Muitos métodos contraceptivos direcionados às mulheres foram desenvolvidos nas últimas décadas. No entanto, alguns desses métodos podem causar efeitos adversos na saúde da mulher, além do fato de que alguns casais não podem usá-los devido a condições de saúde.
Considerando que a preocupação com métodos contraceptivos não deveria ser exclusiva da mulher, diversas pesquisas vêm surgindo com opções para a contracepção masculina. Entre essas opções, temos como alvo a expressão gênica durante a espermatogênese.
Correpressores de receptores nucleares: alvo para contracepção masculina
Estudos em roedores demonstraram a possibilidade de uma contracepção masculina reversível que possui como alvo o receptor de ácido retinóico (RAR). Os pesquisadores utilizaram uma abordagem contraceptiva oral baseada na interrupção da espermatogênese.
A espermatogênese envolve uma série de processos de autorrenovação e diferenciação das células-tronco espermatogoniais. Esses processos são dependentes da ativação de receptores de ácido retinóico (RARs), que controlam a expressão de genes-alvo por meio da associação com proteínas correpressoras.
Um estudo observou que a interação entre RAR e o correpressor SMRT é essencial para a espermatogênese. Em um modelo de camundongo geneticamente modificado que anula a ligação SMRT-RAR, a expressão de certos genes ao longo dos túbulos seminíferos é interrompida, causando a infertilidade.
A presença de uma população de células-tronco espermatogoniais após esse tratamento sugere que a infertilidade causada é reversível.
Os pesquisadores mostraram que a inibição da interação entre RAR e SMRT pode ser realizada com a administração oral crônica e de baixa dose de um inibidor de histona desacetilase, que bloqueia reversivelmente a espermatogênese e a fertilidade sem afetar a libido.
Existem outras opções medicamentosas e não medicamentosas em desenvolvimento para a contracepção masculina. Entretanto, todas essas alternativas devem levar em consideração alguns fatores:
Fatores a serem considerados ao desenvolver novos métodos de contracepção masculina
Todos os métodos contraceptivos devem considerar tanto os fatores médicos quanto os comerciais. Um fator importante é a reversibilidade, pois as necessidades de planejamento familiar mudam ao longo do tempo, e as taxas de divórcio são altas.
Um fator adicional a ser considerado na contracepção masculina é o destino do espermatozoide que não pode ser excretado. Como os espermatozoides maduros não estão presentes no corpo antes da puberdade, após o estabelecimento do sistema imunológico central do indivíduo, o espermatozoide pode ser reconhecido como um antígeno pelo sistema imunológico masculino adulto. Por esse motivo, os homens que passaram por vasectomia frequentemente produzem anticorpos antiespermáticos (ASAs).
Também é importante considerar a imediatidade dos efeitos de um contraceptivo. À medida que a duração entre o início do uso do contraceptivo e o efeito contraceptivo se torna mais longa, a necessidade de usar múltiplas opções contraceptivas aumenta.
A segurança é outro fator importante que impediu muitos métodos contraceptivos masculinos de serem lançados. Problemas não resolvidos que causam efeitos colaterais como dor, granuloma espermático ou congestão no epidídimo muitas vezes levam à descontinuação do produto na fase de ensaio clínico. Por fim, a invasividade do método também é importante.
Contracepção masculina hormonal em desenvolvimento
O mecanismo básico da contracepção hormonal masculina é regular o eixo hipotálamo-hipófise-testicular através da administração exógena de andrógenos e progestinas.
Andrógenos administrados exogenamente se ligam ao receptor de andrógeno no cérebro e inibem a produção de hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), hormônio folículo-estimulante (FSH) e hormônio luteinizante (LH), impedindo a síntese de testosterona (T) e espermatogênese nos testículos.
Muitos estudos têm sido conduzidos para usar esse mecanismo para inibir a produção de espermatozoides, com ensaios clínicos de contracepção hormonal masculina ocorrendo pela primeira vez na década de 1970.
Muitos contraceptivos hormonais masculinos que usam andrógenos (principalmente T) e progestinas sozinhos ou em combinação para suprimir o esperma ou a produção de GnRH estão na fase de ensaios clínicos. Esses medicamentos têm se mostrado muito eficazes contra a concepção enquanto são tomados. No entanto, incertezas sobre se a exposição a doses elevadas de andrógenos aumentará o risco de desenvolvimento de câncer ou doenças cardiovasculares permanecem sem solução.
Além disso, vários efeitos colaterais, como dor, acne, ganho de peso, mudança de humor, alteração da libido, mudança de comportamento e fadiga, foram relatados em estudos de eficácia.
Contracepção não hormonal
A contracepção não hormonal visa proteínas que afetam a produção de esperma ou sua função. Medicamentos contraceptivos masculinos não hormonais podem agir durante o processo de formação, maturação, migração dentro do sistema reprodutivo feminino ou fertilização de ovócitos. Quase todos os contraceptivos masculinos não hormonais estão na fase pré-clínica.
Conclusão
Atualmente, a maioria dos métodos contraceptivos é comercializada para mulheres, sendo os únicos métodos comercializados para homens os preservativos e a vasectomia. Dessa maneira, é extremamente necessária a progressão para a fase clínica dos estudos de contracepção masculina, para que esses medicamentos possam ser comercializados.
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Referências:
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KIM, J. et al. Advances in Male Contraception: When Will the Novel Male Contraception be Available? World J Mens Health Published online Jan 2, 2024.
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CONSELHO FEDERAL DE FARMÁCIA. Anticoncepcional masculino em gel apresentou 99% de eficácia. 2024. https://site.cff.org.br/noticia/Noticias-gerais/12/01/2024/anticoncepcional-masculino-em-gel-apresentou-99-de-eficacia