Taxas de suicídio são maiores pós pandemia: qual o papel da inflamação?

Setembro foi o mês dedicado à prevenção ao suicídio, ocorrência que acomete mais de 700 mil pessoas ao ano. Com a pandemia de COVID-19, houve um aumento considerável da taxa de suicídio no Brasil.

Além dos já conhecidos desencadeadores psicológicos e sociais, como isolamento, aumento de abuso de substâncias e fatores financeiros, pesquisadores focam em vias biológicas. Um estudo recente revisou diversos trabalhos relacionando a neuroinflamação e o risco de suicídio em pacientes com COVID-19.

 

Consequências pós pandemia

Em 2020, no auge da pandemia, o número de pessoas que cometeram suicídio no Brasil reduziu. A visibilidade da campanha “Setembro Amarelo”, promovida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), têm destaque. Ainda, se acredita que o isolamento permitiu (em alguns casos!) que jovens estivessem próximos de suas famílias.

Em contraste, em idosos e indivíduos que vivem em regiões mais pobres, a taxa de suicídio têm aumentado, segundo pesquisadores da Fiocruz. Suportar o peso do estresse diário, o isolamento social devido as restrições e o pouco acesso em alguns casos, afetou diretamente essa população.

Em alguns casos, como em homens > 60 anos, nas regiões Norte e Nordeste, ou locais onde o acesso aos serviços de saúde é mais limitado, as taxas de suicídios aumentaram em até 26%. Em mulheres mais velhas, há relatos de até 40% de aumento nas taxas comparadas aos anos anteriores.

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Os dados mais atuais mantêm esse padrão, não apenas no Brasil. Um estudo nos EUA com 40 mil participantes infectados por SARS-CoV-2 mostrou que cerca de 22% dos pacientes apresentam comorbidades neuropsiquiátricas, incluindo ideação suicida.

 

O papel da neuroinflamação pós-covid

Há diversas evidências indicando que a pandemia de COVID-19 teve profundos efeitos psicológicos e sociais. O isolamento, aumento de abuso de substâncias e fatores financeiros foram grandes desencadeadores.

Leia também: O distanciamento social durante a COVID-19 afetou o padrão de consumo de álcool?

Alguns estudos indicam aumento de sinais e sintomas como angústia, ansiedade, medo de contágio, depressão e insônia na população em geral e, especialmente, entre os profissionais de saúde.

Como sabemos, condições psiquiátricas relacionadas ao estresse, além de transtornos de humor e uso de substâncias, estão associadas ao comportamento suicida.

Mas uma linha de pensamento científico também estuda o papel da neuroinflamação.

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Alguns trabalhos indicam que há uma alta probabilidade de que, além dos sintomas de doenças psiquiátricas, neurológicas e físicas, pode haver danos inflamatórios no cérebro dos pacientes – relacionados a um maior risco de suicídio.

Muitos pacientes com síndrome pós-covid apresentam sintomas físicos persistentes, como tosse, fadiga, dispneia e dor após a recuperação da doença inicial. Visto as consequências biológicas crônicas da infecção, pode haver um risco aumentado de suicídio nos estágios posteriores à pandemia.

Mediadores inflamatórios expressos por longos períodos já são conhecidamente relacionados a neuroinflamação, sendo um fator de risco potencialmente significativo para o desenvolvimento de ideação ou comportamento suicida – altamente relevante no contexto da COVID-19.

Alguns pesquisadores exploram que um fenótipo pró-inflamatório já foi observado em indivíduos com depressão e comportamentos suicidas, com aumento de monócitos e granulócitos circulantes.

Sugere-se que a inflamação excessiva produzida por macrófagos do SNC e células gliais pode causar neurotoxicidade serotoninérgica e glutamatérgica. Ainda, alguns mediadores inflamatórios podem induzir diretamente neurotoxicidade em circuitos neuroanatômicos já vulneráveis.

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Tratar a inflamação para reduzir o risco de suicídio?

Os estudos que têm como foco reduzir a resposta inflamatória da COVID-19 são promissores, mas ainda limitados.

Alguns medicamentos neuropsiquiátricos que possuem propriedades anti-inflamatórias e antipsicóticas duplas (como aripiprazol) foram testados em pacientes com COVID-19 com alto risco de complicações psiquiátricas.

Sugestão de leitura: papel dos antipsicóticos de segunda geração em pacientes com esquizofrenia e COVID-19.

Mas é evidente: a avaliação psiquiátrica segue altamente eficaz na prevenção ao suicídio! Com esses trabalhos, a avaliação do paciente para o fator de risco de suicídio após a recuperação da COVID-19 pode ser considerada.

Referências:

Costanza A, et al. Hyper/neuroinflammation in COVID-19 and suicide etiopathogenesis: Hypothesis for a nefarious collision? Neurosci Biobehav Rev. 2022 May;136:104606. doi: 10.1016/j.neubiorev.2022.104606. Epub 2022 Mar 12. PMID: 35289272; PMCID: PMC8916836. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35289272/

Sher L. Post-COVID syndrome and suicide risk. QJM. 2021 Apr 27;114(2):95-98. doi: 10.1093/qjmed/hcab007. PMID: 33486531; PMCID: PMC7928695. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33486531/

Hiram Tendilla-Beltrána, Gonzalo Flores. Due to their anti-inflammatory, antioxidant and neurotrophic properties, second-generation antipsychotics are suitable in patients with schizophrenia and COVID-19. General Hospital Psychiatry. 2021. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S016383432100075X?via%3Dihub

Taylor L. Covid-19: Suicide rates fell during Brazil’s first wave but increased in older people. BMJ. 2022 May 27;377:o1351. doi: 10.1136/bmj.o1351. PMID: 35623635. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35623635/

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