Lipedema: etiologia e fisiopatologia, diagnóstico e tratamento

O Lipedema é uma condição inflamatória crônica e progressiva, na qual há deposição anormal de gordura no tecido subcutâneo, geralmente nas pernas, coxas, quadris e braços. Devido a expansão bilateral e assimétrica do tecido adiposo, causa dor e inchaço.

É uma condição rara, e afeta quase exclusivamente mulheres (95% dos casos). Veja mais sobre a etiologia e fisiopatologia, bem como diagnóstico e tratamento do linfedema.

Como ocorre e o que causa lipedema?

A etiologia do lipedema não é completamente elucidada. No entanto, diversos estudos sugerem a interação entre fatores genéticos, hormonais e vasculares.

Até 60% dos pacientes têm parente de primeiro grau afetado. Alguns genes já foram estudados, como os relacionados à adipogênese. A doença poderia ser causada por uma mutação nesses genes, com herança autossômica dominante, mas penetrância incompleta (ou seja, nem todos que apresentam a alteração genética apresentam lipedema clínico).

Para o entendimento do lipedema, um ciclo é proposto:

1) Aumento da expressão de genes associados à expansão clonal e proliferação celular resulta em hiperplasia e/ou hipertrofia do tecido adiposo.

2) Com o crescimento excessivo das células, há redução do suprimento de oxigênio (hipóxia).

3) Com isso, a matriz extracelular se remodela. Há deposição de colágeno, proteoglicanos e glicosaminoglicanos, levando a microangiopatia e fibrose.

4) As junções das células endoteliais “afrouxam”, resultando maior permeabilidade celular e extravasamento. Isso gera inflamação e maior comprometimento vascular – diminuindo também a capacidade dos vasos linfáticos em captar líquido intersticial, gerando insuficiência de grande volume.

5) As alterações vasculares e linfáticas, juntas, contribuem para o aumento e acúmulo do líquido intersticial. Esse acúmulo, ao redor das células adiposas, acaba servindo como fonte de nutrientes, o que piora o quadro.

6) A combinação fibrose tecidual + edema + inflamação resulta em redução da mobilidade e dor.

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Como identificar um paciente com linfedema?

O quadro clássico envolve o acúmulo de gordura nos membros inferiores, de forma simétrica e bilateral. Pode ocorrer também nos braços, em menor frequência (30% dos casos).

Geralmente, o lipedema está associado com preservação de mãos e pés, dor (especialmente à palpação), sensação de peso nas pernas, redução da mobilidade, edema e hematomas. Pode haver piora dos sintomas ao longo do dia, telangiectasias e hipotermia cutânea. Ainda, pode haver associação com outras condições clínicas, como obesidade e linfedema.

O diagnóstico é clínico, com anamnese detalhada e exame físico. Os exames complementares são úteis para exclusão de diagnósticos diferenciais, identificação da extensão da condição, e podem auxiliar em caso de dúvida diagnóstica. É o caso da avaliação de pele e tecido subcutâneo (ultrassonografia, tomografia computadorizada ou ressonância magnética), e da avaliação funcional e estrutural do sistema linfático (linfografia direta, microlinfografia, cintilografia linfática funcional e linfangiografia).

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É importante classificar a condição do paciente

O lipedema pode ser classificado de duas formas: de forma anatômica, considerando a área afetada, ou de forma funcional, considerando a gravidade / evolução.

 

Classificação anatômica

Tipo 1: umbigo até os quadris.

Tipo 2: umbigo até os joelhos, com tecido gorduroso na parte lateral e inferior dos joelhos.

Tipo 3: umbigo até os tornozelos, preservando mãos e pés (formação de manguito).

Tipo 4: braços.

Tipo 5: do joelho até o tornozelo.

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Classificação funcional progressiva

Estágio 1: textura de pele lisa / normal. Tecido subcutâneo com aumento de gordura. Nódulos do tamanho de pérolas em uma camada hipertrófica.

Estágio 2: pele irregular, um pouco mais flácida do que o esperado para a idade (parece celulite). Nódulos maiores (tamanho de pérola a maçã).

Estágio 3: pele significativamente mais flácida, com a presença de dobras. Tecido aumentado, mais doloroso e mais fibrótico. Numerosos nódulos subcutâneos. Pode causar redução da mobilidade.

Estágio 4: estágio 3 + linfedema (lipolinfedema).

OBS.: em todos os estágios pode ocorrer linfedema, mas é muito mais comum em estágios avançados.

Lipedema: etiologia e fisiopatologia, diagnóstico e tratamento
Disponível em: https://sbacvsp.com.br/lipedema/

Como tratar?

O lipedema não tem cura, mas tem tratamento. Os objetivos são melhorar a função física e psicológica do paciente, e prevenir complicações secundárias.

Na maioria dos casos, o tratamento é conservador: drenagem linfática, terapia de compressão, fisioterapia, controle de peso. Em caso de sintomas persistentes ou grande impacto na vida do paciente, cirurgias podem ser indicadas – como lipoaspiração.

A resposta é boa quando há tratamento multidisciplinar, envolvendo médicos, fisioterapeutas etc. Por ser uma condição que causa incômodo estético, o acompanhamento com nutricionistas, educadores físicos e psicólogos também auxilia para melhora da imagem corporal.

Lipedema: etiologia e fisiopatologia, diagnóstico e tratamento

Lipedema, linfedema ou obesidade?

O lipedema predispõe ao aumento de peso, aumentando o risco de obesidade. O aumento de peso, tanto por uma condição quanto por outra, pode aumentar o risco de linfedema secundário. Daí que muitas vezes os diagnósticos são confundidos. Mas há diferenças:

Embora o nome lipedema inclua edema, o inchaço não é o componente primário da doença – o que ajuda a confundir as nomenclaturas. O que ocorre é a lipodistrofia com deposição anormal de tecido adiposo subcutâneo nas extremidades inferiores.

Na obesidade, há um acúmulo excessivo/anormal de gordura no corpo como um todo. No lipedema, o acometimento é principalmente nas extremidades inferiores – o resto do corpo normalmente não é afetado.

O aumento de peso (tanto da obesidade quanto do lipedema) pode danificar os vasos linfáticos. Nesse caso, há linfedema secundário associado. Além disso, o linfedema também pode ser primário, quando há vasos linfáticos malformados – o que não tem relação com o lipedema nem com a obesidade.

Em caso de linfedema associado, há aumento do volume das extremidades pelo acúmulo de líquido rico em proteínas no tecido subcutâneo. Com o tempo, o fluido inflamatório estimula a deposição de gordura subcutânea, aumentando ainda mais o tamanho das pernas. Dessa forma, o tecido é muito mais fibrótico e inflamatório do que gorduroso.

Além disso, o acometimento do lipedema é quase exclusivamente em mulheres – enquanto a obesidade e o linfedema podem acometer ambos os sexos.

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Referências:

Arin K Greene, MD. Diagnosis and management of lipedema. UpToDate®. Mar 2024.

Poojari, A., Dev, K., & Rabiee, A. (2022). Lipedema: Insights into Morphology, Pathophysiology, and Challenges. Biomedicines, 10(12), 3081. https://doi.org/10.3390/biomedicines10123081

Kruppa P, Georgiou I, Biermann N, Prantl L, Klein-Weigel P, Ghods M. Lipedema-Pathogenesis, Diagnosis, and Treatment Options. Dtsch Arztebl Int. 2020 Jun 1;117(22-23):396-403. doi: 10.3238/arztebl.2020.0396. PMID: 32762835; PMCID: PMC7465366.

 

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