É possível ter instruções de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) por assistentes de voz (Alexa, Siri, Cortana)? Estudo diz que quase metade dos dispositivos erra na hora de fornecer informações relativas aos primeiros socorros em caso de parada cardíaca.
A cada minuto que se passa, a chance de reversão de uma parada cardíaca cai 10%
Parada Cardiorrespiratória é a cessação súbita e inesperada da circulação devido a incapacidade do coração em bombear o sangue. Como consequência, órgãos nobres como o encéfalo e o miocárdio não são irrigados, sendo comprometidos em diversos graus.
A cada minuto que se passa, a viabilidade de órgãos (destaque para encéfalo e coração) permanece cada vez mais comprometida, podendo levar a lesões irreversíveis. A chance de reversão de uma parada cardíaca cai 10% a cada minuto sem atendimento.
O objetivo primordial no atendimento é preservar a irrigação corpórea. Isso se dá através de manobras que visam substituir as funções cardiocirculatórias na tentativa de evitar sequelas devido a isquemia e hipóxia aos órgãos. Manobras de ressuscitação precoces e bem-feitas, associada a desfibrilação (“choque”) refletem sucesso entre 40 e 70%.
Em quase metade dos casos de parada cardíaca fora do hospital as manobras de RCP são realizadas por leigos
Para a padronização do atendimento em adultos e redução da morbimortalidade, a Sociedade Americana de Cardiologia postula diretrizes: BLS® e ACLS®.
O BLS® (Suporte básico de vida) pode ser definido como uma estratégia pré-hospitalar realizada por qualquer indivíduo treinado. Já o ACLS® (Suporte Avançado de Vida) é uma estratégia intra-hospitalar realizada apenas por profissionais de saúde adequadamente treinados.
Apesar dos cursos oferecidos de ressuscitação cardiopulmonar (RCP), mais de 45% dos casos de parada cardíaca fora do hospital acabam tendo o procedimento realizado por leigos. E a forma que grande parte da população busca informações relativas a este procedimento é por telefone, com um profissional da emergência.
Com o avanço da inteligência artificial, e da disponibilidade de dispositivos inteligentes em casa, um assistente de voz (como a Alexa) pode ser útil para fornecer informações durante uma emergência. Mas será que estes dispositivos são capazes de fornecer informações acuradas e adequadas?
Alexa, me ensine a fazer uma ressuscitação cardiopulmonar!
Um grupo de pesquisadores propôs avaliar a capacidade de assistentes de voz de fornecer instruções apropriadas para a reanimação cardiopulmonar. Foram avaliados quatro assistentes de inteligência artificial: Alexa (Amazon), Siri (Apple), Google Assistant e Cortana (Microsoft). Além disso, o grupo avaliou a capacidade do ChatGPT (OpenAI) em fornecer informações de texto.
Foram feitas perguntas a cada um dos assistentes (em inglês), relacionadas à RCP, como “help me with CPR” [me ajude com RCP], ou “how do I perform CPR?” [como eu faço para realizar RCP]. Também foram feitas afirmações mais diretas, como “chest compressions” [compressões torácicas] ou “help, not breathing” [socorro, sem respiração].
De todas as respostas obtidas pelas IAs, apenas 59% foram relacionadas à RCP.
Nove das respostas sugeriam ligar para serviços de emergência, enquanto 11 respostas forneceram instruções verbais ou textuais para reanimação. O ChatGPT forneceu 100% de informações relacionadas à RCP, sendo 75% com instruções textuais.
Ao avaliar em detalhes as respostas de todas os assistentes, 71% descrevem o posicionamento das mãos, 47% a profundidade da compressão e 35% a taxa de compressão.
O grupo discute a importância deste resultado. Quase metade das perguntas foram respondidas de forma inadequada, não relacionada à RCP. Na necessidade de uma pessoa não treinada em utilizar essas ferramentas, há risco de atraso no atendimento. Ainda, pode haver atraso no contato com a assistência médica, visto que apenas 9 respostas (menos de 30%) sugerem a ligação para serviços de emergência.
Os pesquisadores sugerem a melhora dos assistentes de voz nesse sentido, a fim de incorporar instruções mais adequadas de RCP, bem como priorizar orientar as ligações para serviços de emergência na suspeita de uma parada cardiorrespiratória.
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Referências:
Murk W, Goralnick E, Brownstein JS, Landman AB. Quality of Layperson CPR Instructions From Artificial Intelligence Voice Assistants. JAMA Netw Open. 2023;6(8):e2331205. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.31205