Os Critérios de Beers da Sociedade Americana de Geriatria auxiliam na identificação de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos. Mês passado, os critérios de 2019 foram revisados por um grupo de especialistas, e uma nova atualização foi disponibilizada.
Veja quais os medicamentos foram incluídos, quais foram excluídos, e as justificativas para cada alteração.
Critérios de Beers da AGS: saiba mais
Os “critérios de Beers da AGS” (American Geriatric Society Beers Criteria®) é uma ferramenta para identificação de medicamentos potencialmente inapropriados para idosos, evitando assim maiores riscos associados para estes pacientes.
Os critérios incluem 5 categorias de medicamentos. Após selecionar cada medicamento que o paciente utiliza ou pretende utilizar e a identificação da sua categoria, a interpretação se dá da seguinte maneira:
Categoria 1: Esses medicamentos são potencialmente inadequados para todos os idosos e devem ser evitados.
Categoria 2: Em caso de problemas cardiovasculares, neurológicos, histórico de quedas e fraturas, Doença de Parkinson, histórico de problemas gastrointestinais ou histórico de problemas geniturinários / renais, os medicamentos são potencialmente inadequados. Evitar o uso.
Categoria 3: Medicamento de uso cauteloso, especialmente em maiores de 70 anos.
Categoria 4: Esses medicamentos podem interagir entre si e oferecer riscos de efeitos adversos.
Categoria 5: Esses medicamentos requerem doses reduzidas na população idosa, especialmente em casos de insuficiência renal. Sempre que possível, devem ser evitados.
A primeira versão dos critérios de Beers foi proposta em 1991 por Mark Beers, e desde então estes critérios vêm sendo atualizados. A última atualização, de maio de 2023, inclui as drogas que se sugere evitar em idosos e quais as situações específicas para isso, também com nível de evidência. Tais critérios foram mais rígidos, com 12 especialistas revisando o último painel proposto em 2019.
Veja aqui o que mudou.
Níveis de evidência
O painel foi realizado com base em níveis de evidência de estudos científicos, e classificado em 3 categorias, considerando risco de viés no estudo, inconsistência de achados, relevância, precisão e viés de publicação.
Veja aqui um guia de como avaliar estudos randomizados.
- Evidência de alta qualidade: obtida em pelo menos um estudo randomizado e controlado por placebo, e os achados são consistentes. É muito improvável que os estudos futuros provem o contrário em relação ao dado encontrado.
- Evidência de qualidade moderada: obtida de estudos randomizados e controlados com limitações, ou de estudos bem desenhados, mas sem randomização. Estudos futuros ainda podem ter um impacto significativo nos achados.
- Evidência de baixa qualidade: obtida de estudos observacionais, com maior risco de viés.
Considerando os níveis de evidência, os especialistas julgam a recomendação como “forte” ou “fraca”. Com isso, as 5 categorias de medicamentos foram revisadas.
Categoria 1: Medicamentos potencialmente inadequados para idosos
A primeira tabela diz respeito aos medicamentos que são potencialmente inadequados para todos os idosos. Essa é a lista mais abrangente, na qual recomenda-se evitar o uso.
O que mudou da versão dos Critérios de Beers de 2019?
Nessa lista, alguns medicamentos foram excluídos, seja por não serem muito utilizados, ou por não estarem disponíveis comercialmente. São eles:
Carbinoxamina; Clemastina; Dextrobronfeniramina; Dexclorfeniramina; Pirilamina; Alcaloides de Beladona; Metscopolamina; Propantelina; Guanabenz; Metildopa; Reserpina; Disopiramidaco; Protriptilena; Trimipramina; Amobarbital; Butobarbital; Mefobarbital; Pentobarbital; Secobarbital; Flurazepam; Quazepam; Isoxsuprina; Clorpropamida; Fenoprofeno; Cetoprofeno; Meclofenamato; Ácido mefenâmico e Tolmetina.
E quais medicamentos foram adicionados nessa lista?
