Com o surgimento da variante Ômicron do coronavírus, uma preocupação é evidente: a perda da produção de anticorpos neutralizantes contra o vírus. Em meio a isso, alguns pesquisadores sugerem uma mudança de foco, e argumentam que mais atenção deve ser dada às células T.
Ômicron e a resposta imune
Já falamos um pouco sobre a variante Ômicron do coronavírus, em um post no início de dezembro do ano passado. Quase dois meses se passaram, e no ritmo de desenvolvimento que estamos, muitas atualizações surgiram.
O genoma da Omicron possui mutações, sendo mais de 30 na região que codifica a proteína spike, usada na maioria das vacinas contra a COVID-19. Isso significa que a eficácia dos anticorpos criados contra variantes anteriores pode ser comprometida. E de fato, uma queda nos níveis de anticorpos neutralizantes se correlaciona com um risco aumentado de infecção sintomática.
Alguns pesquisadores que trabalham na University of Cape Town, na África do Sul, estudaram variantes do SARS-Cov-2 e descobriram que, embora o coronavírus enfraquecesse as defesas de anticorpos, outro braço do sistema imunológico poderia ainda reconhecem os patógenos – as células T. O trabalho foi publicado na Nature em 11 de janeiro.
Mudando o foco dos anticorpos
Embora as vacinas atuais não atuem diretamente contra a Ômicron, não estamos vivendo um cenário semelhante ao início da pandemia. A pesquisadora responsável pelo trabalho comenta que provavelmente as células T sejam responsáveis pela eficácia das vacinas feitas pela Pfizer-BioNTech e Janssen na prevenção de hospitalização devido a uma infecção por essa variante.
Juntamente com os anticorpos, o sistema imunológico produz células T que podem atacar os vírus. Algumas delas, conhecidas como linfócitos T “killer” (ou células T CD8+), procuram e destroem células infectadas com o vírus. Outras, chamadas linfócitos T auxiliares (ou células T CD4+) são importantes para várias funções imunológicas, incluindo estimular a produção de anticorpos e células T CD8+.
As células T não previnem a infecção, porque só entram em ação depois que um vírus já está presente no hospedeiro, mas são importantes para eliminar uma infecção que já começou. No caso da COVID-19, as células T podem explicar a diferença entre uma infecção leve e uma grave que requer tratamento hospitalar, por exemplo. Ainda, podem reduzir a transmissão, restringindo a quantidade de vírus que circula em um paciente infectado, o que implica na menor liberação de partículas virais.
As respostas das células T foram correlacionadas com o aumento da proteção contra a COVID-19 grave em modelos animais e estudos clínicos em humanos, mesmo nas infecções causadas pelas variantes do coronavírus.
Isso é evidenciado pelo fato de que os níveis de células T não tendem a desaparecer tão rapidamente quanto os anticorpos após uma infecção ou vacinação. E como as células T podem reconhecer mais locais ao longo da proteína spike do que os anticorpos, elas são mais capazes de reconhecer variantes. “Ao que parece, muitas mutações não afetam a resposta das células T”, diz a chefe da pesquisa.
Ainda, células T são mais resistentes e executam uma variedade de funções imunológicas. Ao eliminar as células infectadas, as células T podem limitar a propagação da infecção – e potencialmente reduzir a chance de doenças graves.
Embora o grande foco desse grupo tenha sido as outras variantes (que não a Ômicron, que apresenta a maior taxa de mutações), diversas análises computacionais foram adicionadas. Ainda, vários grupos de pesquisa cruzaram as mutações dessa variante com locais no genoma do SARS-CoV-2 que são alvos conhecidos das células T. Eles descobriram que a maioria dos locais que as células T reconhecem estão presentes na Ômicron.
Outros estudos analisaram células T retiradas de pessoas que receberam uma vacina contra a COVID-19 ou foram infectadas com uma variante anterior e descobriram que essas células T podem responder a Ômicron.
Por fim, os pesquisadores argumentam a importância desses achados a longo prazo. As células T também podem receber mais atenção à medida que surgem mais variantes. Ao pensarmos na infecção, os anticorpos podem ser a medida mais importante a ser avaliada. Mas ao considerar doenças graves e progressão, ou mesmo manutenção de resposta a longo prazo, as células T se tornam muito mais importantes.
Conclusões
Esse aumento do número de variantes do coronavírus nos mostra como a imunidade baseada em anticorpos pode ser frágil diante de um vírus em mudança. Anticorpos neutralizantes se ligam a regiões na proteína spike SARS-CoV-2, usada como modelo para muitas vacinas COVID-19. Mude esses locais e a proteção do anticorpo desaparece!
Dados de realidade são necessários: os anticorpos também são mais fáceis de estudar do que as células T, tornando mais fácil analisá-los em grandes testes internacionais de vacinas. Porém, esse trabalho nos dá uma certa tranquilidade. Enquanto as novas vacinas estão sendo desenvolvidas, vamos confiar um pouco mais nas células T.
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Referências:
Heidi Ledford. ‘Killer’ immune cells still recognize Omicron variant. Nature. News. Jan 2022. doi: https://doi.org/10.1038/d41586-022-00063-0
Heidi Ledford. How ‘killer’ T cells could boost COVID immunity in face of new variants. Nature. News. Feb 2021. https://doi.org/10.1038/d41586-021-00367-7
Muito bom o artigo, pesquisando sobre esse assunto na
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