A Beriliose é uma doença pulmonar causada por exposição ao berílio, um elemento químico (metal). Mas você sabe diferenciar um caso de sensibilização de berílio de uma toxicidade aguda? Quando é considerado doença crônica? Como interpretar o teste de proliferação linfocítica induzida por berílio?
O que é a Beriliose?
A beriliose é considerada uma pneumoconiose fibrogênica (envolve fibrose do parênquima pulmonar), causada por exposição a partículas de berílio. É mais comum em homens, pelo maior risco de exposição ocupacional, e estima-se que até 800.000 trabalhadores já tiveram algum contato com berílio. Muitas vezes os trabalhadores não sabem que estão expostos – o berílio pode ser adicionado em muitas ligas metálicas.
Vamos relembrar: pneumoconiose é um termo genérico para definir as doenças pulmonares parenquimatosas causadas por inalação de poeiras independente do processo fisiopatogênico envolvido – asbestose, silicose, antracose, beriliose etc.
O berílio é um elemento natural, normalmente distribuído no solo e na poeira vulcânica. As partículas de berílio são respiráveis, ou seja, são aquelas menores de 10 μm e que podem penetrar além dos bronquíolos.
Quando há contato com grandes quantidades de berílio, preferencialmente de forma ocupacional, pode haver a toxicidade aguda. Na presença de inalação de partículas + resposta imunológica + suscetibilidade genética, pode ocorrer a beriliose crônica.
Exposição, sensibilização, toxicidade ou doença crônica?
Vamos lá, é importante diferenciar indivíduos expostos, sensibilizados, com toxicidade aguda ou com doença crônica:
A exposição ao berílio pode ocorrer de forma ocupacional (oficinas mecânicas, trabalhos com ligas metálicas berílio-cobre, indústria eletrônica, extração de berílio, indústria aeroespacial etc.) ou ambiental (partículas de berílio transportadas pelo ar, na água ou no solo – por exemplo, por morar próximo a fábricas).
Cerca de 2-6% dos expostos desenvolvem sensibilidade ao berílio – uma resposta imunológica após o primeiro contato com as partículas. Nesse caso, os pacientes geralmente são assintomáticos, e apresentam anormalidades pulmonares mínimas ou inexistentes. A grande maioria dos sensibilizados progridem com a doença.
Em caso de alta exposição, estamos diante de uma toxicidade aguda por berílio, com formação de pneumonite e edema pulmonar. Os pacientes apresentam tosse, dispneia, fadiga, dor no peito, palpitações e hemoptise. Casos agudos de toxicidade são raros, visto que há limite de exposição permitido.
Casos crônicos (doença crônica por berílio (DCB)) envolvem reação de hipersensibilidade e formação sistêmica de granulomas. Pode se manifestar muitos anos após a exposição inicial, mesmo após doses baixas ou curta exposição.
A maioria dos pacientes com doença crônica apresentam sintomas inespecíficos, sendo tosse seca e dispneia os mais comuns. Febre, fadiga, supor noturno e perda de peso podem ocorrer. Os exames de imagem apresentam achados variáveis, pois dependem da evolução e da gravidade da doença.
Teste de proliferação de linfócitos
O teste de proliferação de linfócitos induzida por berílio (BeLPT) é um exame laboratorial que avalia a resposta do sistema imunológico ao berílio.
Deve ser solicitado obrigatoriamente em caso de suspeita diagnóstica, e pode ser realizado com amostra de sangue ou de lavado broncoalveolar – sempre que possível, preferir a broncoscopia.
A amostra é exposta a 3 concentrações diferentes de berílio, em 2 intervalos de tempo diferentes (6 testes). Se nenhum teste for positivo (0/6), o exame é normal, e o paciente é considerado sem sensibilização ao berílio.
Se houver 1 teste positivo (1/6), estamos diante de um exame limítrofe. Sugere-se que todos os testes limítrofes sejam repetidos. Se houver novamente um resultado limítrofe, é muito provável que o paciente seja sensibilizado ao berílio.
Se dois ou mais testes positivos (2/6), o exame é anormal. Em caso de amostras de sangue, são necessários 2 exames anormais, ou 1 anormal + 1 limítrofe, para definir uma provável beriliose. Em caso de lavado broncoalveolar, apenas 1 anormal é suficiente para o diagnóstico. Estima-se entre 7% e 10% de falsos negativos.
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Referências:
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BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Pneumoconioses. Brasília – DF. 2006.
Stearney, E. R., Jakubowski, J. A., & Regina, A. C. (2023). Beryllium Toxicity. In StatPearls. StatPearls Publishing.
OSHA’s Rulemaking to Protect Workers from Beryllium Exposure. Disponível em: https://www.osha.gov/beryllium/rulemaking.
Sizar, O., & Talati, R. (2023). Berylliosis. In StatPearls. StatPearls Publishing.