

Excluindo câncer de pele não melanoma, o câncer de próstata é a segunda neoplasia mais frequente em homens no Brasil, e corresponde a cerca de 15% de todos os casos de câncer em homens.
Na avaliação clínica, a partir de um screening positivo para câncer de próstata (p.ex toque retal suspeito e/ou com valores de PSA alterados) ou na presença de uma história clínica sugestiva, o paciente é submetido a um ultrassom transretal, com a realização de biópsia. Essa amostras de biópsia são avaliadas através do Escore de Gleason.
Veja como utilizar esse escore na prática clínica.
Escore de Gleason: definição, quando e como usar
O escore de Gleason é um índice desenvolvido para auxiliar no prognóstico do câncer de próstata em pacientes submetidos à biópsia por ultrassom transretal. Seu principal objetivo é determinar o nível de diferenciação e progressão tumoral.
A classificação inicial foi proposta em 1966 pelo Dr. Gleason, utilizando amostras de 270 pacientes. Alguns pesquisadores e clínicos notaram que certos tumores não eram adequadamente categorizados da forma como foi inicialmente proposto, então a classificação foi atualizada. A última revisão foi feita na conferência de 2005 da ISUP (International Society of Urological Pathology).
O escore de Gleason é composto por 5 padrões histológicos para determinar o nível de diferenciação tumoral. Veja cada um deles:
- Grau 1: Glândulas pequenas e uniformes.
- Grau 2: Mais estroma entre as glândulas.
- Grau 3: Margens distintamente infiltrativas.
- Grau 4: Massas irregulares de células neoplásicas.
- Grau 5: Formação ocasional de glândulas.
E como calcular os pontos?
Cada grau / critério vale 1 ponto, e para a interpretação soma-se os pontos dos dois padrões histológicos presentes.
Quando apenas um padrão foi identificado na biópsia, deve-se somar seu número duas vezes. Em caso de dois padrões, somar o valor dos dois critérios. E por fim, quando mais de dois padrões estão presentes, soma-se os dois mais frequentes ou os 2 menos diferenciados (com maior grau).
Como interpretar o escore?
O escore de Gleason pode variar de 2-10. Após a somatória dos pontos, a interpretação se dá da seguinte maneira:
Pontuação 2-4: tumor bem diferenciado. Cerca de 25% de chance de metástase em 10 anos.
Pontuação 5-6: tumor com diferenciação intermediária. Cerca de 50% de chance de metástase em 10 anos.
Pontuação 7: tumor pouco diferenciado. Cerca de 50% de chance de metástase em 10 anos.
Pontuação 8-10: tumor indiferenciado. Cerca de 75% de chance de metástase em 10 anos.
Lembrando que quanto maior a pontuação, maior o grau do tumor, mais indiferenciado ele é, e maior o risco de metástase.
Quais as limitações?
O escore é realizado a partir da biópsia tecidual, que pode não representar a heterogeneidade do tumor, e o que será analisado é apenas a porção que foi coletada. Biópsias líquidas são mais heterogêneas nesse sentido.
Além disso, embora considere-se que graus diferentes podem estar em uma mesma amostra, o limite de soma é de 2 graus. Cabe ao avaliador escolher os mais frequentes ou de maior grau.
Por fim, a última atualização da ISUP 2005 considera que tumores de mesma pontuação podem ter comportamentos biológicos diferentes. Dessa forma, são propostos 5 grupos. Quando a pontuação é 7, separa-se em grupo de menor risco (3+4) e de maior risco (4+3).
Relembrando: tratando o câncer de próstata após avaliação por escore de Gleason
O tratamento depende do grau de invasão tumoral. São diversas as opções de tratamento eficientes para uma mesmo estadiamento, o que obrigado o médico a sempre tomar uma conduta particularizada, avaliando a preferência do paciente, agressividade, experiência na técnica.
- Gleason baixo + doença localizada: prostatectomia radical, radioterapia ou vigilância ativa em pacientes com expectativa de vida < 10 anos.
- Gleason intermediário + doença localizada: prostatectomia radical ou radioterapia.
- Gleason alto + doença localizada ou localmente avançada: radioterapia + privação androgênica – castração cirúrgica ou química.
- Doença metastática: privação androgênica – castração cirúrgica ou química.
Lembre-se: em caso de Gleason alto (ou PSA > 10 ou tumor T3/T4), deve-se solicitar TC de abdômen e pelve.
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Referências:
Epstein JI, Allsbrook WC Jr, Amin MB, Egevad LL; ISUP Grading Committee. The 2005 International Society of Urological Pathology (ISUP) Consensus Conference on Gleason Grading of Prostatic Carcinoma. Am J Surg Pathol. 2005 Sep;29(9):1228-42. doi: 10.1097/01.pas.0000173646.99337.b1. PMID: 16096414.
Swanson GP, Trevathan S, Hammonds KAP, Speights VO, Hermans MR. Gleason Score Evolution and the Effect on Prostate Cancer Outcomes. Am J Clin Pathol. 2021 Apr 26;155(5):711-717. doi: 10.1093/ajcp/aqaa130. PMID: 33079976.