O Brasil ocupa um lugar de destaque no consumo excessivo de bebidas alcoólicas
O Brasil é um dos países com maior índice de consumo de álcool; portanto é importante ficar atento nos dados e perceber que o controle do alcoolismo é uma questão de saúde pública.
Dentre as mortes na qual o álcool foi um fator importante nas Américas, o Brasil foi responsável por 24,8%, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Cerca de metade da população brasileira tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas e 18,8% admite consumir álcool excessivamente.
Ainda, o consumo de bebidas alcoólicas aumentou consideravelmente durante a pandemia. Se avaliarmos apenas o primeiro mês da COVID-19 (março 2020), foram mais de 240 mil bebidas compradas online. Falamos um pouco sobre isso em um post anterior (aqui).
Para garantir o bem-estar do paciente é importante identificar o consumo excessivo ou alcoolismo, a fim de direcioná-lo para o tratamento adequado.
Se não for tratada da maneira correta, a condição leva a números significativos de morbidade e mortalidade, sendo um fator importante para casos de suicídio, acidentes automobilísticos fatais, homicídios e crimes violentos. Além disso, pode comprometer gravemente a saúde do paciente.
Nesse sentido, a escala CAGE foi desenvolvida, como um índice para a identificação e estratificação de pacientes com consumo excessivo de álcool.
Escala CAGE – objetivos, quando e por que usar
A escala CAGE é índice desenvolvido com o objetivo de triar os pacientes com maior probabilidade de apresentar consumo excessivo de bebidas alcoólicas ou alcoolismo.
A escala é indicada para avaliação de pacientes que consumam bebidas alcoólicas, sejam eles adultos ou adolescentes, a partir dos 16 anos. Se uso deveria ser incluído como procedimento padrão nos atendimentos de emergência, de assistência básica e nos atendimentos de cunho psiquiátrico.
Critérios, Pontuações e Interpretação
A escala CAGE é composta por 4 perguntas de caráter investigativo. Veja cada uma delas, bem como a pontuação atribuída para cada pergunta durante a avaliação do paciente.
C (Cut down) – Alguma vez você já sentiu a necessidade de cortar o seu consumo de bebida alcoólica?
- Sim: 1 ponto
- Não: 0 pontos
A (Annoyed) – Alguma vez já se incomodou por alguém criticar o seu consumo de álcool?
- Sim: 1 ponto
- Não: 0 pontos
G (Guilty) – Alguma vez já se sentiu mal ou com culpa por beber?
- Sim: 1 ponto
- Não: 0 pontos
E (Eye opened) – Alguma vez já sentiu a necessidade de consumir alguma bebida alcoólica logo após acordar para se acalmar ou para ficar livre de uma ressaca?
- Sim: 1 ponto
- Não: 0 pontos
Após a atribuição da pontuação individual para cada uma das perguntas, é realizada a somatória total dos pontos. A interpretação dependerá do valor total obtido no paciente avaliado.
O risco estimado pode ser avaliado em uma estratificação 2 categorias:
- Pontuação total: < 2 – Baixa probabilidade de consumo excessivo ou alcoolismo.
- Pontuação total: ≥ 2 – Alta probabilidade de consumo excessivo ou alcoolismo.
É importante ressaltar que valores ≥ 2 apresentam 93% de sensibilidade e 76% de especificidade para classificação como “consumo excessivo” e 91% de sensibilidade e 77% de especificidade para “alcoolismo”.
Saiba das limitações e armadilhas
A avaliação pela escala CAGE não tem caráter diagnóstico, sendo seu objetivo indicar qual paciente deve ser avaliado com maior cautela com relação ao seu consumo alcoólico. Portanto, deve ser utilizado como uma ferramenta de triagem.
Ainda, vale destacar que o paciente pode minimizar seu consumo alcoólico. Recomenda-se realizar mais perguntas quantitativas para melhor delineamento do problema.
Quais os próximos passos?
A conduta deve seguir os seguintes critérios:
- Paciente com baixa probabilidade de consumo excessivo ou alcoolismo: nenhuma medida precisa ser tomada. Porém, se houver suspeita de minimização do quadro pelo paciente, realizar perguntas mais profundas.
- Paciente com alta probabilidade de consumo excessivo ou alcoolismo: considere esclarecer o paciente e encaminhá-lo para as áreas adequadas para avaliação adicional e tratamento.
Lembre-se: o aumento no consumo de álcool pode ser prejudicial em diversos aspectos da vida do paciente. Fique atento aos sinais! Uma intervenção pode ser necessária.
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A escala CAGE foi desenvolvida a partir de um estudo exibido para a comunidade científica em 1968 (mas que só foi oficialmente publicado em 1984), no qual foram descritas as perguntas utilizadas na escala e como aplicá-las.
Em 1982, um estudo validou essa ferramenta, demonstrando que a escala foi efetiva para identificar 90% dos pacientes com alcoolismo e 93% dos consumidores excessivos de álcool, enquanto testes laboratoriais foram capazes de identificar apenas 33% deste último grupo.
A escala foi desenvolvida pelo médico psiquiatra John A. Ewing, que faleceu em 2006. Ele atuou como médico em terapias aditivas além de ministrar aulas de psiquiatria na Universidade do Norte da Califórnia. Ele também foi o diretor fundador do Centro Bowles para Estudos Sobre Consumo de Álcool.
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Referências:
Ewing JA. Detecting alcoholism. The CAGE questionnaire. JAMA. 1984 Oct 12;252(14):1905-7. doi: 10.1001/jama.252.14.1905. PMID: 6471323.
Bernadt MW, Mumford J, Taylor C, Smith B, Murray RM. Comparison of questionnaire and laboratory tests in the detection of excessive drinking and alcoholism. Lancet. 1982 Feb 6;1(8267):325-8. doi: 10.1016/s0140-6736(82)91579-3. PMID: 6120322.
Centers for Disease Control and Prevention. Alcohol use and health, 2014. Disponível em: https://www.cdc.gov/alcohol/fact-sheets/alcohol-use.htm
ONU NEWS. Álcool é principal causa de morte de 85 mil pessoas por ano nas Américas. Disponível em: https://news.un.org/pt/story/2021/04/1747502
