A procalcitonina (PCT) é um pró-hormônio, sendo produzida nas células C da tireoide. É um marcador inflamatório relacionado com processos infecciosos bacterianos graves.
De forma simplificada, diante de infecção bacteriana os valores estão elevados e inalterados diante de infecção viral, fúngica e demais processos inflamatórios.
Procalcitonina: quando solicitar?
A Procalcitonina é um pró-hormônio da calcitonina que, em condições normais, permanece apenas no interior das células C (parafoliculares) da tireoide. Dessa forma, em situações habituais, não é encontrada na corrente sanguínea.
No entanto, diante de principalmente infecções bacterianas graves, pode existir uma produção extratireoidiana, especialmente em macrófagos, o que eleva os níveis de procalcitonina na corrente sanguínea. Isso ocorre uma vez que ela é um reagente de fase aguda e responde a estímulos inflamatórios envolvendo endotoxinas bacterianas e consequentes citocinas inflamatórias.
Níveis elevados de procalcitonina em resposta a infecções virais e estímulos inflamatórios não infecciosos (como doenças autoimunes e processos inflamatórios crônicos) são muito menos pronunciados.
Assim, na prática, a procalcitonina é amplamente utilizada para avaliar o risco de infecção bacteriana e progressão para sepse bacteriana grave e choque séptico, em conjunto com outros achados laboratoriais e avaliação clínica.
Além disso, é usada para determinar o risco de mortalidade em pacientes com sepse bacteriana: quanto maior os níveis, maior o risco de sepse grave e choque séptico, piorando a sobrevida. Os níveis caem com um tratamento bem-sucedido – sendo assim, um excelente marcador de acompanhamento para esses pacientes.
Uma outra utilidade na prática é avaliar uma coinfecção bacteriana diante de uma infecção viral. Tal fato é utilizado diante de COVID-19, uma vez que esse pró-hormônio basicamente não se altera diante de infecções virais.
Desse modo, valores baixos refletem um baixo risco de coinfecção bacteriana, por outro lado valores altos refletem provável coinfecção bacteriana e a necessidade de iniciar terapia antibiótica. Alguns estudos ainda apontam que mesmo que não haja coinfecção bacteriana, nos pacientes com COVID-19 grave a procalcitonina também pode se elevar.
Quais os valores de referência?
Em geral, valores inferiores a 0,5 ng/mL correspondem a um risco baixo de progressão para sepse grave ou choque séptico bacteriano. Caso seja clinicamente indicado, considerar nova dosagem depois de 6 a 24 horas.
Valores de 0,5 a 2 ng/mL indicam risco moderado de progressão para septicemia. Recomenda-se repetição do exame depois de 6 a 24 horas. Alternativamente, pode-se interpretar como inflamação sistêmica.
Valores acima de 2 ng/mL indicam alto risco (ou já presença) de infecção bacteriana grave ou choque séptico.
Na COVID-19, valores inferiores a 0,5 ng/mL indicam um quadro mais leve e baixo risco de coinfecção bacteriana. Valores maiores ou iguais a 0,5 ng/mL, indicam um quadro mais grave e/ou provável coinfecção bacteriana.
Alguns estudos ainda apontam que mesmo que não haja coinfecção bacteriana, nos pacientes com COVID-19 grave a procalcitonina também pode se elevar.
Quais os possíveis interferentes no exame?
A procalcitonina não é prejudicada diante de estados imunocomprometidos como neutropenia, uso de corticoides, transplante de medula óssea ou órgãos sólidos e HIV. No entanto, em pacientes com doença renal crônica os resultados podem não ser confiáveis.
Deve-se ressaltar que a procalcitonina pode ser falso positivo em algumas condições como trauma grave, parada cardíaca, choque circulatório, cirurgia, queimaduras, pancreatite, hemorragia intracraniana, pós-natal imediato, após uso de imunomoduladores, carcinoma medular de tireoide, carcinoma de oat cells (pulmonar), Doença de Kawasaki, malária e infecções graves por cândida.
Por último, a procalcitonina pode não aumentar em infecções bacterianas localizadas como amigdalite, sinusite, cistite, infecções não complicadas de pele/tecidos moles, abscessos ou empiemas.
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Referências:
Rhee, C. – Procalcitonin use in lower respiratory tract infections. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
Pagana, KD; Pagana TJ. Mosby’s Manual of Diagnostic and Laboratory Tests. 6 ed. – Elsiever – 2017
Caquet, René. 250 exames de laboratório: prescrição e interpretação / René Caquet; tradução de Laís mEDEIROS, Bruna Steffens e Janyne Martini – 12. Ed. – Rio de Janeiro – RJ: Thieme Publicações, 2017