O aumento da ingestão de água melhora o funcionamento renal?

renal água

 

Os rins e a insuficiência renal crônica

Os rins são responsáveis por manter o equilíbrio hidroeletrolítico e filtrar e eliminar substâncias potencialmente tóxicas ao organismo. Ainda, através da produção de eritropoetina e calcitriol, os rins exercem uma função endócrina.

A funcionalidade renal é avaliada pela taxa de filtração glomerular (TFG) em cinco categorias:

  • Estágio 1 / Classificação normal ou alta = TFG > 90 mL/min/1,73m²
  • Estágio 2 / Classificação de redução levemente = TFG 60-89 mL/min/1,73m²
  • Estágio 3 / Classificação de redução média a moderada = TFG 45-59 mL/min/1,73m²
  • Estágio 4 / Classificação de redução moderada a grave = TFG 30-44 mL/min/1,73m²
  • Estágio 5 / Classificação de redução grave = TFG 15-29 mL/min/1,73m²
  • Estágio 6 / Classificação de insuficiência/falência renal = TFG > 15 mL/min/1,73m²

Cerca de 15% da população apresenta algum tipo de disfunção renal. No entanto, os pacientes permanecem assintomáticos na maior parte do tempo, apresentando as complicações típicas da disfunção renal crônica apenas em estágios mais avançados.

A alteração definitiva, progressiva e irreversível da função ou estrutura renal pode resultar na doença renal crônica (DRC). Há diversas causas para o desenvolvimento e progressão da doença: diabetes, hipertensão, glomerulonefrite crônica, pielonefrite crônica, uso crônico de medicamentos anti-inflamatórios, doenças autoimunes, doença renal policística, malformações congênitas e doença renal aguda prolongada.

Identificar o estadiamento em indivíduos assintomáticos auxilia na detecção precoce da doença e, dessa forma, permite a implementação de intervenções terapêuticas. Ainda, é possível identificar e evitar a exposição inadequada a substâncias nefrotóxicas, a fim de retardar a progressão de DRC para o estágio terminal.

 

Água mole, pedra dura…

A água é um componente essencial às funções bioquímicas e fisiológicas. Em situações normais, a ingestão de água é movida pela sede, controlada por osmolaridade e volume plasmáticos. Quando a osmolaridade plasmática aumenta ou o volume plasmático diminui, a percepção da sede aparece.

renal

Mas mesmo sem sede, somos estimulados a beber água o tempo todo! Sem dúvidas, a recomendação mais ouvida no mundo é “beba água”.

Ao que parece, o aumento da ingestão de água oferece benefícios para pele, cabelo, sistema gastrointestinal, circulação e até ajuda a emagrecer. Há inclusive aplicativos que te lembram a cada momento de manter a ingestão diária. Mas será que é assim mesmo para disfunções renais?

Um estudo canadense buscou avaliar se o aumento da ingestão de água reduziria a taxa de dano renal em pacientes com doença renal crônica. Para isso, os pacientes foram avaliados durante um ano, e convidados a aumentar sua ingestão diária de água em mais ou menos 1 a 1,5L. Esses pacientes foram comparados a um grupo sem alterações de ingestão de água.

Ao avaliar a taxa de filtração glomerular estimada (eTFG), a água extra consumida no grupo de intervenção não protegeu a função renal. Será que todos os pacientes de fato aderiram ao estudo, ou a água não é tão protetora para os rins como pensamos?

 

Um é pouco, dois é bom, três é demais.

Um estudo maior (1265 pacientes com doença renal crônica em estágio 3 (ou mais) avaliados durante 3 anos) buscou responder essas questões ainda incertas. Os pacientes foram divididos em três grupos: ingestão baixa de água (menos de meio litro ao dia); ingestão moderada (1-2L ao dia) e alta ingestão de água (>2L ao dia).

Curiosamente, dois grupos de indivíduos foram vistos com maior probabilidade de apresentar danos renais: falta e excesso de água! Os indivíduos que tiveram ingestão moderada de água apresentaram os melhores resultados. Tanto a baixa quanto a alta ingestão de água são prejudiciais para pacientes com insuficiência renal crônica.

É importante lembrar que pensamos em ingestão de água quando a bebemos. Mas alimentos (e outras bebidas) também são fonte de hidratação.

Recomendações fixas e padronizadas para todos os tipos de pessoas (e pacientes) devem ser evitadas. O melhor regulador sempre vai ser o próprio indivíduo:“Bebeu água? Não! Tá com sede? Tô!”

 

Você também pode se interessar pelo nosso post sobre Creatinina. Para acessar, clique aqui.

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Referências:

Ammirati, AL. Chronic Kidney Disease. REV ASSOC MED BRAS 2020. 

CLARK, W, et al. Effect of Coaching to Increase Water Intake on Kidney Function Decline in Adults With Chronic Kidney Disease: The CKD WIT Randomized Clinical Trial

Tejas P. Desai. Will Drinking More Water Keep Kidney Disease Away? 2021

WAGNER, S, et al. Water intake and progression of chronic kidney disease: the CKD-REIN cohort study. 2021

 

 

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