Você conhece o questionário Tinnitus handicap inventory (THI)?
Essa ferramenta foi proposta em 1996, com o objetivo de desenvolver uma forma de avaliação do zumbido subjetivo, relatado pelos pacientes. É um questionário com 25 questões que auxilia na identificação do aspecto mais atingido no paciente com zumbido, direcionando as intervenções.
Lembrando que o zumbido é a percepção de som na ausência de uma fonte sonora externa. É um sintoma, raramente idiopático, e pode causar muito incômodo para os pacientes.
Utilizando o Tinnitus handicap inventory em um paciente com zumbido
Virtualmente, todo mundo já teve um episódio ocasional de zumbido, e a condição recorrente acomete cerca de 15-20% dos adultos no mundo todo. Em 1-3% dos casos, o zumbido pode ser grave o suficiente para interferir nas atividades diárias.
Uma ferramenta que pode auxiliar na identificação da percepção do paciente sobre o sintoma é o questionário Tinnitus handicap inventory (THI). O THI é um índice desenvolvido para auxiliar na identificação de dificuldades funcionais e emocionais em pacientes com zumbido. É confiável, de fácil aplicação, e já foi validado em populações brasileiras.
O questionário é dividido em duas etapas: na primeira, o paciente avalia de 0-10 o volume e a altura do zumbido. Em seguida, o paciente deve responder a 25 questões sobre como a experiência do zumbido afeta a vida do paciente.
As perguntas são divididas em funcional (F), emocional (E) ou catastrófico. As respostas possíveis são “sim”, “às vezes” ou “não”. Veja mais:
1) É difícil de se concentrar por causa do zumbido? (F)
2) O volume ou intensidade do zumbido faz com que seja difícil ouvir as pessoas? (F)
3) O zumbido te deixa nervoso? (E)
4) O zumbido te deixa confuso? (F)
5) Devido ao zumbido, você se sente desesperado? (C)
6) Você se queixa muito do zumbido? (E)
7) Devido ao zumbido, você tem dificuldade em pegar no sono? (F)
8) Você sente como se não pudesse se livrar do zumbido? (C)
9) O zumbido interfere na capacidade de aproveitar atividades sociais (p.ex. sair jantar, ir ao cinema)? (F)
10) Você se sente frustrado devido ao zumbido? (E)
11) Você pensa que tem uma doença grave por causa do zumbido? (C)
12) O zumbido torna difícil aproveitar a vida? (F)
13) O zumbido interfere nas tarefas em casa ou no trabalho? (F)
14) Você fica irritado com frequência por causa do zumbido? (F)
15) É difícil de ler por causa do zumbido? (F)
16) O zumbido te deixa chateado? (E)
17) Você sente que o zumbido atrapalha seus relacionamentos pessoais – família e amigos? (E)
18) Você acha difícil tirar a atenção do zumbido e se concentrar em outras coisas? (F)
19) Você sente que não tem controle sobre o zumbido? (C)
20) Você se sente cansado com frequência por causa do zumbido? (F)
21) Você se sente deprimido com frequência por causa do zumbido? (E)
22) Você se sente ansioso com frequência por causa do zumbido? (E)
23) Você sente que não pode mais suportar o zumbido? (C)
24) O zumbido piora quando você está estressado? (F)
25) O zumbido faz com que você se sinta inseguro? (E)
Como interpretar o THI?
Cada resposta “sim” vale 4 pontos. Cada resposta “às vezes” vale 2 pontos. Cada resposta “não” vale 0 pontos. Assim, o resultado pode oscilar entre 0 e 100.
Após o cálculo, o paciente pode ser separado em 5 diferentes categorias:
Valores entre 0 e 16: gravidade baixa. Zumbido perceptível apenas em ambientes sem ruídos. Não há perturbações evidentes.
Valores entre 18-36: leve. O zumbido é facilmente mascarado por outros ruídos, sendo esquecido durante as atividades do dia a dia.
Valores entre 38-56: moderado. O zumbido é percebido até em ambientes com ruído. As atividades diárias não são tão afetadas, mas há impacto no sono e em atividades silenciosas.
Valores entre 58-76: grave. O zumbido interfere em quase todas as atividades diárias.
Valores > 78: catastrófico. Pode ser possível uma psicopatologia associada, visto o grau de incômodo do zumbido.
Ainda, o questionário é dividido em 3 principais categorias, que podem ser subdivididas para auxiliar na identificação do aspecto mais atingido no paciente, e como propor uma intervenção.
Resposta funcional (F) – 11 itens, pontuação varia entre 0 e 44.
Respostas emocional (E) – 9 itens, pontuação varia entre 0 e 36.
Resposta catastrófica (C) – 5 itens, pontuação varia entre 0 e 20.
Com ocorre o zumbido?
O Zumbido consiste na percepção de som na ausência de fonte sonora externa. É um sintoma, e não uma doença em si, sendo raramente idiopático. São dois os mecanismos possíveis que explicam esse sintoma:
Neurossensorial – tipo mais comum, que ocorre como uma reação central em casos de perda auditiva ou alteração no nível da cóclea ou do nervo coclear.
Na perda auditiva, as redes neurais apresentam baixo nível de estimulação. Em resposta a essa mudança na entrada auditiva, há uma reação anormal, mantendo as redes neurais hiperativas. Assim, é possível perceber sons.
Também há uma teoria de perda de conexões neurais supressivas. Em caso de perda auditiva ou alteração da entrada auditiva, há criação de novas sinapses alternativas, e o zumbido é percebido.
Por fim, uma teoria aborda a ação do sistema nervoso central via alterações serotoninérgicas. Há um aumento de receptores para serotonina e GABA no sistema auditivo – logo, anormalidades nestes neurotransmissores podem gerar a percepção de zumbido.
Periódico – ocorre quando estruturas próximas à cóclea geram ruído, que é percebido como zumbido – geralmente unilateral e intermitente. Nesse caso, podem ter diversas origens. É, portanto, o zumbido objetivo – quando alto o suficiente, o observador também consegue perceber o som (com um estetoscópio no osso temporal, por exemplo).
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Referências:
Newman, C. W., Jacobson, G. P., & Spitzer, J. B. (1996). Development of the Tinnitus Handicap Inventory. Archives of otolaryngology–head & neck surgery, 122(2), 143–148. https://doi.org/10.1001/archotol.1996.01890140029007
Ferreira, PEA; Cunha, F; Onishi, ET; Branco-Barreiro, FCA; Ganança. FF. Tinnitus handicap inventory: adaptação cultural para o Português brasileiro. https://doi.org/10.1590/S0104-56872005000300004.
Grossan, M., & Peterson, D. C. (2023). Tinnitus. In StatPearls. StatPearls Publishing.
