A perda auditiva induzida por ruído (PAIR) é a segunda doença ocupacional mais frequente, e estima-se que 25% da população trabalhadora exposta a ruídos esteja em risco. Como o próprio nome sugere, a PAIR é a perda auditiva causada por ruído, normalmente em um ambiente de trabalho.
Você sabe quando o ruído é considerado prejudicial? Como identificar e tratar um paciente com PAIR?
Quando um ruído é prejudicial?
Quando falamos em som, estamos falando sobre qualquer perturbação vibratória que produz sensação auditiva. De forma subjetiva, definimos que sons indesejáveis são ruídos.
De forma técnica, o ruído é qualquer som que seja aleatório, incoerente ou não harmônico. Ele pode ser causado por uma variedade de fontes, incluindo tráfego, máquinas industriais, atividades humanas, música alta, entre outros.
O ruído é frequentemente medido em decibéis (dB), com níveis mais altos de ruído sendo associados a danos auditivos potenciais e outros impactos negativos na saúde física e mental.
Alterações estruturais na orelha interna ocorrem quando há exposição continuada ao ruído intenso – isso significa pelo menos 85dB por 8 horas por dia. Lesões auditivas também podem ocorrer quando o ruído é muito intenso e ocorre de forma súbita (ruído de impacto), gerando trauma acústico.
Perda auditiva induzida por ruído (PAIR)
A perda auditiva induzida por ruído (PAIR) ocorre na redução gradual da acuidade auditiva, de forma neurossensorial, irreversível e progressiva, causada por exposição prolongada ao ruído. Também pode ocorrer de forma aguda – daí chamada de trauma acústico.
Na grande maioria dos casos, é uma condição ocupacional. Exposição não ocupacional inclui uso prolongado de fones de ouvido em volume alto em pessoas suscetíveis.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 1 bilhão de pessoas entre 12 e 35 anos correm risco de perda auditiva por ruídos potencialmente prejudiciais. O risco é maior em homens (pela prevalência da exposição ocupacional), e aumenta com a idade – 13% em adultos entre 40-49 anos, 29% em adultos com 50-59 anos e 45% em idosos.
Como identificar um paciente com perda auditiva por ruídos?
Como citamos, casos de trauma acústico são mais fáceis, pois há exposição única a ruído de alta intensidade seguido de perda auditiva súbita, zumbido, hiperacusia, tontura e dor de cabeça.
Em caso de exposição continuada a ruídos, o paciente apresenta redução da capacidade auditiva, com início em frequências altas, e progressão gradual. Pode haver dificuldade em entender falas em grandes ambientes (festas, igrejas), e/ou dificuldade em localizar a origem do som. Quase sempre é bilateral, e zumbido pode estar presente.
Leia também: Questionário para avaliação de Zumbido.
Alguns sintomas não auditivos podem estar presentes, como dores de cabeça, ansiedade, irritação, insônia etc.
O diagnóstico inclui exame físico + exames audiológicos (audiometria, teste de reflexo auditivo, logoaudiometria etc). É essencial questionar exposição a ruídos no ambiente profissional, tanto atual e quanto anterior, e ambiente pessoal – mora perto de obras? Há barulho excessivo diariamente?
Além da avaliação dos sinais e sintomas, realizar otoscopia para inspeção do meato acústico, e teste de Rinne. Lembre-se também de conferir medicamentos que o paciente faz uso regular, e avaliar risco de ototoxicidade.
Segundo o College of Occupational and Environmental Medicine, um caso de PAIR pode ser definido quando:
1) Perda auditiva obrigatoriamente neurossensorial, com comprometimento das células ciliadas da orelha interna.
2) Bilateral (quase sempre).
3) Rebaixamento no limiar audiométrico de 3, 4 ou 6 kHz como primeiro sinal.
4) Apenas a exposição ao ruído não produz perdas maiores que 75 dB em frequências altas e 40 dB em frequências baixas.
5) A perda auditiva é progressiva, sendo maior nos primeiros 10-15 anos.
6) Ao cessar a exposição, a progressão é interrompida.
Como tratar?
A PAIR é uma condição progressiva e irreversível. O tratamento pode ser realizado com reabilitação em fonoaudiólogo e uso de aparelhos de amplificação auditiva. No entanto, a prevenção é a pedra angular do manejo da condição.
As condições associadas / complicações deve ser tratadas, como ansiedade. Na presença de zumbido associado, tratar com técnicas de mascaramento e retreinamento.
Por fim, lembre-se de orientar o paciente: por ser uma condição ocupacional, os pacientes devem buscar seus direitos trabalhistas. Todos os casos devem ser notificados para o SINAN (sistema de informação de agravos de notificação), e a CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) deve ser preenchida.
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Referências:
Peter C Weber, MD, FACS. Etiology of hearing loss in adults. UpToDate. Feb 2024.
Priya, J. S., & Hohman, M. H. (2023). Noise Exposure and Hearing Loss. In StatPearls. StatPearls Publishing.