Sildenafila pode prevenir a Doença de Alzheimer?

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Doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa, sendo a causa mais comum de demência em idosos. Sabemos que ainda não há tratamento ideal que impeça o avanço da doença, apenas medicamentos para tratar os sintomas da demência. Logo, além do interesse em tratamentos mais eficazes, os pesquisadores seguem em busca de formas de impedir o avanço da doença e melhorar a saúde cerebral.

Nesse sentido, um novo estudo publicado na Nature Aging em dezembro do ano passado apresentou resultados interessantes. Um grupo de pesquisadores apontou o Viagra® como medicamento modificador de risco na Doença de Alzheimer.

Demência e Doença de Alzheimer

A demência é classificada como uma síndrome que se estabelece quando há deterioração da função cognitiva, além dos parâmetros esperados em decorrência do envelhecimento. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 55 milhões de pessoas vivem com demência atualmente – com cerca de quase 10 milhões de casos novos ao ano.

A Doença é Alzheimer (DA) é responsável por cerca de 60-70% de todos os casos de demência registrados. Ainda segundo dados da OMS, esta doença é classificada com a sétima maior causa de morte ao redor do mundo atualmente.

Já falamos sobre a DA em alguns posts anteriores. No nosso artigo “Efeitos dos anti-hipertensivos na Doença de Alzheimer: uma nova opção terapêutica?” fizemos um resumo sobre a doença e seus impactos atuais. Estamos envelhecendo, e esse aumento da incidência de DA é, de fato, esperado.

Os tratamentos utilizados atualmente para a DA visam combater a sintomatologia da doença e retardar a deterioração causada ao paciente. Existem atualmente uma gama de medicamentos utilizados (como Donepezila, Rivastigmina ou Memantina), e a escolha do tratamento vai depender do quadro clínico no qual o paciente se encontra. Porém, a DA é uma doença sem cura.

Viagra® em pacientes com DA?

A contínua investigação se faz necessária para que haja avanço em tratamentos realizados. Nesse sentido, uma equipe de pesquisadores norte-americanos liderados pelo pesquisador Dr. Feixiong Cheng da Cleveland Clinic’s Genomic Medicine Institute, publicou um artigo no qual descrevem a associação do uso da Sildenafila (Viagra®) a um menor risco de desenvolvimento da DA.

No estudo conduzido pelos pesquisadores, foi utilizado um modelo computacional com dados de cerca de 7 milhões de indivíduos. Com base nas análises realizadas, no modelo caso-controle, foi possível identificar que a sildenafila estava associada a uma redução de cerca de 69% no risco de desenvolvimento de DA.

O grupo também estratificou por comparações com outras drogas utilizadas, sexo, idade, ancestralidade e comorbidades relacionadas; as associações permaneceram.

Além disso, os pesquisadores comentam que identificaram um aumento no crescimento de neuritos e redução da expressão de tau fosforilada com o uso de sildenafila. Esses resultados foram avaliados em modelos de estudos com células-tronco induzidas, derivadas de pacientes com DA.

O Dr. Feixiong argumenta que os resultados são relevantes uma vez que, a ocorrência de demência se dá (principalmente) por meio do acúmulo progressivo de duas proteínas principais: Tau e beta-amiloide. Logo, a investigação de medicamentos que possuam potencial de interferência na rede molecular destas proteínas poderiam apresentar grandes chances de sucesso.

 

Conclusões

É exponencial o ritmo de crescimento da DA e outras demências associadas ao envelhecimento. A melhor compreensão da doença é de fundamental importância, pois entender seus subtipos e mecanismos de desenvolvimento e progressão podem auxiliar em futuros tratamentos, desde desenvolvimento de novas drogas até mesmo estudos com reposicionamentos de fármacos.

Precisamos destacar que os resultados encontrados no estudo aqui descrito são obtidos in sílico, ou seja, sem comprovação por modelos clínicos – apenas predições. A associação entre o uso de sildenafila e a diminuição da incidência de DA não estabelece causalidade, o que exige um ensaio clínico randomizado.

Inclusive, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia emitiu uma nota comentando o estudo e relembrando que o medicamento não é autorizado como tratamento ou prevenção da DA.

Porém, isso não reduz a qualidade do trabalho. As evidências são robustas e servem de base para os ensaios futuros. Ainda, é preciso esclarecer que embora estudos in sílico não possuam replicação biológica direta, estes podem impulsionar estudos futuros, uma vez que direciona de maneira mais assertiva o campo de estudo.

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Referências:

FANG, Jiansong et al. Endophenotype-based in silico network medicine discovery combined with insurance record data mining identifies sildenafil as a candidate drug for Alzheimer’s disease. Nature Aging, p. 1-14, 2021.

CLEVELAND CLINIC (Eua). Study identifies sildenafil as candidate drug for Alzheimer’s disease. MedicalXpress. 2021.

SBGG avalia estudo que associa a Sildenafila à prevenção da Doença de Alzheimer. 2021.

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