A infecção por vírus Nipah é uma zoonose, podendo ser transmitida por contato com animais, como morcegos ou porcos, ou ingestão de alimentos contaminados. Ainda, há o risco de transmissão de pessoa para pessoa.
No último mês, a Índia registrou novos casos da infecção viral. Por ser um vírus altamente letal, as medidas de vigilância epidemiológica e controle de casos deve ser rigorosa – razão pela qual foi decretado lockdown em Kerala.
Desde 2001, outros surtos do vírus já foram identificados na Índia e em Bangladesh. No surto atual, até o momento 6 casos foram confirmados, e 2 mortes foram relatadas.
O vírus Nipah é altamente letal
O vírus Nipah (NiV) faz parte da família henipavírus, que também inclui o conhecido vírus Henda (HeV). Esta é uma família de vírus com altas taxas de mortalidade. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a letalidade da zoonose causada por NiV varia de 40 a 75%, a depender da capacidade regional de gestão clínica e vigilância epidemiológica.
A infecção por Nipah cursa com uma variedade de apresentações clínicas, desde infecção assintomática (subclínica) até infecção respiratória aguda e encefalite fatal. Os pacientes podem apresentar sintomas iniciais inespecíficos, como febre, dor de cabeça, mialgia e dor de garganta.
A infecção pode evoluir com alteração do estado mental, incluindo tonturas e sonolência. Em casos graves, há encefalite aguda, progredindo com coma em até 48 horas. A maioria dos pacientes que sobrevivem à encefalite apresentam boa recuperação, mas até 20% dos casos são associados com sequelas neurológicas.
Até o momento, não há uma vacina disponível contra o vírus, mas várias estão em processo de desenvolvimento. Também não há uma diretriz de tratamento para os pacientes infectados. Porém, estudos novos avaliam o potencial da imunoterapia (anticorpo M 102.4) no tratamento dos pacientes com infecção por vírus da família henipavírus, sendo liberado em caráter excepcional.
Surto atual na Índia é o quinto registrado desde 2018
O NiV foi identificado pela primeira vez em 1999, em um surto na Malásia. Em 2001, o vírus foi identificado em Bangladesh, e partir dessa data há surtos frequentes no país. Também há relatos de infecção pelo vírus na Índia. Desde 2018, a região de Kerala já relatou 4 surtos pelo vírus – sendo este de 2023 o quinto.
Segundo a OMS, a forma mais provável de infecção em Bangladesh e na Índia é pelo consumo de frutas (ou produtos derivados de frutas) que podem ser contaminados por urina ou saliva de morcegos frugívoros.
Na atualização do início do ano, haviam sido notificados 11 casos da infecção na Índia, incluindo 8 mortes – o que evidencia a alta letalidade associada ao vírus. Já no último mês, foram confirmados 6 casos, incluindo 2 mortes, e pelo menos 13 pessoas são suspeitas e estão hospitalizadas. Felizmente, os outros 4 casos confirmados parecem estar respondendo bem aos tratamentos oferecidos, e ainda não há novos casos confirmados.
O governo indiano comenta que mais de 1000 pessoas estão sob investigação em Kerala, por terem contato próximo com possíveis casos. Destas, quase 300 consideradas de alto risco. A fim de conter a disseminação do vírus, o governo decretou lockdown, fechando escolas e escritórios, bem como orientou uso de máscaras.
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Referências:
WHO – Nipah Virus. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/nipah-virus Acessado em 25/09/2023.
Playford EG, et al. Safety, tolerability, pharmacokinetics, and immunogenicity of a human monoclonal antibody targeting the G glycoprotein of henipaviruses in healthy adults: a first-in-human, randomised, controlled, phase 1 study. Lancet Infect Dis. 2020 doi: 10.1016/S1473-3099(19)30634-6.
O vírus mortal Nipah está de volta. Risco de disseminação no Brasil ainda é pequeno. Publicado: 20 setembro 2023 14:15 -03. Disponível em: THE CONVERSATION – https://theconversation.com/o-virus-mortal-nipah-esta-de-volta-risco-de-disseminacao-no-brasil-ainda-e-pequeno-214047 Acessado em: 25/09/2023.