocorre elevação de CK-MB sem alteração da troponina – o que se reflete em um falso-positivo. Para resolver isso, utiliza-se a fórmula:
(CKMB atividade / CPK total) x 100
Caso o valor seja <4%, é pouco sugestivo de síndrome coronariana. Em casos em que o valor seja > 25%, cogitar macro CPK. Pensar em síndrome coronariana se o valor encontrado seja entre 4% e 15%.
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