No fim do mês de outubro, um homem de 50 anos foi diagnosticado com raiva humana no Tocantins. O paciente foi internado e acabou falecendo após 20 dias de hospitalização.
Revise aqui as principais informações sobre a raiva humana, incluindo formas de transmissão, fisiopatologia e achados clínicos.
A transmissão do Vírus da Raiva ocorre pelo contato com a saliva de animais infectados
O vírus da raiva é transmitido ao ser humano através do contato com a saliva de animais infectados, como em mordeduras, arranhaduras ou lambeduras.
Em áreas urbanas, os principais transmissores são cães e gatos. No entanto, com a vacinação destes animais, o número de casos urbanos é raro, e a principal fonte de infecção da raiva humana é por contato com morcegos infectados.
No Brasil, ocorrem cerca de 3-4 casos de raiva humana por ano, grande parte da região Nordeste. Segundo o Ministério da Saúde, entre 2010 e 2014 foram registrados quase 50 casos de raiva no país, sendo metade causados por contato com morcegos.
Como identificar um paciente com Raiva Humana?
No local de contato (com a saliva do animal infectado), o vírus da raiva irá se multiplicar.
Como tem predileção por tecido neural, o vírus logo atingirá o sistema nervoso periférico, e posteriormente o sistema nervoso central (SNC). O período de incubação varia de 1-3 meses, sendo mais rápido quando o local acometido for mais inervado – por exemplo o rosto.
No sistema nervoso, o vírus provoca disfunção neuronal com instabilidade autonômica. Além disso, a infecção leva a um estresse oxidativo causando danos às mitocôndrias neuronais – justificando a encefalite aguda e progressiva observada.
Para identificar um paciente com raiva humana, podemos avaliar a evolução dos sinais/sintomas da seguinte forma:
Pródromos: duração de 2-10 dias.
Sinais inespecíficos como mal-estar, febre baixa, náuseas, dor de garganta, irritabilidade, ansiedade, vômitos, parestesias próximo da região de incubação.
Encefalite: duração de 2-7 dias.
Quadro de ansiedade e hiperexcitabilidade crescente, presença de febre, delírios, espasmos musculares, convulsões, disartria, disfagia, hiperacusia, fotofobia.
Quando o paciente ingere líquidos ocorre espasmo dos músculos da laringe, faringe e língua; aí no decorrer da doença, mesmo que apenas veja a água ou se faça menção dela, o paciente já apresenta esses espasmos – quadro conhecido como hidrofobia.
Além disso, apresenta hiperatividade do sistema nervoso autônomo: aumento da produção de saliva, lacrimejamento, sudorese, dilatação de pupilas, retenção urinária, obstipação intestinal. Os espasmos musculares podem evoluir para um quadro de paralisia flácida ascendente.
Coma/Óbito: o paciente se mantém consciente com períodos de alucinações até entrar em coma. Após o coma, o óbito vem em cerca de 1-3 dias.
Definição de caso de Raiva Humana segundo o Ministério da Saúde
De acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, um caso de raiva humana pode ser suspeito, confirmado ou descartado de acordo com alguns critérios:
- CASO SUSPEITO: todo paciente com quadro clínico sugestivo de encefalite, com antecedentes ou não de exposição à infecção pelo vírus da raiva.
- CASO CONFIRMADO: critério laboratorial ou clínico-epidemiológico.
Critério Laboratorial: caso suspeito com sintomatologia compatível de raiva humana, para a qual a imunofluorescência direta, prova biológica (cultura / isolamento viral em LCR), ou PCR (detecção molecular viral) foi positiva para raiva.
Critério clínico-epidemiológico: paciente com quadro neurológico agudo (encefalite), que apresente formas de hiperatividade, seguido de síndrome paralítica com progressão para coma, sem possibilidade de diagnóstico laboratorial, mas com antecedente de exposição a uma provável fonte de infecção.
Nos casos em que a suspeita de raiva humana for mencionada após óbito, sem diagnóstico laboratorial, a possibilidade de exumação deve ser considerada, pois há técnicas laboratoriais disponíveis que apresentam grande sensibilidade e especificidade.
- CASO DESCARTADO: todo caso suspeito com imunofluorescência direta e prova biológica negativas ou que, durante a investigação, teve seu diagnóstico confirmado laboratorialmente por outra etiologia.
A raiva humana é uma condição altamente letal
Muitas vezes, a raiva humana é de difícil diagnóstico, e cerca de metade dos casos são diagnosticados post-mortem.
Mais de 99% pacientes acabam indo à óbito cerca de 2 semanas após o início do quadro, usualmente decorrente de asfixia, parada cardiovasculares, convulsões descontroladas, encefalite etc.
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A vacinação contra raiva é, sem dúvidas, a melhor forma de prevenir a doença.
Além de vacinar animais domestéticos, a vacina pré-exposição é indicada para os pacientes com risco de exposição permanente ao vírus da raiva – como veterinários, biólogos, agrônomos, carteiros, além de pessoas que atuem na captura e contenção de animais de risco e indivíduos expostos em áreas endêmicas.
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Referências:
Brenda Santos, G1 Tocantins. Paciente diagnosticado com raiva humana morre após 20 dias internado. Publicado em 11/11/2024. Disponível em: https://g1.globo.com/to/tocantins/noticia/2024/11/11/paciente-diagnosticado-com-raiva-humana-morre-apos-20-dias-internado.ghtml. Acessado em 11/11/2024.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Raiva Humana. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/r/raiva/raiva-humana. Acessado em 11/11/2024.
DeMaria, Alfred. – Clinical manifestations and diagnosis of rabies. In: UpToDate, Post TW (Ed), UpToDate, Waltham, MA.
Hemachudha, T., Ugolini, G., Wacharapluesadee, S., Sungkarat, W., Shuangshoti, S., & Laothamatas, J. (2013). Human rabies: neuropathogenesis, diagnosis, and management. The Lancet. Neurology, 12(5), 498–513. https://doi.org/10.1016/S1474-4422(13)70038-3