A principal alteração foi a inclusão da varfarina, visto os novos dados na literatura sobre o uso de anticoagulantes. Assim, sugere-se evitar utilizar varfarina como terapia iniciar em TEV ou fibrilação atrial não valvar, exceto em caso que opções alternativas sejam contraindicadas. Em pacientes que já a utilizam a longo prazo, continuar em caso de INR bem controlado.
Categoria 2: Medicamentos potencialmente inadequados para idosos com certas condições clínicas
Da lista de uso especial em pacientes com condições, foram removidos a rosiglitazona, tioridazina, meperidina e ranitidina.
E quais medicamentos foram adicionados nessa lista?
A combinação de dextrometorfano-quinidina em caso de insuficiência cardíaca agora é contraindicada. Em casos de delirium, também não se deve usar opioides. E por fim, em pacientes com histórico de quedas e fraturas, novos dados sugerem que se deve evitar o uso de anticolinérgicos.
Categoria 3: Medicamentos de uso cauteloso
Os medicamentos que devem ser usados com cautela em idosos são os seguintes:
– Dabigatrana – em uso prolongado
– Prasugrel
– Ticagrelor
– Mirtazapina
– ISRS/ISRN
– Antidepressivos tricíclicos
– Carbamazepina
– Oxcarbazepina
– Dextrometorfano
– Quinidina
– Sulfametoxazol + trimetoprima
– Canigliflozina
– Dapagliflozina
– Empagliflozina
– Ertugliflozina
Qual a diferença da lista de 2019?
Com a atualização, os medicamentos inibidores de SGLT2, bem como ticagrelor, foram incluídos como uso cauteloso em idosos. Ainda, os protocolos de anticoagulação com a dabigatrana, assim como pra varfarina, foram revisados.
Categoria 4: Medicamentos com potenciais interações medicamentosas
Dessa lista, a combinação de corticoesteroides com AINEs foi removida do “uso cauteloso”, visto que o uso de AINES passou a ser de maior risco (foi incorporado na primeira tabela). Logo, suas associações serão sempre de maior risco e devem ser evitadas.
Aqui também as interações com apixabana foram removidas, visto que ela parece ser segura para uso em pacientes com insuficiência renal. As interações com a ranitidina também foram removidas, por esta não estar mais disponível no mercado americano
E quais interações medicamentosas foram adicionados nessa lista?
A atualização dos Critérios de Beers de 2023 ressalta a preocupação das interações com relaxantes musculares em combinação com qualquer agente neurodepressor. Ainda, a toxicidade por lítio pode ocorrer em combinação com outras drogas, como inibidores da enzima conversora de angiotensina, bloqueadores do receptor de angiotensina ou diuréticos de alça.
Categoria 5: Medicamentos que necessitam de ajustes de dose
Nessa lista, são destacados os medicamentos que devem ser evitados ou reduzidos em pacientes com insuficiência renal.
Em caso de clearance de creatinina < 30 mL/min, reduzir ou evitar o uso de: ciprofloxacino, nitrofurantoína, sulfametoxazol-trimetoprima, amilorida, dabigatrana, enoxaparina, fondaparinux, espironolactona, triantereno, duloxerina, AINES, colchicina ou probenecida.
Se clearance de creatinina < 60 mL/min, evitar ou reduzir dose de: dofetilida, rivaroxabana, gabapentina, pregabalina, cimetidina, famotidina e nizatidina. Aqui, uma atualização em comparação a 2019 – os novos dados sugerem que o uso de baclofeno deve ser evitado em caso de insuficiência renal.
Se clearance de creatinina < 80 mL/min, deve-se evitar o uso de levetiracetam.
Aqui, fizemos um resumo sobre as principais atualizações dos Critérios de Beers de 2023. No nosso app WeMEDS® você consegue acessar a lista completa de medicamentos, assim como a bula detalhada de cada um deles e suas interações medicamentosas. Também é possível acessar o trabalho original nas referências, ao fim desse artigo.
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Referências:
By the 2023 American Geriatrics Society Beers Criteria® Update Expert Panel. American Geriatrics Society 2023 updated AGS Beers Criteria® for potentially inappropriate medication use in older adults. J Am Geriatr Soc. 2023 May 4. doi: 10.1111/jgs.18372. Epub ahead of print. PMID: 37139824.