HIV-1: quarto caso de sucesso na remissão prolongada sem antirretrovirais

HIV

No final do mês passado tivemos mais uma notícia promissora no combate ao HIV. Durante a Conferência Internacional de Aids, pesquisadores apresentaram um trabalho, no qual mais um paciente foi identificado com remissão prolongada do vírus, sem o uso de antirretrovirais, após transplante de células tronco. Medicina 4 : 1 HIV.

Remissão do HIV com uso de células-tronco: estamos no caminho certo!

Na Conferência Internacional de Aids desse ano, os pesquisadores anunciaram o quarto caso de sucesso na remissão do vírus HIV. Mas o transplante de células-tronco não é novidade.

Em todos os casos relatados anteriormente, os pacientes receberam células de doadores adultos que tinham a mutação protetora contra o HIV, a CCR5- Δ32 em homozigose. Nesse caso, não foi diferente.

O paciente recebeu transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas de um doador compatível, com a mutação CCR5-Δ32 em homozigose. Na última avaliação relatada, 39 meses após o tratamento, não havia evidências detectáveis do vírus.

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Caso clínico

O paciente estudado foi um homem caucasiano de 66 anos, diagnosticado com HIV-1 em 1988 (CD4 <100 células/µL) e com carga viral de HIV-1 indetectável desde 1990 – uso de antirretrovirais.

Em 2018, o paciente desenvolveu leucemia mieloide aguda (LMA), tratada com quimioterapia e o transplante de medula óssea.  O doador era o paciente resistente ao vírus com a mutação CCR5-Δ32. Nessa fase, o paciente apresentava 80 cópias de DNA de HIV-1/milhões de PBMC, vírus trópico de maioria R5 (taxa de falso-positivo de 10%).

Em seguida, continuou com terapia antiviral (emtricitabina/tenofovir e alafenamida/dolutegravir) por 25 meses. Após interrupção do tratamento com antirretrovirais, o paciente permanece em remissão do HIV-1, com RNA viral indetectável e nenhuma resposta imune celular específica do contra o vírus.

Por que só temos quatro casos de sucesso até agora?

Vamos relembrar…

A AIDS é uma doença infectocontagiosa causada pelo vírus HIV (um retrovírus), levando a danos ao sistema imunológico e predispondo a várias infecções secundárias. No mundo inteiro são cerca de 35 milhões de pessoas contaminadas.

Após a incubação, o vírus infecta principalmente células que expressam moléculas de CD4 (linfócitos T, monócitos, células dendríticas). Isso leva a uma queda importante de número dos linfócitos T CD4+, ou seja, linfócitos helpers. Há destruição direta viral à célula, quanto pelo próprio sistema imune do hospedeiro, objetivando eliminar a infecção.

O grande problema é que os linfócitos CD4+ são os coordenadores da resposta imune corporal, como resultado teremos o aparecimento de infecções secundárias oportunistas e neoplasias.

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Tá, mas e eliminar o vírus?

A história natural leva ao óbito do paciente não tratado em cerca de 12 anos. Grande parte do tempo (10 anos) ele permanece assintomático!

Após cerca de 3-6 semanas da infecção primária, o vírus, por apresentar uma intensa replicação viral, leva ao hospedeiro o desenvolvimento de uma “Síndrome Viral Aguda”, que dura poucas semanas, caracterizada por sintomas inespecíficos.

O corpo começa a produzir anticorpos IgG anti-HIV, por isso essa fase de chama de “soroconversão”.

O processo de soroconversão, com auxílio de resposta celular citotóxica (CD8), contém parcialmente a replicação viral. Nesse momento de início da resposta imune temos o que definimos de “Set point”: quanto maior a carga viral pior o prognóstico. De toda forma, o paciente permanece assintomático por cerca de 10 anos! O máximo que pode ter são linfonodopatias generalizadas persistente.

O vírus nunca para de se replicar. Então, chega uma hora que o sistema imune do hospedeiro não dá mais “conta”. É a fase AIDS. Ainda, até o momento “oficial” de AIDS, a doença é classificada em três níveis – assintomática, sintomas B, e AIDS.

O tratamento ocorre após a identificação do vírus – que ocorre após a suspeita médica – que pode ocorrer somente em estágios muito avançados.

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Tratamento padrão

As tecnologias atuais se utilizam do polimorfismo genético presente em cerca de 1% da população para os genes codificadores do CCR5. Nesse caso, o vírus do HIV não consegue interagir com a célula, não sendo fundido e não conseguindo causar a infecção.

Mas ainda é um longo caminho a percorrer.

Os tratamentos atuais incluem terapia antirretroviral com uma combinação de pelo menos três drogas, com objetivo de manter a carga viral indetectável.

Por enquanto, a AIDS é uma doença que (parece que) não tem cura, apenas tratamento. Mas estamos indo no caminho certo, e os quatro pacientes com remissão do HIV mostram um potencial de mudança nesse cenário.

 

Leia também: HIV em remissão após transplante de células-tronco do cordão umbilical. Clique aqui.

Referências:

Dickter et al. OALBB0104 The “City of Hope” Patient: prolonged HIV-1 remission without antiretrovirals (ART) after allogeneic hematopoietic stem cell transplantation (aHCT) of CCR5-Δ32/Δ32 donor cells for acute myelogenous leukemia (AML). Journal of the International AIDS Society (JIAS). August 2022. https://doi.org/10.1002/jia2.25935

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