Hipotireoidismo e uso de levotiroxina
O hipotireoidismo é uma condição clínica em que não há produção/secreção suficiente de hormônios tireoidianos, levando ao comprometimento do metabolismo corpóreo. Ocorre em cerca de 4% da população, de forma mais frequente em mulheres.
A fisiopatologia depende muito da causa subjacente, mas em última análise todos os casos vão cursar com uma deficiência na liberação/ação dos hormônios tireoidianos (T3/T4) nas células-alvo. Sendo assim, o pilar do tratamento é a reposição hormonal.
A levoritoxina (T4) é um hormônio tireoidiano que, quando adquirido de forma exógena, auxilia na terapia de suplementação/reposição. Além do tratamento de hipotireoidismo, também é indicado em pacientes com bócio, câncer de tireoide e teste de supressão de TSH.
O medicamento referência é o Puran T4® em comprimidos, mas há similares, como Euthyrox®, Uthyrox®, Levoid®. Também está disponível como Levotiroxina Sódica genérico.
Levotiroxina: como prescrever?
A Levotiroxina deve ser administrada via oral, com água, pela manhã, de 30 minutos a 1 hora antes da primeira refeição do dia. Para hipotireoidismo, recomenda-se iniciar com 50 mcg uma vez ao dia, e aumentar 25 mcg a cada 2 a 3 semanas, até a dose de manutenção de 75-125 mcg/dia.
Em caso de bócio, nódulos tireoidianos e supressão de TSH, recomenda-se 2,6 mcg/kg/dia via oral, de 7 a 10 dias.
Para crianças, a posologia muda conforme a idade. Para menores de 1 ano, sugere-se 6-15 mcg/kg uma vez ao dia. Para crianças de 1-5 anos, 5-6 mcg/kg uma vez ao dia. Para crianças de 6-12 anos, 4-5 mcg/kg uma vez ao dia, e para maiores de 12 anos, 2-3 mcg/kg uma vez ao dia.
Em idosos, o uso é cauteloso, iniciando com doses baixas (25 mcg/dia). Importante destacar que há risco de perda óssea e desenvolvimento de osteoporose e fraturas com o uso de levotiroxina exógena. Em mulheres pós-menopáusicas, utilizar a menor dose eficaz possível.
Contraindicações, recomendações gerais e monitoramento
Os principais efeitos adversos do uso incluem arritmias, taquicardia, insônia, nervosismo e dor de cabeça. Em doses excessivas, pode causar hipertireoidismo.
O tratamento com Puran T4® não deve ser utilizado em pacientes com infarto agudo do miocárdio recente, tireotoxicose não tratada, insuficiência suprarrenal e hipertireoidismo, além de pacientes que sejam sensíveis aos componentes da fórmula.
O uso é cauteloso em casos de distúrbios cardiovasculares, idosos, neonatos prematuros de baixo peso, histórico de epilepsia e diabetes mellitus ou insipidus.
É essencial avaliar TSH e T4 total ou livre no início da terapia, 2-4 semanas após, e em ajustes de dose.
Em caso de hipotireoidismo primário, deve-se avaliar TSH a cada 6 semanas no início, ou a cada 3 semanas se não houver melhora de sintomas. Em fase de manutenção, a cada 4-6 meses, e depois anualmente.
Em gestantes, sugere-se avaliar T4 trimestral; TSH a cada 4 semanas até o meio da gestação, e pelo menos uma vez até 30 semanas. Em caso de tireoidite pós-parto, TSH em 4-8 semanas após a resolução da fase tireotóxica. Em uso de T4 durante hipotireoidismo, TSH a cada 4-6 semanas.
E lembre-se: o uso de T4 exógeno não é indicado para redução de peso! Em pacientes eutireoideos, o uso em dose usual não é eficaz para perda de peso, e doses maiores podem resultar em manifestações adversas graves.
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Referências:
PURAN T4® levotiroxina sódica. Sanofi Medley Farmacêutica Ltda.
UpToDate®. Levothyroxine: Drug information.
Hennessey JV. The emergence of levothyroxine as a treatment for hypothyroidism. Endocrine. 2017 Jan;55(1):6-18. doi: 10.1007/s12020-016-1199-8.
Hegedüs L, Bianco AC, Jonklaas J, Pearce SH, Weetman AP, Perros P. Primary hypothyroidism and quality of life. Nat Rev Endocrinol. 2022 Apr;18(4):230-242. doi: 10.1038/s41574-021-00625-8.
