Envolvimento Pulmonar demanda atenção na Artrite Reumatoide

pulmão tarlatamabe

No dia 12 de outubro foi comemorado o Dia Mundial da Artrite Reumatoide, uma doença autoimune crônica. Por sua característica inflamatória sistêmica, diversos órgãos podem ser acometidos, e nesse post vamos falar um pouco sobre o envolvimento pulmonar na artrite reumatoide.

Artrite reumatoide

Artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica imunomediada, caracterizada por poliartrite simétrica, progressiva e erosiva de pequenas articulações. Apesar do envolvimento articular clássico, que faz da AR o protótipo das poliartrites, trata-se de uma doença sistêmica e com envolvimento potencial de múltiplos órgãos.

Além das articulações, a AR tem predileção pelo acometimento da pele, com nódulos reumatoides; dos olhos, com esclerite e episclerite; de pequenos vasos sanguíneos, com a vasculite reumatoide; e também do trato respiratório, onde a AR tem uma apresentação bastante variada, afetando diretamente todos os compartimentos anatômicos deste sistema.

Acometimento pulmonar na AR

Os pulmões recebem especial atenção no paciente com artrite reumatoide devido à frequência de envolvimento do parênquima, que varia entre 19 e 67% dos portadores da doença, estando em até um terço dos pacientes recém diagnosticados com a doença, dependendo da técnica de exame de imagem utilizada para o rastreio.

A taxa de mortalidade por idade em portadores de AR com doença pulmonar intersticial é cerca de 3 vezes maior do que a taxa de mortalidade por idade para o grupo sem doença pulmonar intersticial associada.

Os fatores de maior risco para a progressão sintomática do envolvimento pulmonar pela AR são a gravidade da doença, altos títulos de fator reumatoide e o tabagismo

Importante mencionar que tais fatores de risco também são relacionados à doença, relacionando-se aqui a citrulinização de peptídeos – que gera os anticorpos anti-peptídeos cirtrulinados (ACPA, ou anti-CCP, o subtipo mais dosado) – muito importante na fisiopatologia da doença articular e que também conferem maior gravidade da doença pulmonar isoladamente, quando positivos.

A doença pulmonar associada à AR ocorre tipicamente após 5 anos do início da doença e costuma demorar anos para se desenvolver ou se tornar sintomática. Entretanto, pode haver alteração da anatomia pulmonar precedendo a doença articular em até 20% dos pacientes, segundo estudos de larga escada com tomografia computadorizada.

Doença pulmonar intersticial

A forma mais comum de doença pulmonar causada pela AR é a doença pulmonar intersticial (DPI), causada por inflamação do parênquima pulmonar seguida de fibrose.

Entre os subtipos de DPI, são mais frequentes a pneumonia intersticial usual (PIU) e a pneumonia intersticial não específica (PINE). O padrão PIU é mais frequente em pacientes mais velhos, do sexo masculino, com história de tabagismo e traz um prognóstico pior com taxas de sobrevida mais baixas em comparação a outros subtipos de DPI.

artrite reumatoide
Subtipos de doenças pulmonares intersticiais associadas à artrite reumatoide. Disponível em ESPOSITO et al. 2019. Thoracic Manifestations of Rheumatoid Arthritis (A) Pneumonia intersticial usual com faveolamento predominante basilar característico e reticulação subpleural com bronquiectasia de tração. (B) Pneumonia intersticial inespecífica discernível por opacidades em vidro fosco subpleural relativamente simétricas com preservação subpleural imediata. (C) Pneumonia criptogênica em organização com pulmão médio-inferior bilateral predominando opacidades consolidativas em uma distribuição periférica e peribroncovascular. (D) Pneumonia intersticial linfocítica marcada por cistos dispersos de paredes finas e opacificação em vidro fosco.

 

Os sintomas mais comuns relacionados à DPI na AR são inespecíficos, como tosse e dispneia aos esforços e dor torácica pleurítica, requerendo um bom diagnóstico diferencial com outras doenças. No exame físico, podem ser auscultados sibilos ou estertores e observados sinais indiretos de doença pulmonar restritiva, como baqueteamento digital ou insuficiência cardíaca direita, que seria ocasionada por hipertensão arterial pulmonar.

O tratamento da DPI associada à AR consiste basicamente no controle da inflamação articular, visto que este é um sinal indireto de que a inflamação pulmonar também está controlada.

Modalidades de tratamento não farmacológicas são extremamente necessárias, como educação do paciente sobre a doença, estímulo à cessação do tabagismo, suplementação de oxigênio quando indicado, vacinação adequada para a idade para pneumonia e influenza, reabilitação com exercícios e profilaxia para pneumocistose em paciente com alto grau de imunossupressão.

Em casos graves pode ser necessária uma terapia direcionada especificamente à melhora da inflamação do parênquima pulmonar, com altas doses de corticosteroides ou com micofenolato de mofetila.

 

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Referências:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC6994971/

https://www.clinexprheumatol.org/abstract.asp?a=16688

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33789847/

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